Realmente era difícil acreditar o que eu havia visto naquela porra de televisão a foto do Leléo no anúncio que estava sendo preso, e logo agora que estou no táxi a caminho da delegacia para olhar bem nos olhos dele surge nas redes sociais o vídeo dele sendo levado até o camburão, de cabeça baixa sob a comemoração das pessoas ao redor, e os flashes da imprensa pipocando em cima dele.
E pela primeira vez ele baixou sua cabeça. Coisa que eu nunca havia visto na minha vida, pois se tem uma coisa que ele nunca fizera foi abaixar a sua cabeça para alguém ou diante de alguma situação. E, mesmo sabendo que um dia ele pagaria por seus crimes, aquilo partiu o meu coração. E era natural que eu iria vê-lo, pois já neguei demais para mim mesmo que não me importo com ele. E eu me importo. Quando mais fico envolvido, mas capaz sou de dizer a mim mesmo que estou completamente apaixonado por ele.
A medida que o taxista dobrava meu coração apertava cada vez mais, querendo dizer para ele ir o mais rápido que conseguiria, pois eu só imagino como a cabeça dele está no momento.
E o que eu achei uma eternidade finalmente acabou, pois chegamos na delegacia do Catete e lá o alvoroço estava confirmado. Tinha jornalistas de rádio, televisão e de jornais do Rio que nem urubu em volta de carniça, doidos para um sensacionalismo de merda, como sempre teve nesse país onde vale tudo, até passar por cima de uns dos outros por uma boa matéria. E conhecendo bem esse povo posso confirmar que eles vão aumentar tudo o que o Leléo fez até o último parágrafo por gostarem muito de uma tragédia e ganharem em cima disso.
O taxista recebera o meu dinheiro no silêncio, assim como eu tinha entrado, falando para ele apenas o trivial de uma educação humana, e depois saí em disparada do táxi que fora embora cortando pneu. E eu tinha percebido que ele se assustou com o movimento tenso em frente da delegacia.
O bom é que eu entrei sem nem me conhecerem, e era o que eu achava até que um jornalista engomadinho da mesma altura minha e cabelo grande, preso em um rabo de cavalo que cheirava a perfume importado que com certeza ele ficou sem dinheiro depois gastando com aquele perfume, e sorriu para mim ao virar o celular bem próximo de mim.
E nisso estávamos bem no meio da recepção da polícia, que estava ainda mais movimentada.
E ele estreitou os olhos e deu um sorriso, como se me conhecesse e se perguntasse o que eu estaria fazendo, naquela hora, na delegacia. E admito que isso até me apavorou por um instante, me fazendo dar um jeito de ele não saber que eu estava ali para vê-lo e estragar por completo a vida do Leléo, que tudo o que menos quer é ser morto pelos amigos dele ao saber que se relacionou com outro homem.
- Eu te conheço de algum lugar - ele disse, ponderando.
Não tinha como não revirar os olhos diante do que ele disse.
- Talvez eu tenha trabalhado em um puteiro - disse, irônico.
Ele até pensou em rir, mas não o fez pelo simples fato de que não era nem hora para dar uma risada se quer.
E até seria melhor ele não dar mesmo, pois eu seria capaz de afundar a cara dele na porrada por ter me abordado, pensando na mentirinha que eu teria que contar para engabelar ele de não saber que eu era uma peça chave na vida de Leléo e estragar tudo o que eu havia construído com ele. Não iria permitir que o meu relacionamento com ele virasse uma manchete tendenciosa, mas por mais pior que seja uma parte de mim desejaria que Leléo abandonasse essa vida e fosse feliz comigo, em outro lugar.
Claro, tudo isso não passa de um achismo apenas meu, um desejo distante, pois Leléo nunca que iria abandonar o que faz por um relacionamento que antes de acontecer mesmo foi pra puta que pariu.
- Eu te vi de relance, mas sabendo que eu te conheço de algum lugar - comentou.
- As pessoas sempre me dizem isso - respondi, simpático.
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Apaixonado Pelo Dono Do Morro (Romance Gay)
Teen FictionLucas Freitas tinha uma vida perfeita, até a sua família outrora rica falir de vez até pararem na Comunidade da Esperança. Lucas tem uma relação de cão e gato com o dono do morro, que tem uma passagem muito longa pela polícia mas que não esconde o...