Capitulo 1

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Era a décima faxina daquela semana, o corpo dela estava exausto. Os sacos de lixo tinha o dos piores odores da terra. Humano não era. Ao som da música Girls Just Want to Have Fu, que vinha da casa vizinha, pode sentir que nem a alegria daquela música podia animá-la.

_Júlia? – a dona da casa que estava limpando a chamou.
_Sim, Dona Lídia – havia acabado de deixar o lixo em uma caçamba, entrou pelo o portão principal e pode observar a glória daquela casa – pode dizer.
_Aqui está – entregou um envelope branco que estava preenchido com algo volumoso – obrigada pelo serviço.
_Sexta no mesmo horário? – perguntou como todas as vezes.
_Claro, boa tarde.
_Boa tarde.

A Júlia pegou sua mochila com alguns produtos de limpeza, guardou o envelope dentro do sutiã e seguiu em direção a saída daquele condomínio, que infelizmente não deixava que motorista da uber entrasse para pegar as pessoas. Enquanto ia se afastando da residência percebeu que o marido da Lídia a encarava, e mesmo ele estando no segundo andar da casa, dava para perceber que não era com bons olhos. Ela se arrepiou... Lembrou-se da última sexta feira.

                                      •••

Na sexta feira, o senhor Carlos Machado a abordou enquanto limpava o chão da sala de jantar:
_Ocupada, Júlia? – perguntou.
_Um pouco Dr. Carlos – ainda olhava para o chão e não viu o sorriso que ele carregava no rosto.
_Preciso que limpe o meu escritório agora – ao perceber que estava usando tom de voz autoritário ele mudou deixando sua fala  como um pedido – por favor, é só para tirar a poeira.
A faxineira podia ter dito que faria isso depois de terminasse a limpeza naquele salão, mas ela pensou que ele fosse com alguns padrões que quando pedem por urgência em tal cômodo acabam dando um dinheiro a mais – Júlia havia tido uns três clientes assim, então ela esperava por isso.

Ela entrou no escritório e começou a tirar a poeira dos móveis e livros, tendo como objetivo terminar naquele começo para voltar a faxina normal acabou percebendo que o Carlos Machado havia trancado o escritório – havia somente aquela entrada /saída.

_Minha esposa foi para onde? – questionou enquanto fingia arrumar a  papelada em cima da mesa.
_A dona Lídia foi para a casa da mãe – disse tentando não demonstrar nervosismo, pois era a primeira vez que vinha a aquela casa sem a presença da mulher dele.
_Disse que horas voltava?- desistiu de arrumar os papeis.
_Na hora do almoço – ele começou a vim em sua direção aflita começou a falar sobre o almoço – deixei o feijão no fogo e o frango eu preciso desfiar.
O doutor se aproximou ainda mais até que Júlia sentisse a parede fria em suas costas. Ele colocou sua mão na parede fazendo uma barreira para que a faxineira não fugisse. O medo era tanto que ela nem conseguia olhar nos olhos dele.
_Oito mil, aceita? – sussurrou em seu ouvido.
_Do que está fala... falando – gaguejou.
_Daqui a quinze dias o deputado estará na minha casa e ele trará seu irmão – com sua mão direita tocou nos lábios dela, Julia estremeceu – ele é um convidado de honra e ele tem desejos.

Carlos Machado se aproximou forçando um beijo, e com a força que não tinha, Júlia o empurrou conseguindo fugir dele. Foi até a porta, por sorte a chave estava na tranca, conseguiu abrir a porta e antes que saísse escutou a voz dele dizendo “espero por um sim”.
                                      •••


Depois de duas horas pegando três ônibus para chegar a sua humilde residência: um quarto minúsculo no subúrbio da metrópole mais badalada de Martins. Na sua porta havia um mar de boletos , recolheu todos – no caso começou a chutar todos para dentro de casa – jogou sua mochila no chão e soltou um grande suspiro.

Antes que o cansaço lhe vencesse, a fome já havia lhe atacado. Correu para cozinha e encontrou dois limões, uma garrafa de água e a fome muito bem organizados naquela geladeira minúscula. Havia esquecido de comprar comida.

E antes de se xingar, ouviu batidas na porta e uma voz bem familiar começou a lhe chamar. Do jeito que estava: com um cabelo sujo, os pés no chão e uma cara que parecia mais o rio Tietê – ela foi lá e abriu a porta.

_Antony! – disse nada surpresa, já que sabia que seu amigo lhe visitava quase toda noite.
_JÚLIA PELO O AMOR DE FÁTIMA – disse ao berros – quem te atropelou?
_A sua mãe – ela pegou a pequena travessa de lasanha que ele tinha em mãos – entre logo.

Seguindo a amiga, o Antony percebeu que não era só a sua amiga que está destruída, a casa também está em estado deplorável. Júlia levou o recipiente até a mesa, pegou dois pratos e serviu a lasanha de carne ao molho branco.

_A cara disso está maravilhosa – a sua fome disse em voz alta.
_E foi nesse estado que ele te deixou? – perguntou o amigo.

A pergunta cortou a vontade de comer, ela não conseguiu olhar no rosto dele. Havia mentido para o amigo, pois não conseguiu resolver as dívidas com os bancos, precisou vender alguns móveis para ter o aluguel do mês e se matar fazendo faxina não aliviava os problemas financeiros – muito menos os psicológicos.

_Minha mãe tá preocupada – ele ergueu os braços sugerindo que ela podia vim para o abraço amigo.
_Desculpa por mentir – ela o abraçou e começou a chorar.

Um choro com muitas lágrimas e gritos de dor. Antony a abraçou ainda mais forte e beijou o topo da sua cabeça. Sentia muito que sua amiga tivesse passado por tudo aquilo.

Havia conhecido um homem que no começo foi um amor de pessoa, porém era um estelionatário que sujou o nome da amiga, roubou seu carro e a deixou na miséria. Faziam seis meses que ela tentava se recuperar, e vem mentindo a dois meses sobre ter melhorado.

O amigo a sentou na cadeira, limpou as suas lágrimas, pegou o gafo e colocou na mão dela. Ele sabia que a faxineira não havia comido nada naquele dia.

_A comida vai alegrar o seu dia – puxou o prato para próximo a ela – mãe fez com muito amor.
_Dona Vera é um amor – não conseguiu falar mais, pois começou  comer rapidamente como se sua vida precisasse disso. Na verdade, precisava e muito.
_Falando dela – Antony se ajeitou naquela cadeira – ela perguntou se você podia tomar conta da casa da família.
_Aquele casarão é muito grande e fica na cidade vizinha – comentou de boca cheia.
_Essa não – corrigiu – a casa fica perto da avenida principal próximo ao centro.
_Mas porque ela quer que eu cuide de lá? – perguntou curiosa.
_A sua situação: não precisaria pegar aluguel e isso ajudaria muito né? – Era um dos motivos, mas ele não quis falar o motivo principal.
_A casa que você ganhou como herança, não é mesmo? – ela parou de comer e observou seu amigo se engasgar em sua frente.
_Com sabe disso? – ele perguntou surpreso.
_No dia que leram o testamento de sua avó, a sua prima me ligou e comentou que todos ficaram surpresos que você havia levado algo como herança – ele observou que Antony havia ficado triste – ela gostava um pouco de você.
_Mas nunca aceitou quem eu fosse – ele lembrou das humilhações que sua avó havia lhe feito. Ela era muito homofóbica – eu não sei o que vou fazer com a casa, mas quero lhe ajudar.
_Ok, eu sei – ela tocou na mão dele que estava sob a mesa – posso fazer a mudança quando?
_Amanhã mesmo – abriu um sorriso  - a papelada tá todo em ordem, não precisa se preocupar.

Eles terminaram de jantar, logo depoi foram procurar caixas e guardar alguns objetos. Antony iria dormir na casa dela para adiantar na mudança. Após guardarem alguns itens em algumas caixas, ambos se jogaram no sofá e começaram a beber alguns cervejas que ele havia pedido por aplicativo.

_Só falta viramos bêbados sem futuro – ele riu alto – quer saber o que sobre a casa?
_Agora ler mentes? – Júlia sabia a forte ligação que ambos tinham – a casa e grande? Tem quintal? É murada? E os vizinhos?
_Tem dois quartos, um quintal murado e mesmo sendo uma rua grande você tem poucos vizinhos – tentou de lembrar dos nomes – tem um casal que é ao lado da casa.
_Pessoas boas?
_Gays, não tem confusão.
Ela virou o resto da cerveja.
_São melhores que os conservadores. 

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