Olhar pra tela fria desse celular

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Quando tinha dezesseis anos
Perto da batida do seu coração, onde eu deveria estar
Mantenha no fundo de sua alma
E se você me machucar
Bem, está tudo bem, querida
Só palavras sangram
Dentro destas páginas, você apenas me abraça
E eu nunca vou te deixar ir

Ed Sheeran - Photography

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Justin Bieber.
• 25 de Julho de 2020
San Diego, CA, USA.
Casa dos pais

Eu costumava ter um bom temperamento. Sabia controlar minha raiva e raramente saía dando porradas por aí, a não ser por um motivo muito, muito nobre. Gostava de evitar o estresse, porque sabia que na maioria das vezes não valia a pena. Mas poderia jurar que se Yolanda Hadid não fosse uma mulher, ela teria levado um soco ali mesmo. Ver Bella com o rosto marcado e chorando, ainda mais pela forma como se entregou daquele jeito nos meus braços, me deixou com o sangue fervendo.

E agora eu tinha que estar ali, rindo para todos, fingindo que estava tudo bem, enquanto a parte perversa da minha mente maquinava milhares maneiras imaginárias de como eu gostaria de matar a mãe dela com requintes de crueldade. Era impressionante que eles exibissem a fachada de família unida quando, na realidade, as coisas não eram bem assim. O marido de Camila finalmente aparecera. Era um cara boa pinta, elegante, e foi simpático comigo, mas estava mais do que claro que ele e a esposa não tinham mais um casamento feliz. Ele era carinhoso com as crianças - ótimas crianças, aliás -, mas era frio com a mulher.

Gigi e Zayn eram gente boa, mas as tias eram as melhores. Meio doidinhas, animadas e levemente taradas, mas eu estava apaixonado por elas, especialmente porque gostavam de Bella e a tratavam bem. Fui apresentado a todos como o pai de Theo, e isso não me incomodou nem um pouco. Pelo contrário. Foi gostoso exibir o pequeno como meu, e já estávamos tão apegados um ao outro que parecia verdade. Cada sorriso me dispensava ganhava mais e mais o meu coração.

Eu estava completamente apaixonado por aquele bebezinho. Isso só me dava mais e mais raiva do babaca do pai que o abandonou. E se uma mentira era o que me permitia interpretar esse papel por alguns dias, aceitaria o título de bom grado. Bella ficou basicamente o tempo todo ao meu lado, e nós três realmente parecíamos uma família. Claro que o retrato era bonito de se ver e se viver durante uma semana, mas por mais tempo do que isso seria algo mais pesado. Eu não queria ser pai, não queria ser marido... Gostava demais da minha vida do jeito que ela estava.

Mas eu queria Bella. Mais do que podia expressar. E não queria magoá-la. A promessa que fiz horas atrás não fora leviana. Não fora feita em um impulso, embora eu não tivesse tido tempo de pensar muito a respeito. Só que eu sabia que tudo vinha com um preço. E para tê-la, eu teria que sacrificar muitas coisas. Será que estava disposto?

Em um dos primeiros momentos em que Bella me deixou sozinho, eu avistei sua mãe na mesma situação. Se não era um sinal do destino, não sabia mais o que poderia ser. Nem pensei. Aliás, eu andava tomando muitas decisões daquela forma, de rompante. Sendo assim, dirigi-me a ela, pegando duas taças de proseco do garçom por quem passei. Coloquei-me ao lado da minha sogra de mentirinha e entreguei uma a ela, da forma mais educada que consegui. Não disse nada. Apenas começamos a beber juntos, mas eu sabia que viria algo.

- Eu não costumo agredir minhas filhas. Foi um... rompante - ela soltou do nada. Tomei meu tempo, bebi um gole e balancei a cabeça, puxando o ar por entre os dentes enquanto o álcool descia, acariciando minha garganta.

- Fico feliz em saber disso. Porque a senhora não tem o direito de fazer o que fez. Não com Bella.

- Ela manchou o nome da nossa família...

𝐏𝐚𝐢 𝐝𝐞 𝐚𝐥𝐮𝐠𝐮𝐞𝐥 - 𝘑𝘦𝘭𝘭𝘢 𝘢𝘥𝘢𝘱𝘵𝘢𝘵𝘪𝘰𝘯 Onde histórias criam vida. Descubra agora