Capítulo 10

178 43 74
                                    

Lia deixou a biblioteca, seu coração em disparo a fez engasgar. Era como se estivesse em um filme te terror, no qual tinha a absoluta certeza que não acabaria melhor do que no começo. A mão de Lucian era fria, esquelética. Se ela não soubesse quem era, se afastaria com repulsa ao pensar estar tocando em um cadáver.

Ambos atravessaram um grande salão com um piano preto, do outro lado, seguiram até uma escada.

Logo antes de subir as escadas, Lucian lhe ofereceu seu braço. Era pouco provável que ela fosse cair, mesmo assim aceitou de bom grato.

- Pode dizer a onde está me levando? - pediu receosa.

- E acabar com a diversão? Acho que não. Algo assim não há porque ter pressa.

Ouve um murmúrio que expressava toda balbúrdia na mente dela, claro que ele não à mataria com isso, mas era com se Lucian quisesse puni-la.

- Isso é tortura, sabia? - comentou, impulsionando seu corpo para frente, intencionada a apressa-lo.

- Pra você pode ser, mas sua cabeça não tem ideia do que essa palavra significa.

O Grande Prêmio estava ao final da passagem, na última porta do segundo andar, trancado às sete chaves. Aquele era o cômodo com mais valor sentimental para Lucian, talvez o único lugar que envolvia sentimento para ele. Logo que Lucian destrancou a porta, Lia sentiu um arrepio, uma sensação de estar sendo observada, desta vez não por ele.

A iluminação baixa do cômodo, assim como na casa inteira, só deixava tudo com um ar mais misterioso. Haviam vários lençóis brancos cobrindo algo que pareciam ser estátuas.

- O que é tudo isso?

- A pergunta certa é o porque. - sussurrou, acendendo as luzes. Lucian foi até o outro lado da sala, tirando o lençol de uma delas. - Essa é a minha favorita.

Era a escultura uma mulher, talhada até o busto. Os traços eram ridiculamente perfeitos e reais, como se ela estivesse realmente ali.

- É linda, foi você quem fez?

Orgulhoso de si mesmo, ele concorda com a cabeça. Pensando em uma maneira certa de dizer, sem que a proposta lhe assustasse.

- Quero que você seja minha musa inspiradora.

- Você quer que eu pose para você? - repetiu ela, tentando entender.

- Sempre que eu precisar.

Nunca ninguém tinha lhe pedido isso, ou ao menos notado ela daquela forma, isso a deixou animada.

- Se eu fizer isso... - hesitou, recapturado a proposta em sua cabeça.

- Eu continuo te ensinando.

- Por mim tudo bem. - deu de ombros.

Mesmo não demonstrando, Lucian ficou satisfeito com a resposta de Lia. Ele foi até outro cômodo, não muito longe e retornou arrastando um sofá recamier, certamente mais sofisticado do que aquele que usa em suas consultas psicológicas. Lia sabia o quanto aquilo era pesado, já teve de arrastar para o lado durante uma dinâmica com uma de suas psicologas. Ele pareceu não ter dificuldade, mesmo sendo magro e sem músculos aparentes.

- Ótimo. Sente-se aqui.

- O que? Agora!? - ela ficou pasma.

- Não quero perder tempo.

- Acho melhor não, isso vai demorar e esta tarde.

- Não irei te esculpir agora, só preciso de algumas fotos para me inspirar.

- Eu nem estou arrumada.

- Não tem problema. Quero você assim, aceita?

Reivindicou novamente a proposta, tombando a cabeça levemente para o lado. Lucian estava impaciente.

- Claro, seria um prazer.

O jovem indicou para que Lia se sentasse, ajustou sua postura e as pernas na poltrona, erguendo a cabeça dela com um leve gesto no queixo.

- Quantas esculturas já fez? - indagou ela. Seu olhar alto e inocente, juntamente com seus olhos grandes e brilhantes fez com que ele pensasse estar lidando com uma boneca de porcelana, isso o fez sorrir.

- Mais do que você pode contar. - respondeu, ajeitando alguns dos cachos escuros dela em frente a face. Assim que tirou as mãos dela, Lia sentiu os dedos dele se arrastarem sobre suas maçãs do rosto, apreciando momentaneamente cada toque.

Com a câmera já em mãos, Lucian deu início a seção de fotos, infelizmente isso não foi suficiente para fazê-la ficar em silêncio.

- Você aprendeu a esculpir com quem?

- Pode ficar quieta, preciso de concentração. - a frase arrogante que saiu dele quebrou as expectativas de Lia, que desfez-se de um lindo sorriso e ficou brava.

- Concentração? São só fotos. - contrapôs, o encarando com um olhar voraz.

- Relaxa o rosto, tente ficar menos expressiva possível.

- Esta realmente me pedindo isso?

Ele era o especialista nisso, já Lia não tinha controle algum sobre como demonstrar os próprios sentimentos.

Lucian deu se ombros.

- Não deve ser tão difícil.

Lia refletiu, desapontada, sussurrou:

- Para mim é.

- Tudo bem, já tenho o suficiente.

Lia relaxou o corpo, aliviada. Lucian queria que as fotos capturassem a essência dela, para isso ela não podia saber que estava sendo fotografada. A garota ficou destraida, demorou a perceber que a sessão ainda ocorria, quando notou, ele ainda segurava a câmera apontada para ela.

- Ei, você disse que já tínhamos terminado.

- Assim vão ficar melhores. Você não era você mesma.

- Achei que tivesse gostado.

- Eu gostei, ficaram ótimas.

- Deixem-me vê-las. - indo até ele, Lia pega a câmera das mãos de Lucian. O jovem não discutiu, ou reclamou, mas estava encomodado com a audácia dela.

- Pronto, me devolva. - ele estendeu a mão, impaciente.

- Calma, ainda não acabei. - ela virou-se para o outro lado. Quando acabou, passou pela última, mas não sabia quantas fotos a sessão havia rendido.

Tinha mais uma foto dela, mas não era de agora. Era do começo da semana, enquanto ela voltava da escola.

Na Mira Do DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora