A fantasia de Antônio

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Décimo andar de um edifício em construção. Estruturas e paredes ainda em osso. Rasgos nos painéis divisórios enchidos com dutos e tubulações diversas. Nenhuma pessoa naquele espaço, exceto um casal. Antônio contava o passo a passo e cada serviço executado, relatando as dificuldades em conduzir uma equipe bem maior em relação às duas suas obras residenciais. Parecia um jeito incomum de se impressionar uma mulher, sobretudo se ela é engenheira e já viu várias iguais àquela. Pedir a ela para se vestir com uma camisa e calça sociais e um blazer era igualmente estranho. Aquilo tudo era extremamente entediante, mas Vanessa não falaria nada, preferindo fingir estar impressionada com algo parte do seu dia a dia. Ele merecia.

Foi uma surpresa agradável não receber nenhum julgamento por parte dele quando sua vida secreta virou assunto em toda a cidade. O sexo incrível entre os dois a deixou à vontade para revelar tudo sobre sua atividade como modelo. Contou sobre seus envolvimentos com outros homens e outras mulheres e mesmo assim ele não demonstrou ciúmes. Nem mesmo quando contou sobre Wanderley. Pelo contrário, ele riu horrores ao saber da história, sobretudo ao perceber a indignação dela quando ele se levantou para trabalhar. A história dos policiais também rendeu boas gargalhadas ao mestre de obras.

Antônio era um homem solitário. Já havia casado duas vezes e os relacionamentos nunca deram certo. O motivo: ciúmes. O próprio assumiu ser muito possessivo e que isso lhe causava um enorme desgaste. As duas esposas não suportam e o deixaram. Desde então, vive sozinho, ou em relações casuais. Acostumou-se com a solidão.

Pela primeira vez, ela se sentia segura com alguém. Antônio sabia a verdade sobre ela antes dela se tornar o principal assunto da cidade e a postura dele com ela não mudou mesmo depois de todas as fofocas. Trocavam confidências sinceras, entregando um ao outros seus próprios medos, estreitando os laços muito rapidamente. Antônio parecia o namorado ideal, mas ainda tinha um pé atrás.

Certa vez, entre lençóis, conversavam sobre fantasias sexuais. Ambos já tinham realizado a de fazer sexo em uma obra e Antônio assumiu já ter experimentado um trio com duas mulheres. Vanessa brincou dizendo que ela também já teve duas mulheres e dois homens. Relembrou a história com Carlos e Sidney e de como aquilo não foi necessariamente uma fantasia realizada. Usou e abusou de Sidney naquela ocasião, mas seu desejo mesmo era ser usada por dois homens. Queria se entregar por completo, e isso não poderia ser com qualquer um. Era uma fantasia ainda a realizar. Ao falar isso, Antônio se manteve em silêncio.

Aquilo fora frustrante, mas não seria diferente com a maioria dos homens. Enquanto caminhava com ele por aquela obra vazia, pensava nas palavras de Mara sobre a liberdade de estar solteira. Até semanas atrás, sexo era um momento quase imprevisível, dada a casualidade e naquele momento ela tentava desenhar em sua mente seus próprios limites, tentando imaginar o que Antônio aceitaria ou não. Os sorrisos falsos direcionados às banalidades de construções disfarçaram a agonia de quem olhava para a vida dali em diante, como uma limitação de seus prazeres.

Em seus devaneios, Vanessa silenciou e sua introspecção foi notada. De uma hora para outra, o calor de Antônio aqueceu suas costas. Seu corpo fora apertado pelos braços firmes numa pegada capaz de tirá-la de qualquer distração. Ela se tornou incapaz de pensar qualquer coisa quando os lábios exploraram seu pescoço. Foi conduzida a ficar contra quela parede áspera e empinou o quadril para sentir o volume já rígido atrás de si. Mãos desesperadas abriram botões em sua camisa em busca de seus seios. A pegada firme, naquele lugar, lhe trouxe lembranças.

Recordou uma história de Antônio, de quando ele se encantou com uma cliente enquanto reformava a casa dela. Não foram poucos os momentos de clima entre os dois, mas nunca aconteceu nada de fato. Nesse momento, percebeu o motivo de usar aquelas roupas, num estilo parecido ao da cliente e extremamente excitante para ele. Toda aquela conversa afiada de apresentar a obra era um mero pretexto para realizar sua fantasia. Foi uma surpresa gostosa, capaz de acender seu fogo em um instante.

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