Ao acordar de um terrível pesadelo na manhã seguinte, Lia percebeu que precisava de proteção. Havia certeza dentro dela de que Lucian teria segundas intenções para o jantar de hoje a noite. Teria de ser rápida, pois não haveria muito tempo até que acontecesse.
Ela se aprontou para sair antes mesmo de descer para tomar café da manhã. Durante a refeição, Charlotte tagarelava sobre como o dia seria cheio no hospital. Lia mordiscou sua torrada com ovos, apreciando tediosa a comida até uma parte da conversa chamar sua atenção.
- William, querido. Pode preparar o jantar hoje? Irei trabalhar até mais tarde. Algumas das vítimas do incêndio ainda não se recuperaram e vou ter que cobrir alguns turnos, o hospital está lotado!
Vítimas? Pensou a garota, intrigada por um possível impasse.
Ouvir aquilo deixou Lia enfurecida. Seu sangue começou a ferver, tanto que já nem sentia o mesmo tremor com a brisa gelada de todas as manhãs.
Certamente haviam coisas que não foram esclarecidas no momento do acordo. E se, por um acaso, uma das vítimas fossem exatamente o motivo do acordo? Tudo teria sido em vão.
- Claro, querida, sem problemas. Diga ao meu irmão que desejei melhoras.
- Está certo, farei assim que o vir.
Charlotte levantou-se apressada, terminou de engolir o café em pé e pegou sua bolsa.
- Mãe, eu posso te acompanhar hoje? - indagou inocentemente, já pronta para sair.
- Sério? Mas você não tem aula, mocinha?
- Tenho, mas minhas notas estão melhores, eu prometo. Posso te ajudar com seu turno enquanto consigo experiência profissional.
- Não sei, hoje a situação no hospital está realmente séria. - a preocupação em Charlotte não abalou muito Lia, mas a deixou instigada. - Nem sei se você vai querer ser mesmo médica depois disso.
- Ah mãe, por favor. Sei que posso aguentar um pouquinho de sangue.
- Tem certeza? - Lia concordou com a cabeça, animada, a senhora Paulsen pensou por uns instantes. - Tudo bem, mas só por hoje. Pega seu casaco.
- Obrigada mãe.
Ambas saíram de casa, silenciosas até entrarem no carro. Charlotte sempre teve a agenda apertada, então passar um tempo com a filha iria lhe cair bem. Afinal, não haveria motivos para rejeitar o pedido. As notas de Lia haviam melhorado com as aulas extras de Lucian, ela parecia mais alegre do que nunca e aparentemente as sessões de terapia estavam tendo resultado.
Isso era o que Lia queria que ela pensasse. Charlotte enxergava além do exterior da filha. Já havia tido longas conversas com Willian e nenhuma delas chegava a um resultado desejado. Os olhos de Lia permaneciam fundos e roxos como sempre, ela tinha emagrecido ainda mais.
Charlotte ficou receosa, sem saber a melhor maneira de abordar o assunto. Talvez nem queria, pensou por um minuto, mas era sua obrigação como mãe e como especialista na saúde.
- Filha, você está bem?
Ela começou, animada por ter a chance de recuperar o tempo perdido. Hesitante ao ouvir Lia suspirar, sentindo o clima pesar.
- Estou ótima, porque?
- É que ultimamente você anda abatida. Está completamente sem ânimo.
- Eu estou bem. - assegurou veemente. Ela evitou olhar para a mãe, mas não virou a cabeça. Seu corpo continuava ereto como sempre, a postura sempre impecável. As mãos sobre os joelhos magros, dobrados e juntos de forma simetria. Nada em Lia estava fora do lugar, nenhum único fio de cabelo.
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Na Mira Do Diabo
Misteri / ThrillerAmália nunca esteve no controle da própria vida, principalmente depois da morte do irmão mais velho. Ela sempre teve dificuldade de confiar nas pessoas e isso não mudou quando conheceu Lucian. Desde o início ela sente que há algo que errado nele, ma...