Capítulo 4

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O celular tocava loucamente, Júlia estava na área de serviço lavando uma das suas últimas peças roupa suja de óleo. Por uma leve distração percebeu que o celular tocava, correu até a cozinha e o viu a chamada com o nome Antony. Atendeu rapidamente:

_Isso é hora de ligar? – gritou para que sua raiva fosse evidente - corno.
_Precisa gritar? – gritou revoltado – o que aconteceu?
_Por que não me disse que havia pedido pro vizinho limpar o quintal? – questionou. Ela escutou a voz de suspiro do amigo – sabia.
_DESCULPA – disse lentamente – acabei me esquecendo.
_E eu acabei passando uma vergonha – novamente lembrou do fato constrangedor – peguei uma vassoura e fui pra cima.
_Machucou alguém? – tentava segurar a risada – mas não se preocupe, eles são gente boa.
_E gostosos.
_Sabia que ia iria gostar, mas não é para o seu bico.
_Falando em algo gostoso sonhei com você ontem – comentou – daquela vez na festa.
_Aí por favor – gargalhou alto – três semanas depois de ter tirado seu cabaço me assumir e...
_Fugiu para a casa do seu amante no Rio – completou a frase que sabia de cor – pelo menos a minha buceta serviu para algo bom.
_Que comentário depressivo.
_É verdade – ela preferiu mudar de assunto – volta quando?
_No final do mês, não me espere acordada.
_Tá bom, QUERIDO.

Desligou a ligação, mas continuou olhando fixamente para o aparelho. Aproximou o objeto no seu peito, e sorriu. Por mais que o mundo estivesse se acabando em desgraça somente o Antony poderia salvar, infelizmente a família dele não o apoiou – até onde ela sabia somente a irmã caçula mantém contato, mas seu amigo não comentava muito sobre isto. No início ela ficava brava, contudo, com o tempo preferiu deixar Antony com suas dores... cada uma sabe como lidar, ou imaginar saber.

Júlia tinha que trabalhar e foi o que fez: na segunda estranhou os limites e aceitou três faxinas. Mal comeu e muito menos lembra a hora que foi dormir, simplesmente apagou. Na terça e quarta maneirou optando por uma faxina por dia. A quinta estava indo normal: conversava com o amigo, os vizinhos eram bem reservados e a casinha já estava ao seu agrado. Só que nada é tão perfeito que o destino não chegue e estrague.

A faxineira havia acabado de jantar, ouviu batidas na porta e uma voz masculina chamou o seu nome.

_Júlia – a voz era conhecida.

A mesma tremeu na base: sabia quem era e o que queria. Lentamente foi até a porta de madeira, e que estava trancada, os seus passos era leves para que quem estivesse do outro lado da porta não sentisse que ela estivesse se aproximando. Júlia segurou a respiração e abriu a porta:

_Cortez? – ela tentou disfarçar o seu medo – a quanto tempo?
_Mudou de casa e nem iria me avisar? – ironizou, era uma pergunta retórica – não faça isso.
_Você sabe que tenho muito gosto por você – ela continuava parada impedindo que ele entrasse – o tempo está quente hoje, né?
_Seu gosto é burro – começavam as ofensas – porque se não fosse, eu não estaria aqui perdendo o meu tempo – tocou no relógio simulando que via as horas.
_O mesmo de sempre? – ele concordou com a pergunta.

Júlia desabotoou os primeiros botões a blusa exibindo assim o sutiã vermelho, com um única mão retirou um envelope branco do meio dos seios. Cortez observava a cena estarrecido e eufórico, ele gostava daquele teatrinho.

_Quinhentos como prometido.
_Ainda continua a mesma safada de sempre – ele ria e debochava dela – daqui a quinze dias eu volto.
_Espere – interrompeu a saída dele vitorioso – quanto ainda falta?
_Quatro mil – deu um sorriso amarelo e saiu.

Assim ela viu os últimos trocado voarem como vento, não havia restado quase nada. No dia seguinte teria que começar a guardar dinheiro de novo... e de novo. Após perder de vista o carro do agiota, Júlia se sentou no chão e derramou algumas lágrimas.

_Como eu pude ser tão burra? – soluçava.
Havia se relacionado com um homem que não só destruiu sua vida pessoal, mas como a financeira. E está última estava a afundando.

6 meses atrás – últimas lembranças agradáveis

_Amor, você volta que horas do jogo? – gritou Júlia enquanto o namorado arrumava a mala do carro – César?
_Júlia, amor – ele parou o que estava fazendo e foi até ela – não se preocupe.
César era um homem alto, boa pinta e muito gente boa. Fazia amizade com qualquer um e tinha opinião sobre tudo, mas o que chamava a atenção da namorada era a capacidade de convencimento que ele tinha quando queria alguma coisa.
_Chego antes que sinta a minha falta – beijou seus lábios de forma rápida – é pra trazer um doce?
_Barra de chocolate – trocaram mais selinhos – e cuide do meu carro.
Foi a última vez que ela viu o carro, sentiu paz e viu o tal do César. No mesmo dia a polícia invadiu sua cada a procura do “namorado perfeito”, três dias depois os bancos entraram em contato para informar as dívidas milionárias – empréstimos com valores altíssimos – e na mesma semana conheceu o agiota.

As lembranças vinham como veneno na sua alma quando se deu conta já fazia mais de uma hora que estava no chão na entrada de sua nova residência.

Sem perceber, Mateus havia chegado do trabalho, e de longe observava sem entender o porquê da sua nova vizinha estar chorando na porta de casa – sabendo que estava invadindo a privacidade alheia optou por andar rapidamente até a sua casa, porém não tirou os olhos da mulher. Os seus olhos seguiram cada movimento dela: ao se levantar, ao verificar ela olhando para os lados e arrumar a sua roupa.

O vizinho percebeu que a blusa de Júlia estava aberta mostrando o volume dos seios e o sutiã vermelho. Por um breve segundo ele sentiu aquele fogo da época de solteiro, não soube o que fazer com aquilo, mas certamente iria contar para William.

Ela sentiu o orgulho ferido, e sabendo o que deveria fazer, adentrou sua casa. Ao tocar no celular discou o número do Dr. Carlos Machado. A ligação chamou duas vezes até que a foi aceita:
_Oi? – atendeu.
_Doutor Carlos – ele reconheceu a voz – aquela proposta ainda está de pé?
_Sim – falou baixo – amanhã falamos melhor. Boa noite!

Ele desligou a ligação. Agora a faxineira teria que fazer o trabalho sujo para depois limpá-lo.

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