Capítulo 10

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    O dia estava nublado e parecia que a qualquer momento uma nuvem iria descarregar toda sua raiva na cidade. Alguns trovões eram a prova de que a qualquer momento eles teriam que ir pra alguma lugar coberto, porque o cemitério era totalmente exposto e aberto. Era estranho estar ali tão perto de uma pessoa que você ama, e saber que ali não tinha nada além do corpo dela. Era extremamente confuso estar com a pessoa em um dia, e do nada no outro ela não tá mais aqui. Fazia uns minutos que eles tinham jogado a terra pra cobrir aquela caixa enorme de madeira, e estavam só encarando aquela lápide com o nome e data que nasceu e morreu.

    A relação de Lucas e Janaína ainda era uma dúvida pra Maraisa. Ela não fazia ideia de como eles se conheceram, ou como combinaram de sair daquele lugar, e ainda resgatar outra pessoa. Eles ficaram ali por mais um tempo, em silêncio, e depois resolveram ir embora. Ninguém falava nada, ou perguntava nada, nem cantarolava nada. Nenhum barulho, nem os passos, ou as respirações. O mundo parecia ter parado, tudo estava em silêncio, e era sufocante. Quando se aproximaram do carro, todos pararam juntos, Lucas suspirou deixando óbvio que queria falar alguma coisa, e todos esperaram o tempo dele.

    Ele virou de costas tentando respirar fundo quando começou a soluçar mais alto, e Miguel ficou do lado dele, não disse nada, só mostrou que estava ali. Gabriel abraçou a metadinha dele, e Gustavo a dele. Quando Lucas se acalmou, ele respirou fundo, e olhou pra Maraisa.

    – Eu sei que você deve tá se perguntando como a gente se conheceu. Já que ela nem era daqui. – Maraisa assentiu. – Eu fui na boate uma vez, sem intenção ruim. Eu só fui. E acabei ficando com ela.

    – Você o quê? – Ela negou se soltando dos braços de Gabriel, mas ele segurou a mão com medo dela voar na cara dele – Você é igual todos eles!

    – Não, calma. Juro que eu não forcei ela a nada. Eu estava com alguns amigos, e eles fizeram quase um segundo leilão pra ficar com ela e eu me recusei a deixar um deles ficar com ela, e eu fui. – Ele limpou uma lágrima – Assim que cheguei ela já estava pronta. Mas eu não queria ir direto ao ponto, eu queria conversar com ela, queria ter certeza que ela queria fazer aquilo, e ela não queria.

    Lucas se lembrou do exato momento, e do olhar pesado de Janaína. Se lembrou de como ela parecia triste e cansada. Seu olhar expressava tanta dor, que Lucas quase podia tocar nela.

    Flashback Started •

    – Se você não vai fazer nada eu vo...– Lucas segurou a mão dela.

    – Espera. Eu só quero conversar.

    – Conversar? Você pagou por isso? – Sorriu – Olha, acho que na cidade deve existir bons pscicologos.

    – Não é isso. Olha só, pode parecer que sim, até porque eu estou aqui. Mas eu juro que não sou igual os outros caras lá fora. – Janaína analisou ele, e deu de ombros.

    – É, realmente. Eu tô quase nua na sua frente e você nem olhou pra baixo. – Falou – Ok. A gente pode conversar.

    – Pode sentar aqui, eu não mordo. – Bateu no espaço vazio na cama.

    Janaína ainda se sentia um pouco desconfiada, mas não tinha o que fazer. Se ele fosse um idiota, pelo menos não iria vê-lo nunca mais. Ela suspirou sentando do lado dele, e esperou que ele dissesse algum coisa.

    – Você tá bem? – Janaína olhou pra ele – Eu sei que não temos nem um pouco de intimidade pra esse tipo de pergunta. Mas seus olhos estão pesados, e eu odeio ver qualquer pessoa assim. E se um daqueles idiotas viessem aqui, nem se quer se importariam em perguntar isso pra você.

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