Capítulo 3

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    A mentira é sufocante. E mais sufocante ainda, quando ela se torna algo tão grande, que você nem sabe se você realmente é você. As pessoas nos escondem coisas sérias, e que com certeza, se fossem contadas, nos fariam pessoas diferentes. Era estranho descobrir que as pessoas que mais deveriam te amar, esconderam boa parte da sua vida por quase 20 anos. Era um saco entender que quando falam pra você não confiar nem na sua sombra, as pessoas não estão mentindo, estão é tentando te alertar sobre a dor que vai ser quando você for traído por qualquer pessoa.

    As meninas estavam tão confusas ainda, não sabiam em quê acreditar. Embora a verdade estivesse ali, na frente delas, ainda tinha tudo que viveram juntos guardado na memória delas. Aquilo foi uma mentira, mas as memórias guardadas não são ruins, muito pelo contrário, elas viveriam tudo aquilo de novo. Não conseguem entender o que aconteceu pra estarem ali agora, e não com a família biologica. Porque as sequestraram? Porque não permitiram crescer com a família biologica? Porque não contaram a verdade? Eram tantas perguntas que elas sentiam que ficariam loucas.

    Geralmente alguns pais esperam o filho completar 18 anos pra contar algo bom, ou ruim relacionado a família. Mas elas estão perto de completar 20, não conseguem entender o que causou aquilo. Maiara já se sentia melhor, e Maraisa estava começando a entender o que estava acontecendo. Sua ficha começou a cair aos poucos, ela sentia seu pulso acelerar, e sua visão embaralhar pelas lágrimas.

    – A gente foi sequestrada! – Falou se levantando – Fomos sequestradas. – Repetiu. – Meu Deus! – Olhou ao redor – O telefone.

    – Não, Maraisa.

    – Eu quero saber a verdade!

    – Para! Pensa direito! – Maiara seguro nos braços dela – Se você contar agora tudo que a gente sabe, vai piorar. Eles não vão deixar a gente ir atrás dos nossos pais biológicos.

    – A gente é de maior. – Maiara negou.

    – Não importa, eles continuam mandando em nós. Então vamos esperar, por favor! A gente precisa descobrir nomes, endereço, e depois que tivermos tudo, colocamos na mesa.

    Maraisa continuou calada. Era muita coisa pra ela digerir. Seus pensamentos estavam acelerados demais, seu interior brigava, implorava por resposta.

    – Maraisa, por favor. Pensa direito. A gente quer encontrar eles, então não podemos contar. – Maiara balançou ela.

    – Será que esses são realmente os nossos nomes?

    – Não muda de assunto. Me promete que vai ficar de bico calado.

    – Eu prometo. – Ela falou – Cara, a gente nem sabe se temos realmente esse nome. Idade, data de nascimento.

    – Calma.

    – Irmã, se eles esconderam isso, tem muitas outras coisas.

    – Maraisa...

    – Eles podem ter mentido sobre tudo. Por todos esses anos. – Ela falou agitada – Precisamos de um celular, de computadores, precisamos descobrir quem são nossos pais.

    – Irmã, calma! – Maiara segurou os braços dela – Olha pra mim! Respira!

    – Eu não consigo.

    – Olha pra mim! Calma.

    Com o mal estar de Maiara, ela acabou esquecendo de si mesma, deixando acumular e vir tudo de uma só vez. Seu coração estava totalmente disparado e suas mãos tremiam muito. Ela não sabia se focava na voz de Maiara, ou nas mil que estavam em sua cabeça.

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