Capítulo 7

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O que Lia mais queria naquele momento era paz. A ideia de ter alguém para conversar lhe atraia de certa forma, porém ela não se sentia a vontade na presença de Lucian. Ele parecia uma sombra, misterioso, sinistro e sempre ali presente, atrás dela.

Ao chegar na varanda ambos pararam, ela olhou para o céu, umbroso, sem estrelas. Fingindo distração e escondendo a impaciência, a garota esperou que ele fosse embora. Mas o envés disso.

- Não vai me convidar para entrar? - perguntou ele, prorrogando a despedida. Não havia mais o que fazer ali, mas mesmo assim Lucian se sentia bem na presença dela.

- Que eu me lembro nem te convidei para vir até aqui.

- Não queria ficar. - deu de ombros, evidenciando sua magoa. Cruzou seus braços e virou o rosto para o outro lado.

- Mas você vai, claro que vai. - revirou os olhos. - Mesmo eu não te querendo aqui.

- Mesmo você secretamente me querendo aqui. - ele a corrigiu.

Lia engoliu em seco mas não conseguiu segurar um pequeno sorriso, conhecia Lucian o suficiente para saber que era isso que ele queria, e ele sempre conseguia o que queria. Ela suspirou tediosa, abrindo o portão e adentrando sua varanda junto dele.

- O jantar está pronto. - Lucian deduziu, sentindo o cheiro da lasanha de carne.

A mãe de Lia sempre fazia algo diferente para o jantar nas noites de sexta-feira.

- Por favor, não faça nada estranho.

Ele riu, zombando da sua evidente preocupação. Nem imaginava que tipo de comportamento estranho Lia tinha em mente, ou o nível dele. Ela certamente pensava que ele era capaz de fazer qualquer coisa.

Era a primeira vez que ela ouvia a risada de Lucian, ficou radiante de admiração por alguns segundos. Quando notou o que fazia, piscou rapidamente, balançou a cabeça e limpou a garganta. Ela abriu a porta.

- Filha, porque demorou tanto? Eu estava preocupada.

- A professora estava corrigindo minha prova. - explicou, jogando a mochila no canto da sala de estar.

- E você se saiu bem?

A Senhora Paulsen jogou sobre o ombro o pano de prato que usara para secar as mãos, cruzando os braços em seguida e encarando a filha com um olhar inquisitor.

- Aparentemente não. - baixou a cabeça, escondendo seu próprio rosto decepcionado.

- E quem é esse? - William questiona, curioso sobre o acompanhante da filha.

- Ele é...

- Sou Lucian Scalene, amigo da Amália. - o jovem estendeu sua mão para um comprimento. Logo em seguida, suplicou se. - Ela me pediu ajuda com Álgebra.

- Ah, finalmente você criou responsabilidade e vai se dedicar.

- Nossa, muita obrigada mãe. - Lia abriu um sorriso pequeno, constrangida.

- O jantar está servido. Você quer ficar e comer conosco, Lucian?

- Na verdade ele...

- Eu adoraria senhora Paulsen. - novamente ele a interrompeu. A olhou de relance com um sorriso maldoso.

- Então, o que estão esperando?

Os únicos que conversaram na mesa durante o jantar foram Willian e Lucian. Desconfortável, a garota olhava para seu prato e espetava a massa com seu garfo, espalhando a comida pelo prato. Ela tentava não olhar para ninguém e nem pensar em nada, mas acabou engasgando com a própria saliva quando ouviu sem querer a pergunta de seu pai.

- Então Lucian, você namora?

- Não, e nem pretendo. A menos que eu encontre a pessoa certa.

Lia sentiu o olhar quente de Lucian se arrastando sobre ela após a frase e foi inevitável encará-lo de volta.

- Você está bem filha?

Charlotte se inclinou na direção dela, mas Lucian, que já estava perto o suficiente lhe ofereceu ajuda.

- Estou, só engasguei com a lasanha. - afirmou, tirando a mão dele com um tapa discreto. A pele de Lia esquentou ao toque de Lucian, assim que os dedos dele se arrastaram minimamente por sua espinha.

- Espero que ela não esteja ruim.

Charlotte encarou o convidado, aguardando sua opinião.

- Nem precisa se preocupar com isso, é a melhor lasanha que eu já comi. - assegurou pausadamente, juntando os talheres por cima do prato após terminar a refeição.

Após o término do jantar, Lucian não demorou para se despedir. William voltou para seu escritório, terminar de corrigir algumas teses dos seus alunos da faculdade. Charlotte e Lia continuaram na cozinha, conversando enquanto uma lavava e a outra secava os pratos.

- Adorei seu amigo. - comentou a mais velha, iniciando uma conversa que Lia não queria fazer parte.

- Ele não é meu amigo.

A forma arrogante como foi dito aquilo deixou Charlotte com raiva. A garota estava encostada na pia, com os braços cruzados, esperando as louças serem colocadas no escorredor. As feições de Lia não agradaram em nada sua mãe, especialmente pelo fato do jovem ter sido tão educado e atencioso em oferecer ajuda nos estudos.

- Deixa de ser ingrata minha filha, ele te acompanhou até em casa.

- Ele me seguiu!

- Ah, deixa disso. Você nunca fez um amigo de verdade. Você só andava com seu irmão.

- E qual é o problema disso? - Lia levantou a voz, irritada e cansada de julgamentos por conta de Alex.

- Ele morreu e você tem que aprender a viver sem ele.

- Ele se matou! Ele não morreu, para de achar que a morte dele foi vontade de Deus, porque não foi. - ela explodiu, como um vulcão em erupção, jogando suas palavras na cara da própia mãe.

- Você tá gritando comigo?

- Desculpa. - murmurou envergonhada, abaixando a cabeça.

- Vai para o seu quarto.

- O que? Eu não tenho dez anos!

- Você pode ter trinta anos, se morar embaixo do meu teto seguirá as minhas regras! - gritou, perplexa pela atitude da filha. - Agora, para o quarto!

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