A arte de manipular

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Minha cabeça apenas girava, o meu pescoço latejava por estar na mesma posição e a cabeça parecia explodir de tanta dor que nem os ratos que passava constantemente por cima do meu pé, correndo de alguma coisa, que eu já não me importava com mais nada. Tudo o que eu queria era sair dali o mais depressa possível, pois aquele balcão escuro que se assemelhava com uma sala de tortura — se não era isso antes.

Isso já estava mexendo demais com a minha cabeça.

Eu realmente não estava conseguindo raciocinar uma maneira de sair daqui de uma vez por todas e finalmente me ver livre dessa situação, e uma grande vontade de dar um tiro bem no meio da cabeça do meu pai. Que está precisando disto há muito tempo. Maldito destino que ainda não colocou nem um carrasco na vida daquele filho da puta, pois eu queria ver se ele já não tivesse morrido faz tempo. Diante disso, baixo meus olhos para os meus pés amarrados e dormentes onde eu mal conseguia mover tamanha a dor as minhas pernas estarem esticadas na mesma posição desde que eu cheguei aqui.

Os sons dos salto altos de Vera imediatamente me chamou a atenção, vindo da escuridão e logo reaparecendo com um sorriso sarcástico no rosto. Hoje ela estava diferente, os seus cabelos agora estavam em uma trança que deixava ela parecendo uma puta, mas sem a chiqueza. Uma completa imbecil com aquele cabelo tosco que me tira um sorriso e um riso abafado em seguida, pois agora posso rir agora que eu estou sem a mordaça na boca. E certamente isso a deixou extremamente incomodada e desconfortável.

Pelo visto é uma pessoa amarga, que não gosta de brincar.

Eu estava completamente perdido quando eu cheguei aqui, um verdadeiro caco, mas agora sinto que pode ser diferente onde a minha única missão aqui é infernizar essa mulher o máximo que eu conseguir. Aprendi que antes de nos traumatizar, devemos traumatizar a pessoa primeiro. E sei onde pode doer ainda mais nela, fazer a cabeça dela com mentiras e daí é só manipula-lá para prejudicar ela mesma.

— Você está com um risinho que está incomodando — rosnou ela, puxando uma cadeira velha e se sentando, cruzando as pernas com uma expressão nervosa no rosto.

Dei de ombros.

— Mesmo na pior situação eu não paro de sorrir. Minha mãe me elogiava por isso, dizendo que amava me ver sorrir — respondi.

Os seus lábios se ergueram um pouco em um leve incômodo por eu ter tocado na minha mãe e isso é um ponto a mais para mim de certa forma, pois mesmo morta a diva incomoda demais. E isso é bom para mim. Quero fazer de tudo para entrar na mente dela e fazer a vida dela um verdadeiro inferno, ou colocar um pouco de juízo na cabeça dela para ela pular desse barco. Porque namorar um filho da puta que nem o meu pai precisa de um coração muito forte e a mente sã para lidar com a agressividade dele e os momentos de raiva iminentes, que surgem a qualquer momento.

Essa mulher sabe bem no terreno onde ela se enfiara, e eu apenas vou tirar tudo o que ela conquistou até aqui ao lado daquele homem que, infelizmente, faz parte da minha vida. Mesmo que isso eu não posso me livrar. E a solução, talvez, pode ser a morte e no momento quero fazer ele sentir a dor de perder todos os aliados aos poucos e perceber que ele vai ficar sozinho, aos poucos.

A solidão é o maior inimigo de um homem que dá um passo a mais do que necessário.

— Até onde eu sei a sua mãe está morta — ela sorriu.

— Ela está morta por que a mataram, e acho que todo mundo sabe quem foi ao levar em consideração todo o passado que todo mundo conhece — respondi.

Vera imediatamente fechou a cara.

— Eu sei exatamente o que você está insinuando e não estou gostando nada do rumo que essa conversa está tomando — disse, alterada. — O seu pai é uma vítima nessa sujeirada toda e tudo o que ele está fazendo é para ele recuperar a dignidade dele que a sua mãe tirou.

Eu dou risada.

— Que dignidade aquele homem tem, hein? Até onde eu sei ele roubava de todo mundo para ter a fortuna que ele tinha antes de se tornar um bandido de quinta categoria.

— Eu acho que te falta um pouco de realidade nessa cabecinha dura, meu querido. A sua mãe não era tão santa quanto aparentava ser — falou ela, fazendo biquinho.

E falar dela não me atinge em nada. Nem usando da ironia como ela gosta de utilizar.

— Olha, a ironiza pressupõe uma pessoa inteligente e perspicaz, mas isso não se aplica em você, minha querida — solto em seguida de um riso. — Aliás, onde está o seu futuro marido agora?

— Eu não sou obrigada a responder as suas provocações e nem a sua pergunta — respondeu, firme.

Faço uma careta e reviro os olhos.

— Bom, como eu sou o filho dele eu sei bem onde ele foi, pois ele é um homem e como todo o homem ele tem mulheres em toda a cidade — eu disse.

Os seus lábios tremeram um pouco, mas engoliu em seco e isso foi o bastante para me manter contente, pois a sementinha já estava plantada na cabeça dela.

Percebi que ela é uma mulher automaticamente manipulável que está bancando o amor bandido apenas para inflar o seu ego ferido de alguma coisa que ele era no passado e não superou bem isso.

Ela deu as costas para mim e o som da sua bota ecoou por todo o ambiente, me deixando sozinho novamente como eu estava antes, mas me sentindo um pouco melhor que a sementinha finalmente estava plantada na cabeça dela. E para animar meu dia nesse inferno nada mais justo do que vê os dois discutindo bem na minha frente, mas sei que isso pode ser um risco para ela.

E o silêncio finalmente tomou conta ao meu redor e admito que isso foi bom, mas quando eu estava voltando a cochilar passos foram escutados e eu podia saber quem era apenas com o cheiro da fragrância amadeirada que tomou conta do ambiente. O meu pai sabia muito bem ser uma pessoa que tinha presença e um cheiro inconfundível.

E mesmo eu não abrindo os meus olhos, ele pigarreou para chamar a atenção, pois atenção era o que ele mais gostava de ter. E quando eu não dava nenhuma confiança para ele ficava puto e brigava comigo.

— Pode falar que eu estou escutando apesar de estar com os meus olhos fechados — falei, irritado.

— A Vera está com uma cara nada boa — disse ele. — Você fez alguma coisa com ela?

— Eu não. Deve ser a TPM.

Eu senti que os passos estavam mais próximos, até poder sentir as suas mãos se fincando nos meus ombros e balançando o meu corpo com muita força até a minha cabeça bater conta o encosto da cadeira e latejar me fazendo gemer de dor.

— Eu não estou de brincadeira — rosnou ele.

— Eu não sei de nada, pois de uma coisa eu tenho certeza é que você não é o homem ideal para qualquer mulher, pois todas querem você apenas por status por você ser só um criminoso — gritei.

E, claro, que um lado da minha bochecha ardeu com a força da mão dele até eu sentir algo quente escorrendo pelo canto do meu lábio direito.

— Eu não quero que você fale assim comigo, pois eu sou o seu pai — disse.

A sua mão agarrou na minha mandíbula com força e apertou a minha bochecha e aproximou o seu rosto do meu com uma fúria incomum nos olhos, mas eu sei que ele sempre teve.

Um homem agressivo nunca deixa de ser agressivo, e no caso dele isso vem desde sempre. Com todo mundo ao seu redor. Ele nunca se importou com ninguém além dele mesmo.

— Tem razão... você sempre foi o meu pai — respondi. — Você sempre teve razão sobre mim, pai. Eu te dei muito desgosto e acho que está na hora de eu fazer tudo direito.

Ele sorriu.

— Finalmente você reconheceu toda a minha luta, meu filho.

— Tanto que eu vou ficar do seu lado a partir de agora, pai — eu falei. — E isso é pela mamãe, também.

E no momento exato eu vou acabar com ele, pois é isso o que deve ser feito.

Mais um capítulo para vocês. Não está perfeito, mas espero que vocês se divirtam, pois o nosso protagonista vai aprontar bastante ainda. Boa leitura!

Apaixonado Pelo Dono Do Morro (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora