Surpresa desagradável

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Na minha concepção esperar Leléo na porta da delegacia, pronto para sair, me causava um misto de emoção e nervosismo, como se fosse uma criança que espera ansiosamente o picolé que a mãe comprara.

Eu não considero que estou errado, ou se eu estou emocionado demais, mas eu estava morrendo de saudades sentindo os braços dele em volta do meu corpo, ou sentir seus beijos na minha boca me esquentando em um dia tenso que anda a minha vida ultimamente. Eu estava andando de um lado para o outro na espera que a vaca profana saia de lá de dentro com uma ótima notícia ou com ele junto a ela, pois era o que eu esperava que acontecesse.

O meu coração só faltava romper a barreira do meu peito e sair para fora direto para o chão, sentindo a brisa gelada da noite chocar-se contra a minha pele, sem tirar o olho da porta da delegacia por qualquer movimentação que seja. E quando finalmente eu vejo ela com um sorriso no rosto, daqueles de vitória, as minhas pernas por um momento ficam bambas com tamanha adrenalina no meu corpo.

Ela veio em minha direção tirando um cigarro da carteira de Malboro e pondo nos seus lábios com um batom vermelho cereja, acendendo com um isqueiro preto com pontinhos de brilho cinza na base do isqueiro, parecendo uma chefona da máfia - o que é quase verdade, já que a especialidade dela é arruinar vidas.

Mas nesse caso tenho que ter muita gratidão com ela, por mais que "gratidão" não faça muita parte da minha vida, pois não suporto que a minha vida dependa de uma bandida mor como ela.

Mas você também tá virando um bandido, pensei comigo mesmo.

Comprimi os lábios e ela arqueou as sobrancelhas, expandindo os braços com uma alegria incomum que nunca eu vira estampado nos olhos dela.

- Sério que você não irá me dar os devidos parabéns?

- Olhando bem para você posso afirmar que está tirando uma com a minha cara.

Ela relaxou os ombros e deu uma tragada no cigarro, assoprando a fumaça.

- Mas como você pode ver eu sou uma mulher de palavra, querido - ela disse, pegando a chave do seu carro de dentro da sua bolsa. - Eu cumpri o que foi prometido, e agora aproveita bem o seu tempo ao lado dele. Nitidamente você se importa muito com ele.

- Como você se importava com o meu pai, apesar de todos os problemas - finalmente falei.

Ela parou por alguns segundos, pensativa, mas logo sacudiu a cabeça.

- Ele foi um homem que se deixou levar pelas emoções que o dominavam.

Eu definitivamente não estava nem um pouco afim de levar aquela conversa adiante, relembrando o meu pai que eu quero tanto esquecer diante de tudo o que houve, a morte da minha mãe, que ainda é pura incógnita para mim, o sumiço dele, tudo parecia se embaralhar na minha cabeça como se fosse um quebra-cabeça confuso.

Viver tudo isso novamente me dá uma ânsia inexplicável, pois eu não quero sentir saudades do meu pai que ainda bem ter sumido no mundo.

Ou morreu, me peguei pensando. O que me deu uma pontada de esperança dentro de mim.

Pensar no meu pai é como pensar em uma assombração que está nos sondando, pronto para nos atormentar como de costume. E até seria melhor ele ser apenas uma lembrança ruim na minha vida do que aparecer na minha frente como se ele não tivesse feito nada de errado.

- E eu tenho que concordar com você.

E antes de abrir a boca para falar outra coisa com ela, Leléo saiu pela porta da frente da delegacia com um olhar perdido, acendendo em mim uma emoção muito grande, que apenas me fez apertar os passos e trazer seu corpo para perto do meu. E o cheiro era uma mistura de perfume amadeirado com o cheiro de homem que ele emana juntamente do suor, e por um momento ele pareceu meio alheio a tudo o que estava ao nosso redor.

Apaixonado Pelo Dono Do Morro (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora