Capítulo 16

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Antes chegar em casa, Lia teve a sensação de ser observada. A mesma sensação, aquela que apenas uma pessoa lhe proporcionava desta forma.

Isso não à incomodava, mas não cedeu ao instinto de procurá-lo, percorrer os olhos pela rua. A garota segurava alça da mochila, pegando o celular. Uma garota voltando para casa, distraída e insegura era um ótimo alvo, principalmente para Lucian.

Uma mente curiosa, alguém com instintos brutais e intenções duvidosas. Uma pessoa com capacidade de fazer Lia ou qualquer outro duvidar da raça humana. Com sua presença poderosa, implacável e friamente sádica.

Como esperado ele se aproximou dela, hesitando em reencontrar-la.

- Achei que eu tinha dito que nunca mais queria te ver.

O desdém tomou conta de Lia, que se virou irritada, porém com a expressão intocávelmente serena.

- Isso não significa que eu não queira te ver.

Isso o deixou vulnerável, mas ele não queria demostrar. Queria que Lia soubesse que levava na brincadeira ser rejeitado. Lucian não queria pensar nela, não queria admitir para si mesmo que dependia dela para ter paz de espírito. O jovem não queria sucumbir ao seu vício em Lia. Ela o deixava louco, tranquilo, instigado, estável. Tudo ao mesmo tempo.

- Eu estou... Traumatizada. - explicou, engolindo em seco. Ela meneou suas ações, tentando ser breve. - Não quero ter você perto de mim depois daquilo.

- Achei que isso não te assustava. Na verdade, eu tinha certeza. Porque mudou de ideia? - sua mandíbula trancou, Lucian suspirou irritado.

- Porque sei que é real. - admitiu, baixando o olhar. Instantes mais tarde, Lia saíu da defensiva, apontando para ele e afirmando entre os dentes. - Não confio em você e você sabe disso. Saía da minha frente antes que eu faça algo que já deveria ter feito a muito tempo.

- O que, se afastar de mim?

Isso, com certeza, seria real. Mas ele já não tinha a proximidade com ela ao seu favor. Um sorriso prepotênte tomou conta de Lucian, acompanhado do seu olhar morto. Sua beleza era atrativa e cruel.

- Chamar a polícia. - concluiu Lia, sentindo prazer em tirar o sorriso dele e colocá-lo em alerta.

- Eu posso te recompensar por isso. - propôs, se recompondo. Ele arrumou a gola de sua camisa e logo em seguida colocou as duas mãos no bolso da calça.

- Eu sei que pode, mas não quero nada de você e nem preciso.

Lia virou-se e começou a caminhar. O jovem, impaciente com o joguinho de desinteresse quebrou o clima, em tom de súplica.

- Deve ter alguma forma de eu redimir. - seu corpo se arrepiou ao pensar no que estava prestes a fazer. - Por favor...

Aquelas duas palavras deixaram Lia animada com a ideia de que ele estaria disposto ao que ela propor.

- Você já fez mal a alguém?

O sorriso dela o deixou levemente assustado, era como uma criança pedindo doce, fazendo aquela pergunta lancinante.

- Em que sentido? - Lucian a olhou de cima a baixo com estranheza.

- Todos.

- Eu não... - a frieza na voz entregou a mentira.

- Você já matou alguém?

- Se eu responder, você volta a falar comigo?

- Já estou falando com você.

A voz doce da garota não condiz com as perguntas atroz que ela fazia.

- Não.

- Até onde você está disposto a ir para me ter ao seu lado?

Ele nem se desafiou a pensar duas vezes.

- Longe.

- Muito bem... - Lia acabara com o ciclo, tirando o último bilhete de seu bolso. Este porém, era mais objetivo. - Vá até esse endereço, amanhã a noite. Certifique-se que ninguém sobreviva.

Lucian pensou a respeito, imaginando alguma forma de tirar proveito da situação. Segurando o papel entre o indicador e o médio, sacudindo a folha no ar, declara.

- Com uma condição.

- Quem está propondo condições sou eu.

Ela se irritou, cruzou os braços e tombou a cabeça para o lado. Lia encostou seu corpo no portão de casa, se certificando que ninguém ouvia a conversa.

- Será que dá para me ouvir antes de recusar?

- Vá em frente. - deu de ombros, elegantemente interessada.

- Um jantar, na minha casa.

Isso não era um problema, não um tão grande. Ela já visitara a casa dele antes, obviamente por um motivo menos íntimo. Desse modo, não era um sacrifício.

- Se tudo correr bem no restaurante, pode ser que eu pense no seu caso.

A soberba tomou conta e Lia ajeitou a postura.

- Isso não foi um sim. - Lucian reclamou, cruzando os braços. Ele se aproximou, com a mesma voz calma e teatral de sempre.

- Também não foi um não. - sorriu, eliminando qualquer espaço entre eles. A raiva era eminente e ambos conseguiam sentir a respiração do outro. - Então, temos um acordo?

- Vou matar pessoas por você em troca de um jantar que pode ou não acontecer? - recapitulou diante a mão estendida da garota para fechar o acordo.

- É pegar ou largar.

- Estarei te esperando ás 19:15 de Domingo na porta da sua casa.

- Talvez eu apareça. - Lia jogou a cabelo para trás em forma de desdém. - Se seu trabalho for bom o suficiente.

- Não tenha dúvidas, doutora.

Os olhos tensos em um profundo abismo de encare, batimentos frenéticos em sincronia, orgulho, raiva, frieza por fora e puro receio por dentro. Negócio fechado.

Na Mira Do DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora