Gabriel estava louco pra voltar pra casa. O dia no hospital que deveria ser só 24 horas, viraram 72. Ele estava bem, pronto pra ir embora, mas a incisão abriu e tiveram que suturar outra vez. Obviamente ele ficou irritado. Aquela era a coisa que ele mais odiava no mundo, hospital. Durante todos esses dias a mãe dele dormiu com ele, e Maraisa ia durante a tarde, ficava um pouco, Gabriel lia pro Matteo, conversava com ele, e aproveitava cada minuto. Era estranho ter que acreditar que os planos feitos pro filho não vão se realizar, mas ele estava tentando assimilar aos poucos.
– Mamãe, pode me ajudar? – Gabriel chamou a mãe assim que percebeu que não conseguiria vestir a blusa sozinho. Erguer o braço era difícil com o corte, até respirar doía um pouco.
Bete soltou o celular assim que enviou a mensagem avisando que tiveram alta, e se aproximou do filho pra o ajudar com a blusa. Ela também não gostava muito de hospitais, todas as vezes que estava em um se lembrava do seu pai, que havia morrido a 4 anos atrás de câncer. Eles eram muito apegados, principalmente os meninos. Foi uma dor insuportável pra todo mundo, já que ninguém esperava o acontecimento. Sabiam da gravidade do câncer, e sabia que ele tinha pouco tempo, mas apesar dos pesares, não estavam de fato prontos.
Com isso veio o falecimento da mãe dela também. Eles eram muito grudadinhos, onde um ia, o outro estava junto. Dois meses depois da morte do pai dela, a mãe morreu de saudade. Literalmente. Ela foi diagnosticada com cardiomiopatia de Takotsubo, ou, síndrome do coração partido. Dificilmente esse caso leva a morte, mas pode levar a um choque cardiogênico – quando o coração não bombeia sangue para o resto do corpo – e essa foi a causa da morte. A dor se multiplicou, nem tinham se recuperado de uma e veio outra.
– Vamo? – Bete perguntou assim que ajudou o filho.
– Vamo. Tô com saudades da minha mulher e do meu filho.
A mulher sorriu. Sabia que ele estava com saudades. De 10 conversas deles, 9 eram sobre Maraisa e Matteo.
– Ah, eu sei. Você só fala neles dois. O tempo inteiro. – Gabriel sorriu.
– Licença. Só vim te entregar a receita, e lembrar pra você ficar de repouso. Esses pontos precisam cicatrizar direitinho. – Ele assentiu – Boa recuperação. Nos vemos daqui 8 dias.
– Muito obrigado. – Bete sorriu enquanto olhava pra enfermeira.
Bete levou a sua bolsa e de Gabriel mesmo com ele brigando com ela, e foram pro carro. Todo mundo se ofereceu pra buscá-los, mas como a mulher estava de carro disse que não precisava. Ela não queria incomodar ninguém. Gabriel entrou no carro enquanto sua mãe guardava as bolsas no fundo, permitindo que ela se lembrasse das roupas que havia comprado pro neto. Ela se sentou no banco do motorista, e quando deu partida no carro suspirou.
– Comprei algumas coisas pro Matteo. Mas não sei se deveria entregar, você sabe, talvez isso só piore a dor de vocês.
– É tão complicado, mamãe. Planejamos o quartinho, algumas coisas chegaram, e a gente nem sabe o que fazer com as coisas.
– Não façam nada agora. Você ainda acredita em milagres? Porque eu sim. E daqui até lá, um pode acontecer. – Gabriel sorriu assentindo pra mãe.
Ele acreditava, óbvio. Mas nessa situação, era um pouco difícil pensar em algo bom. Tudo conspirava pro lado ruim. Ou pra coisas ruins o tempo todo. É estranho e confuso. Mas ele está tentando dar conta.
– Dona Almira mandou mensagem, assim que acordei. Eu perguntei sobre a baixinha. – Disse sentindo um nó se formar em sua garganta – Ela teve um ataque de pânico a madrugada. Marilia foi verificar se estava tudo bem, e viu que ela estava coberta por inteiro e chorando enquanto tremia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Laços desconhecidos
FanficNem sempre, a realidade em que você vive é verdade. E se tudo que você conseguiu até agora fosse mentira? Se vocês não fossem quem vocês acham que sempre foram? Se a sua verdade, na realidade, fosse uma grande mentira? Você iria atrás da verdade mes...