Úmidos

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A vida sexual de Vanessa estava mais agitada do que nunca. Quando não era a putinha de Otávio e Agatha, assumia o papel de senhora de Amanda. Se via com a inédita tarefa de organizar uma agenda de encontros com seus amantes. Com tantas solicitações, se sentia vivendo em função dos desejos alheios. Quando se percebeu em situação semelhante a outras mulheres, ávidas em realizar os desejos dos outros e não os dela, quis dar um tempo. Era chato dizer a pessoas que tanto gosta sua vontade em ficara sozinha, principalmente ao sentir o descontentamento delas. Otávio, o mais indignado, passou a frequentar mais as obras, sempre com as mãos na cintura dela, às vezes descendo à bunda. Os toques e gestos abusados no meio da obra passaram a incomodá-la, pois não havia mais jogos entre os dois., respondeu a ele de forma ríspida, na frente dos peões. Constrangido, Otávio abandonou a obra e ficou um tempo sem aparecer. Aquilo não ficaria impune.

Apesar do stress, Vanessa sentia o gosto da liberdade, tão falada por Mara. Acreditava finalmente se definir como uma mulher bem resolvida, capaz de realizar seus desejos e não se prender a relações quando se tornam tóxicas. Podia escolher ficar sozinha, se dedicar mais a si mesma e a sua página na internet, onde é adorada por seus seguidores. Optando pela solitude, podia voltar a aproveitar melhor os pequenos prazeres da vida, como um banho quente. Se banhando sem pressa para sair ou receber alguém, podia deixar a água cair tranquilamente e aquecer o seu corpo. Era um momento de reflexão, ou pelo menos seria, se não houvesse azulejos soltando da parede.

Estufamento de azulejos, assim como qualquer patologia em edifício, a deixava profundamente perturbada. Terminou o banho o mais rápido possível e ficou ali, nua, analisando as peças meio soltas e às vezes tentando arrancá-las com as mãos. O incômodo e a vontade de resolver logo deram espaço a cautela. Era engenheira, mas não pedreira e não saberia fazer aquilo. Precisava contratar alguém para fazer esse serviço.

Vanessa tocava algumas obras e tinha em mente alguns para executar o serviço. Sua imaginação maliciosa pensou logo em Wanderley e quem sabe aproveitar a oportunidade para testarem o chuveiro juntos. Era uma ideia deliciosa, mas não tinha certeza de ele era bom naquele serviço. Cogitou perguntar a Antônio, mas tinha receios. Os atritos entre os dois eram comuns e ela não sabia se ele responderia com boa vontade. Em obra, Antônio era uma pessoa bruta, bem grosseira no jeito de tratar seus funcionários. Ela mesma não era muito diferente.

No dia anterior, havia dado uma bronca em Antônio pelo atraso no serviço dos pisos. O mestre chamou os peões encarregados na hora e transferiu a bronca para eles e só depois os dois explicaram o atraso pela demora na compra de alguns materiais. A responsável era justamente Vanessa. A discussão entre os dois foi quente, a ponto de os trabalhadores pararem para assistir e só terminou com Vanessa impondo o término do serviço logo, independente de quem fosse o responsável pelo atraso.

Foi uma surpresa para ela encontrá-lo de bom humor. Nem mesmo Vanessa, com quem havia discutido na manhã anterior, atrapalhava sua alegria.

— Antônio, não vim brigar hoje não. Na verdade, queria pedir desculpas por ontem. Eu me excedi e não tinha razão.

Antônio Franziu o cenho, surpreso. Era acostumado a ouvir ordens de Vanessa e às vezes alguns gritos. Para ele, era natural, como se fosse o "idioma" oficioso daquele ambiente de trabalho. Um pedido de desculpas era realmente novidade.

— Que isso, Vanessa. Isso faz parte do trabalho, sempre fez.

A serenidade dele a impressionava. Parecia, então, um dia perfeito para fazer um pedido.

— Posso pedir sua opinião? Os azulejos do boxe lá de casa estão descolando. Queria alguém para fazer o serviço. Pensei no Wanderley, será que ele faz isso para mim?

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