Novas fantasias

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Um dia, praticamente inteiro sendo a puta de Gisele, junto a Daniela. Muito pouco aproveitado para produzir alguma coisa, não ficaria impune para Vanessa. Passada a deliciosa despedida do casal de mulheres, a realidade se impôs. Seu telefone tinha inúmeros chamadas e mensagens de pedreiros e mestre de obras desesperados por soluções. Desde materiais não comprados quanto problemas na construção não resolvidos, Vanessa falhava em gerenciar suas obras.

Todas as visitas em obras no dia seguinte foram tensas, mas a pior foi na maior delas. Vanessa sempre foi vista como uma engenheira linha dura, principalmente no que diz respeito ao cumprimento do cronograma de obra. Era comum dar broncas em suas equipes, pois aprendeu cedo a necessidade de se impor em um meio tão masculino. Era comum suas equipes terem um certo medo dela. Nesta obra, isso era diferente.

Antônio tinha quarenta e dois anos. Tinha a pele morena e os cabelos pretos em um corte militar. A altura e os músculos lhe davam imponência, mas não apenas isso. O mestre de obras era tão exigente quanto sua contratante, sendo sua equipe uma das mais eficientes da cidade. Apesar disso, era justo e não admitia cobranças exageradas de terceiros. Não foram poucas às vezes em que confrontou Vanessa em defesa dos seus trabalhadores. Naquele dia, ele estava cheio de razão.

Mal a engenheira havia chegado e Antônio fez questão de cobrá-la do material não entregue na obra. Deixar homens ociosos durante um dia o incomodava profundamente, principalmente quando era cobrado para cumprir prazos. Vanessa, que naquele dia tinha Gabriela consigo para fotografar as obras, fez o possível para se impor ao máximo para não perder sua autoridade. Foi uma manhã longa, e muito estressante.

Enquanto Gabriela executava seu segundo trabalho, fotografando a obra, e os peões trabalhavam no andar de cima, Vanessa caminhava de um lado a outro, alternando em ligações para resolver todos os problemas. Com paciência, conseguiu resolver as questões com os fornecedores e garantir materiais para não deixar a obra parada. Só depois da última ligação, percebeu um rapaz parado no canto, a observando.

— Está parado aí o porquê, rapaz.

— Falta cimento, doutora.

— Antônio não pode arrumar o que fazer?

— Ele me pediu para perguntar se o cimento vem hoje.

— Chega hoje sim. Me diz uma coisa: eu só me ausentei ontem e, por que só quando o cimento acabou que estão me cobrando?

— O Antônio falou com a senhora na semana passada.

Vanessa se calou. Puxou na memória e se lembrou de ter sim sido avisada por Antônio. Desde a separação que a eficiência de Vanessa não era a mesma. A busca por uma casa nova, a mudança, até mesmo sua atividade vendendo fotos na internet dividiam seu tempo com o trabalho. Já havia um tempo em que seu desempenho no trabalho não era o mesmo. O dia perdido com Gisele e Daniela foi o ápice de um momento conturbado em sua vida.

— Você tem razão. Eu esqueci. Pode dizer ao Antônio que o cimento e os outros materiais chegam hoje.

— Tudo bem, doutora. A senhora quer alguma coisa?

— Alguma coisa?

— Uma água, um café. Vou ali na esquina e pego o que a senhora quiser.

Vanessa deu um sorriso discreto. Foi o primeiro gesto de simpatia por ela naquele dia e sabia não merecer.

— Muito obrigada, mas não precisa. Qual o seu nome?

— Wanderley, doutora.

— Muito prazer, Wanderley. Pode me chamar de Vanessa.

— Ele não devia ter falado daquele jeito com a senhora.

Vanessa sorriu mais uma vez.

— Porque sou a chefe.

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