Capítulo 11

184 42 48
                                    

Desta vez não foi como da última, Lia havia se preparado. Já sabia o que deveria esperar de sua terapeuta, conversas falsamente profundas e concelhos minimamente tranquilizadores, agora ela tinha suas próprias perguntas.

- Você já tive um paciente psicopata? - abordou, sem esperar um assunto em que aquela pergunta fizesse sentido.

- Estávamos falando de você. - retrucou, inconformada. Sarah tira seus óculos e a encara com estranheza, apoiando as mãos no rosto. Ela já havia deixado sua caderneta de lado por um tempo, tendo se destraido com as respostas incomuns de sua paciente.

- Eu sei, mas isso é algo que eu quero saber.

- Sim, já tive.

- Como ele era?

- Porque quer saber? Você é uma?

- Se eu fosse saberia. - a seriedade no semblante de Lia fez com que Sarah ficasse um pouco assustada. Ela sabia que aquela pergunta tinha um motivo perturbador por trás.

- Foi exatamente o que o último psicopata me disse.

Sarah sorriu como se estivesse em uma conversa descontraída, sentada em alguma cafeteria com suas amigas. Ela sempre fazia isso, tratando os pacientes com certa intimidade, na intenção de deixá-los mais confortáveis.

Aparentemente isso não funcionou para Lia, que ficou confusa e desconcertada. Não sabia ao certo a reação de Sarah, ela sabia esconder e já havia sido vítima de perguntas muito mais extravagantes que aquela.

- Quero saber o comportamento dele. Como indentificar um?

- Uma pessoa psicopata não sente empatia, tem uma dificuldade de entender a dor do outro. Eles são inexpressivos e só fazem algo para seu próprio benefício.

- E quando um te oferece ajuda?

Ela estava deixando de acreditar que a situação fosse hipotética, mesmo que sua paciente não tivesse dito isso em nenhum momento.

- Ele provavelmente quer algo de você em troca, vai te usar. Mas não irá mostrar as reais intenções logo de início.

- São manipuladores natos. - um sorriso percorreu rapidamente o rosto de Lia, ela piscou lentamente, colocando as palavras de Sarah em raciocínio. A doutora temia que Lia tivesse alguém em mente, mesmo que a pessoa não fosse diagnosticada.

- Exatamente. - concordou, retribuindo o comentário com um sorriso amarelo. Derrepente o alarme toca, indicando o final da sessão. - Acabamos por aqui, nos vemos na semana que vem.

- Tudo bem, já disse o que eu precisava saber.

Ela se levantou, em um movimento sofisticado demais. Desta vez Sarah não acompanhou-a, sentada em sua poltrona, pensativa. Quando Lia estava prestes a sair, a moça interrompeu com mais uma pergunta.

- As sessões estão fazendo diferença para você? - sem expressão, com os olhos arregalados Sarah se atreveu, focada nos detalhes no carpete para não enfrentá-la.

- Você quer que eu seja sincera?

- Por favor.

- Ainda acho que eu não preciso disso. É uma besteira sem tamanho, mas você é boa no que faz, pode ajudar muita gente com isso.

O comentário ecoou na cabeça de Sarah até o final do dia, mesmo com outro pacientes, mesmo após outras sessões. Ninguém tinha sido tão educado ao falar que sua ajuda era inútil. Talvez Lia não houvesse concerto.

Na Mira Do DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora