Celestian

Epílogo

No Golfo Ártico, Yue e os irmãos ancestrais refletiam sobre as possibilidades do futuro que acabara de mudar seu curso, eles sabiam que algo havia acontecido e essa certeza brotava justamente da incerteza do oráculo que não podia mais ver as linhas do destino à sua frente, pois agora tudo estava escuro, tão negro quanto as almas das bruxas.

_ Eu me recuso a deixar o mundo nas mãos daquelas três! - Diz Estácio.

_ Elementor está sendo palco de uma terrível guerra! Não aceito mais perdas sobre o meu povo! - Diz Elias.

_ Devemos parar nossa peregrinação? - Pergunta Ânimus.

_ Não acredito que esse seja o certo a se fazer. Talvez estejamos sendo testados... - Diz Yuê.

_ Testados? O tempo das provações acabou para todos nós, já morremos! - Diz Elias.

_ Vocês sim, mas eu... atravessei o portal espiritual e me separei do meu corpo que há muito definhava, agora ele não existe mais, sou um espírito que vaga entre os dois mundos, não estou tecnicamente morta. - Diz Yuê.

_ Então é disso que se trata, uma provação para você. Faz muito mais sentido. Você é um oráculo, sempre viu o futuro, sempre soube o que iria acontecer, mas agora não sabe... está a mercê das suas próprias expectativas. Esse é o seu teste, o último deles eu diria e ninguém pode passar dele a não ser você... - Diz Estácio.

_ Talvez tenha razão, esse é o último teste das estrelas para mim, para comprovar minha devoção. Minha missão é levar vocês ao destino a mim revelado, mas a nebulosidade dos fatos futuros quase me fez esquecer disso... - Diz Yuê.

_ Desde o início essa história se tratou de esperança. Quando você sabe o que vai acontecer você não precisa ter esperança, você simplesmente sabe, então você espera por uma certeza, ou por uma possibilidade com altas chances de se tornar realidade. Talvez seja isso que as estrelas querem de você, minha cara... - Diz Ânimus.

_ Agora vejo que não é somente a minha presença a única necessária para que vocês cheguem ao seus destinos, mas a de vocês também é inversamente proporcional. Vamos continuar caminhando, vou guiá-los, e dessa vez, sem paradas desnecessárias ou comentários pesarosos de um futuro ao qual já esperançamos o melhor. - Diz Yuê.

_ É assim que se fala! - Diz Estácio.

Os antigos acreditam que antes da morte derradeira um filme passa em nossa mente utilizando as últimas energias vitais do nosso organismo, podemos ver nossa vida diante dos nossos olhos em questão de segundos e tudo isso antes de sermos conduzidos misteriosamente ao pós-vida.

Após seu último e desesperado suspiro, Afrody foi transportado para uma grande biblioteca, cujo chão era coberto por um grande tapete em três dimensões, como uma gigantesca maquete onde se podia ver o mundo, os continentes que o compunham, e até as cidades. As correntes marítimas e de ar eram visíveis em tempo real e até mesmo coisas como o dia e a noite pareciam duas metades do mesmo mundo.

_ Onde eu estou? - Questiona Afrody.

O lugar era enorme, corredores intermináveis de prateleiras tão altas que tocavam as nuvens no teto, todas compostas de livros velhos e novos, grandes e pequenos, sem nenhuma poeira sequer.

O lugar exalava algo como o vácuo, uma certa vaziez espacial, uma solidão infinita, mas apesar dessa sensação estranha, havia uma mulher lá, que flutuava à frente de uma das várias prateleiras de livros, ela os estava organizando até que percebeu que não estava mais só. A mulher desceu ao chão segurando um único livro de capa azul que aparentemente estava lendo enquanto organizava os outros, sequer o fechou enquanto transitava pelo lugar, parecia ser só uma bibliotecária.