Dois dias depois...
O tempo nublado, ainda não chuvoso, mesmo assim o cenário propenso para um funeral. Rostos tristes, algumas lágrimas rolando e condolências aos familiares. O resultado de um simples pedido, o lado comprido de um pequeno acordo.
Lia permanecia séria, intocável. Repousando no banco de madeira enquanto assistia aquele show de drama, meramente preenchida por uma dose de melancolia. Lembrou-se naquele instante que teria de jantar com Lucian.
Após a maior parte da cerimônia, Diego apareceu perto de Lia e cabisbaixo sentou-se no banco ao lado dela.
- Sinto muito. - murmurou a garota, igualmente abatida.
- Obrigado.
Mesmo com um pequeno sorriso de consolação, Diego estava tenso. Balançava o pé sobre o chão de forma frenética e continua. A temperatura não estava baixa o suficiente mas ele tremia, inquieto. Permaneceu jogado, à mercê de sua conciência, pouco lúcida naquele instante.
- Tem alguma coisa te incomodando? - Lia questiona receosa, sem graça. Encolhida sobre si mesma, tentando não ocupar muito espaço ela não era um bom exemplo de confiança e superação, pelo menos não agora.
- Além da morte da minha namorada e do meu melhor amigo? - ele levanta a voz, apenas para ser claro, mas não deixou o tom rude de fora. Se sentindo mau de imediato, Diego reconhece sua indelicadeza. - Me desculpe.
- Tudo bem, eu entendo pelo que você está passando. Todo mundo precisa conversar com alguém durante o luto, mas as pessoas não entendem nossa dor para saber como começar.
- Eu só queria ter passado mais do meu tempo com eles, aproveitado mais, sabe? - explicou em voz chorosa.
- Sei. - ponderou. - Mas nós nunca sabemos quando algo assim irá acontecer e ninguém tem culpa disso.
- Você tem razão... - o garoto respirou profundamente, liberado a tensão e enxugando as lágrimas com a manga do terno preto. - Eu só não entendo porque eles nos deixaram para sair sozinhos. Se eles tivessem com a gente nada disso teria acontecido.
Diego entrou em mediação, não se permitindo sucumbir ao luto completamente por hora. Mas era curioso, como se fosse algo incomum do comportamento de Chloé e Kevin, eles não pareciam ser tão próximos.
- Eles não saiam sozinhos?
- Eles nem conversavam direito, quem dirá sair.
- Que estranho... - Lia sorriu internamente, aproveitando a oportunidade. Soando em tom pensativo, pareceu menos articulado. - Talvez eles fossem mais próximos do que você imagina.
- O que você está querendo dizer? - a rispidez lhe dominou por completo, Diego não evitou ao encará-la, marcando sua alma com os olhos.
- Nada, eu só supus...
- A Chloé nunca me trairia! - sua fisionomia mudara por todo no momento seguinte, mas Lia não se assustou, não surpreendeu se ou muito menos reagiu.
- Eu sei disso, já fui a melhor amiga dela. Mas vai saber em quem se pode confiar. - deu de ombros, virando para frente e encarando o que havia sobrado da mesa do café.
- Eu confiava na minha namorada, mas no Kevin nem tanto. - Diego retornara ao lado pensativo, graças a total inação emocional de Lia. - Seria errado pensar sobre isso com os dois mortos?
- É errado de qualquer maneira, mas se tem possibilidade da dúvida ser real...
- Eu não acredito, não acredito nisso!
Diego se colocou em pé, indignado. Agora ele de fato acreditava. O garoto esfregou a nuca pensativo, mais desesperado por respostas do que nunca.
- Calma! - Lia pediu assustada, levantando se para ficar da altura dele, passando as mãos pelo ombro de Diego.
- Ela não disse nada sobre chegar mais tarde ou que iria encontrar o Kevin. - argumentou ele, já conformado com a situação.
- Isso devia ser um segredo. Um encontro, em um restaurante.
- Mas se fosse isso mesmo, porque fazer justo em um dia que ela sairia comigo? - Diego cruzou os braços, com uma evidente magoa. - Isso não faz sentido.
- Ela deve ter me usado como desculpa, afinal foi ela mesma que me convidou. Ai meu Deus! - a garota cobriu o rosto de vergonha. - Estou me sentindo uma idiota agora.
- Ei, a culpa não foi sua. - desta vez foi ele que se aproximou para a consolação, fazendo com que Lia mostrasse seu rosto. - Nós dois fomos enganados, mas agora já acabou.
- Por favor, não fica com isso na cabeça. Eu sei que você pode ser um pouco... - ela tentou escolher uma palavra adequada, hesitante em dizer.
- Paranoico? - completou Diego. Era exatamente como ele se sentia.
- O que eu quero dizer é... Não deixe suas emoções te dominarem. Eu só me sinto culpada por não ter sido uma amiga melhor.
O garoto abraçou Lia, sentindo a anestesia de suas dores enquanto a tocava. Por um mísero segundo, mesmo nem Diego, nem ninguém ter percebido, a máscara dela caíu.
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Na Mira Do Diabo
Mistero / ThrillerAmália nunca esteve no controle da própria vida, principalmente depois da morte do irmão mais velho. Ela sempre teve dificuldade de confiar nas pessoas e isso não mudou quando conheceu Lucian. Desde o início ela sente que há algo que errado nele, ma...