Capítulo 8

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   Com os corações disparados, a mil por hora Lucas não parou o carro, ele só diminuiu a velocidade quando viu que Jon havia sumido. Os gritos estéricos deixavam todos dentro do carro agoniados. A dor era apavorante, Maraisa e Jana tentavam estancar o sangue mais aquilo parecia impossível. Elas não sabiam que dentro de uma pessoa havia tanto sangue, parecia loucura. Nos primeiros segundos Maraisa não sabia o que fazer. Sua cabeça parecia pensar em tudo, menos no presente. Sua cabeça passava um enorme filme, mas em nenhum momento ela conseguiu se lembrar de coisas boas.

    Maraisa se perguntava quando tudo ficaria bem. Nem sabia se isso ainda era possível. Tudo pareceu estar organizando pra desmoronar junto com o descobrimento do sequestro. Aquilo foi o estopim, depois daquilo, tudo deu errado na sua vida. Maraisa se perguntava se ela era amaldiçoada, porque mesmo quanto tudo parecia estar bem, alguma coisa acontecia pra mudar aquilo. Com o disparo não veio só o medo, veio os flashs, o desespero, os questionamentos, tudo estava uma bagunça.

    Ela ouviu o disparo, viu a marca dele, viu o sangue, e por um minuto achou que tinha afetado ela; e no momento ela só pensava no bebê. Mas assim que olhou pra baixo, viu que o sangue não vinha dela, vinha de Janaína. Os olhos de Maraisa se encheram de lágrimas assim que ela olhou pro rosto da amiga, e viu ela com dificuldade de respirar enquanto gemia de dor. Ela tentou controlar o sangue, mas quase desfez o que fez pelo grito que Jana deu.

    – Shiiii, Shiii. – Sussurrou chorando – Calma. Não se mexe, por favor.

    – Você precisa...precisa se cuidar. – Ela falou – Cuida do...ai. – Levou a mão pra barriga – Cuida do bebê.

    – Jana, para. Não se despede. – Maraisa pediu com os olhos transbordando – Não se esforça, por favor.

    – Tá doendo, Cay.

    – Eu sei. Mas respira, por favor, respira. A gente vai pro hospital.

    – Eu amo você. – Jana falou sentindo corpo pesar.

    – Não, Jana. Não fecha os olhos. Não fecha os olhos.

    Janaína começou a desfalecer aos poucos, e por mais que Maraisa chamasse ela ou tentasse fazer ela reagir de alguma forma, Jana não acordava. Ela nem reclamava de dor mais. Maraisa não sabia se chorava, ou se tentava acordar amiga. Mas assim que teve a certeza que ela não acordaria, ela deixou o choro tomar conta. Sua alma gritava por ajuda, ela não aguentava sentir aquela dor. Quando uma ferida finalmente estava prestes a parar se sangrar, outra se abria. Era sempre uma roda-gigante, mas a maioria das vezes ela estava lá em baixo.

    O carro ficou em repleto silêncio, só se ouvia os soluços de Maraisa. Eles iriam pro hospital porque teriam que fazer todo o processo até conseguirem a liberação pra fazerem um funeral. Na verdade, só enterrariam. Ela não tem família na cidade, tinha a filha, a Luna. Assim que chegaram no hospital, Lucas abriu a porta do carro mas não quis abrir a de Maraisa, prefiriu chamar Gabriel pra fazer isso. Miguel saiu do carro também, mas não entrou no hospital. Gabriel quase correu quando viu o amigo, mas sua animação acabou quando ele olhou pra cara de Lucas, e viu uma certa dor no olhar dele.

    – O que foi?

    – No percurso o Jon seguiu a gente e começou disparar contra o carro. – Ele curvou a cabeça – Ele mantou a Janaína. A única amiga que a sua namorada tinha lá dentro.

    – Onde ela tá?

    – No carro, com a Janaína no colo, e ela não fala nada. Só chora. Acho que...

    Antes que Lucas terminasse, Gabriel correu até o carro e assim que viu Miguel assentir, ele abriu a porta dando de cara com a sua namorada totalmente paralisada. Ela estava com o rosto molhado em lágrimas, e a roupa suja de sangue. Maraisa nem percebeu que Gabriel estava ali. Ela estava presa em outro mundo. No mundo em que achou que sua vida poderia dar certo, mas aparentemente isso nunca aconteceria.

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