Capítulo 2

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Naquela mesma noite, Lia rolava na cama. Com o corpo cansado e a mente a milhão, estava disposta a dormir cedo mas seu subconsciente não colaborava em nada. Pela falta de sono, e por um tempo sem comer, sem estômago começou a reclamar. Ela não queria comer.

Após algumas horas, vencida pela falta de comida no organismo Lia levantou-se, sentindo-se derrotada. Foi até a cozinha e pegou uma maça, dividiu em quatro partes e comeu um pedaço. Voltou para cama. Após dez minutos ela abriu um pacote de bolacha recheada, logo após uma lata de refrigerante e comeu o resto da maça.

Começou a tremer. Seu estômago ainda estava vazio. Naquele momento, tudo que ela queria era mastigar alguma coisa. Então, ela abruptamente abriu a geladeira, mas diferente das diversas vezes Lia não só abriu para saber se tinha algo lá, algo menos calórico. A essa altura isso não importava mais.

Tudo que estava ao seu alcance foi ingerido, até mesmo a sobra de frango do almoço, os restos de bolacha no fundo do pacote, cereais, pão e algumas frutas. Tudo entrava até o colapso terminar e quando terminou, Lia se sentou a beira da pia e chorou baixinho, para que seus pais não a ouvissem.

Em seguida, consumida pela culpa eminente, ela correu até o banheiro e enfiou três dedos na guela, fazendo força para vomitar. Depois que tudo estava no vaso sanitário Lia fechou a tampa. Sentada ali ela se culpava, e poxa vida, como se culpava. Isso poderia ter sido evitado. Agora teria de arrumar tudo para que ninguém soubesse o que aconteceu.

Ao voltar para a cozinha sentiu uma sensação estranha, desta vez uma que não tinha ligação com a comida. Ela escutou passos, passos rápidos e pesados em volta da casa. Assustada, Lia pegou uma faca de açougue e abriu a porta da frente, dando alguns passos para fora.

- Se tiver alguém aqui eu juro por Deus que matou. Aparece se tiver coragem!

A garota segurava firme sua faca, a espreita sobre a luz da rua. Estava pronta. Entretanto, seu coração disparou em um ritmo frequentemente absurdo quando ouviu o barulho de um jarro de flores quebrando, bem ao seu lado.

- Apareça desgraçado!

Nada a deixou tão assustada quanto ouvir a porta do quarto de seus pais abrir. Pelos passos, concluiu que veria sua mãe em pouquíssimo tempo.

- O que pensa que está fazendo, Amália? São 04:00 da manhã! Os vizinhos vão chamar a polícia.

- O que houve? - naquele momento, o senhor Paulsen apareceu com sua espingarda nas mãos.

- Eu escutei alguém aqui fora.

- Quem?

- Não sei, mas alguém quebrou seu jarro.

- Meu jarro!? Como assim? Ninguém quebra meu jarro.

- Olha o que temos aqui. É só o gato da Dona Luzia, não é nada de mais. E vocês dois larguem essas coisas, vão acabar se machucando.

- O que? Mas mãe, eu ouvi passos!

- Eu sei muito bem o que você ouviu, vai deitar. Amanhã você tem aula cedo.

Assim que as luzes se apagaram, todos voltaram aos seus aposentos. Mas Lia havia notado algo quando retornou ao seu quarto que até então havia passado despercebido, a janela estava aberta. No exato momento concluiu que, apesar do que sua mãe tinha lhe dito, alguém invadiu a propriedade e entrou pelo seu quarto.

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