Capítulo 12

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O calor do dia era amenizado pelas brisas vindas do mar, ao longe Antony dava em cima do vendedor de picolé e Júlia se divertia ao ver toda a cena de longe. Ao seu lado, jogado em cima de uma toalha de praia estava Mateus coberto de protetor solar e usando o seu óculos prateado – e de bunda empinada para ela.

“É muito difícil resistir” a sua voz interna gritava.

E o William? Este havia saído a meia hora para trazer algumas bebidas de marcas famosas que havia esquecido no carro.

Novamente a sua visão lhe traia, ela olhava para a bunda do vizinho. De repente sentiu a necessidade de comer algo doce, e como não tinha, resolveu procurar sua carteira.

_Merda – não havia encontrado sua carteira dentro da bolsa de viagem.

Sabia que teria que refazer os seus passos, então teria que retornar até o carro que estava no estacionamento bem longe. Assim fez, olhava cada parte do chão com o objetivo de encontrar sua carteira e os vinte reais que haviam dentro dela.

Ao chegar perto do veículo a qual havia vindo até a praia se deparou com o porta-malas aberto e o massagista sentado no mesmo de cabeça baixo.

_Tudo bem? – perguntou preocupada – aconteceu algo?
_Eu não consigo – a sua voz trêmula revelava que estava abalado – já faz tanto tempo.
_O que aconteceu? – ela jogou a bolsa dentro do porta-malas, sentou ao lado dele e segurou as suas mãos.
_Fui eu que o trai – disse em voz alta e aos prantos – e não tem nada haver com a sua quase pregação com ele.

“E ele já sabe?” ficou incrédula que Mateus contava tudo mesmo ao marido.

_Will – o chamou na tentativa de amenizar o clima – aquilo nem era pra ter acontecido.
_Era sim – segurou firme em suas mãos – ele colocou uma fé que você iria salvar o nosso casamento, mas eu ferrei tudo nessa merda.
_Do que está falando, criatura? – pensou sem entender nada.

O homem moreno que sempre demostrava ser forte e calculista está ali na sua frente da forma mais sensível possível. Ele respirou fundo e se preparou para a contar toda a história.

_A uns quatro anos atrás eu estava focado no trabalho, fazia muitas massagens e vivia no escritório – ele pegou a latinha que estava ao seu lado e bebeu um gole na tentativa de tomar coragem de dizer aquilo – tinha uma funcionária, a Sabrina, que sempre ficava até mais tarde e me ajudava em tudo – bebia mais um gole – eu estava com tesão acumulado, Mateus estava terminando de concluir sua clínica e a Sabrina sempre lá.
_Trepou com ela, não foi? – As vezes a Júlia sabia ser curta e grossa.
_Algumas vezes – continuava a se confessar – logo ela pediu demissão, o meu amor voltou a rotina normal e a vida seguiu.
_Você tem que a contar para o Mateus.
_Tem mais.

O comentário a deixou surpresa, ele a entregou uma latinha de cerveja e Júlia virou a bebida quase toda. A verdade tende a ser uma soco que precisa de anestesia.

_Meses atrás a irmã da Sabrina me procurou, me contou que ela havia sofrido um acidente – ele pausou sua fala tentando contar tudo de uma vez – Sabrina deixou uma filha.
_Quê? – Júlia não sabia qual reação ter. Se ficava incrédula ou com raiva – como assim?
_Mês passado fiz o teste de paternidade – terminou de ingerir o álcool – sou o pai da menina de Sabrina.
_Meu Deus – ela fez o sinal da cruz com a lata de bebida – e agora?
_A família não quis ficar a criança, o juiz determinou que a guarda fosse minha – ele se esticou e pegou mais uma cerveja – amanhã cedo o promotor e a assistente social vão levar a  menina na minha casa.
_Jesus – viraram as bebidas em sincronia – por que esta me dizendo tudo isso?
_Quando eu contar para ele certamente vai me exclusar de casa – confessou.

Ela nem precisou falar, sentia tudo aquilo que o vizinho havia lhe contado. Dói até nela mesma. Júlia sabia que deveria dizer alguma coisa, mas o que se diz em uma situação dessas?

Ambos continuaram a beber como se isso fosse resolver alguma coisa... porém sabiam que iria aliviar.

O que era para ter sido um dia normal na praia após uma noite prazerosa e inusitada, acabou se tornando mais um fatídico dia – daqueles que acabam com a felicidade de qualquer um. A faxineira havia jogada todas as suas apostas que ao vestir aquele biquíni iria seduzir de vez o casal, mas ela não esperava que o universo fosse fazer o seu plano cair.

Ao retornarem para a praia encontraram Mateus e Antony bêbados jogado na areia quente da praia. Eles riam como tivessem em um show de comédia. Júlia olhou para o massagista, o viu balançar a cabeça tentando eliminar alguns pensamentos e abrir um sorriso.

_Amor – ele chamou Mateus – se levante daí aí .

O ginecologista ria ainda mais alto. Antony finalmente diminuía as risadas e começou a olhar para os lados, até que finalmente, encontrou quem estava procurando.

_Gostosa – se levantou do solo onde estava em uma velocidade absurda – vou te comer.

O amigo jogou o seu corpo contra o dela fazendo com os dois caíssem feio na areia quente.

_FICOU DOIDO? – gritava – quer me matar?
_Te amo – de repente ele o surpreende com um beijo molhado.

William ficou confuso, Júlia surpresa e Mateus soltava altas gargalhadas. A cena era cômica... um pouco de alívio para aquele dia confuso.

Eram duas da tarde quando foram chegar em casa, Will teve que colocar em prática suas habilidades de massagista para que pudesse tirar os dois homens de quase dois metros de altura de dentro do carro. Júlia o ajudou a colocar eles nos sofás da sala – era o lugar mais perto que havia para depositar aquele dois corpos bêbados.

_Cerveja? – convidou o vizinho.
_Sim.

Depois de um dia como aquele, a bebida era única forma que tinha para se livrar do peso que sentiam. Ela abandonou sua bolsa de pano no chão da cozinha, pegou a cerveja já aberta das mãos do Will e respirou pesadamente.

_Até quando tudo isso? – ocasionou um reflexão sem pretexto.
_Até a ressaca chegar – a resposta fez ambos rirem – nada é para sempre.
_Filhos são – o comentário o pegou com jeito.
_Eu vou contar para ele.
_Quando? – ela abandonou o recipiente em cima da mesa – quando o promotor chegar com a sua filha aí você vai dizer “amor, essa é a minha filha, eu te traia anos atrás, e agora temos que criá-la”.

Ele abaixou a cabeça e sentiu a vergonha lhe consumir, sabia que Mateus nunca faria nada daquilo que havia feito. O arrependimento esmagava cada parte do seu ser.

_Tem razão – continuou com a cabeça baixa.

Ela se sentiu mal, pois não era comum para si dizer tantas verdades em uma única frase principalmente com para uma pessoa que menos de vinte quatro horas ela queria transar até ficar sem buceta. Assim, Júlia escolheu pelo o silêncio, sabia que por mais que jogasse os fatos no rosto dela não mudaria toda a situação.

_Transou com Antony? – pergunta saiu na tentativa de aliviar o clima e matar a curiosidade que Will sentia.
_Já sim – se tivesse bebendo certamente teria cuspido o líquido – como sabe?
_O jeito que ele te pegou lá na praia.

Ficaram trocando olhares como se um tentasse ler a mente do outro, mas era impossível. Contudo, Júlia sabia o que fazer: pegou a sua bolsa que estava no chão, prendeu os cabelos em um rabo de cavalo frouxo e se despediu do vizinho. Foi até a sala e viu o amigo dormindo.

“Durma com os anjos da ressaca, meu amigo” sua mente repetiu a frase inconveniente que Antony sempre lhe dizia.

O William não fez nada, observou a amiga sair de sua casa e perceber o silêncio ser interrompido pelos pensamentos da sua cabeça.

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