Abri os meus olhos sentindo uma dor atordoante na cabeça, e pior: em outra cama a qual eu já tive uma vez, no quarto que eu jamais pensei estar novamente depois daquela vez em que o bandidão me prendeu. Olhei para o lado e tive um vislumbre maravilhoso de costas torneadas e ombros largos, sentado na cama de cabeça baixa. Era ele. O sabor dos seus lábios ainda estavam impregnados no meu, o doce sabor de vodca e coco.
Um medo súbito me atingiu quando sugeri na minha cabeça que talvez pode ter rolado uma tórrida noite de sexo, mas quando toquei o meu corpo vi que ainda estava com a roupa de antes. Ele pareceu perceber os meus movimentos e olhou-me por sobre os ombros.
– Eu te acordei? – indagou com aquela voz rouca da manhã, o colar de ouro cintilando sob a luz do sol que entrava pela pequena janela ali.
Sacudi a cabeça em negação.
– Não – falei. – É que estou com fome, e isso quer dizer que já deu na minha hora.
Toquei os meus pés descalços no chão e coloquei as minhas meias sentindo a cama estremecer um pouco, e o braço másculo dele envolver o meu corpo como se não quisesse que eu fosse embora; e sorri de forma tão boba que a chama da alegria se acendeu em mim de forma densa. Me senti muito importante naquele momento.
Ele selou os seus lábios na minha nuca em um beijo calmo.
– Fica aqui, ainda nem te levei para as nuvens – sussurrou próximo do meu ouvido.
A minha pele responde o toque dele em um arrepio prazeroso e um frio na espinha. Me aconchego no seu corpo quente e sinto o seu músculo contrair abaixo das minhas costas e seus lábios tocarem o canto dos meus.
– Meu pai deve estar uma arara por eu não ter dormido em casa – respondo, me virando para encara-lo. Suas mãos entrelaçaram-se nas minhas e ali eu estranhei esse ato. – Você sendo carinhoso até demais?
Rio.
Ele fica sério.
– Qual o problema de ser carinhoso contigo, menor?
– Nenhum – digo. – É até melhor você ser menos bruto do que costuma ser na rua. E gosto do seu carinho. Dos seus beijos. Dos seus abraços. Gosto em tudo em você.
Ele dá um sorriso de canto mostrando as suas covinhas.
– Deus te criou no propósito de ser a coisa mais perfeita desse universo, Leléo – digo.
– Mas sou um bandido, quase procurado pela polícia, baixinho. O que tem de perfeito nisso? – indagou, carrancudo.
– Todos erramos nessa vida – colo minha testa na sua. –, mas um dia pagamos por tudo o que fazemos.
– Se um dia eu pagar... você me espera aqui fora? – questionou.
Acenei com a cabeça e apenas o beijei como uma pessoa que gostou de curtir todos os momentos ali, naquela cama, com ele. Cada beijo, abraço e demonstração de carinho tirou esse pensamento ruim na qual eu tinha sobre ele. Apesar do beijo ter durado um segundo, para mim, esse ato de amor foi como se durasse horas. Afastamos nossos lábios e me arrumei para sair dali, dando um último beijo nele e saindo dali escoltado por dois homens sem camisa com fuzis na mão.
Cheguei em casa e dei um sobressalto ao ver o meu pai escorado na parede com uma caneca com café fumegando, me encarando de cenho franzido e mandíbula cerrada. Meu coração acelerou dentro do peito e vi que iria vir um longo sermão por aí, então eu me preparei para o pior e fechei a porta atrás de mim. Me sentei no sofá e esperei ele falar.
– Onde estava? – Sua voz saiu firme e despida de rispidez.
– Eu estava me divertindo – afirmei.
– Com quem? – interpelou.
– Com a Karol, minha amiga aqui da comunidade – contestei, me levantando e indo até a escada que dá para o segundo andar, mas papai me agarrou pelo braço e me arrastou dez centímetros para longe da escada. – Por que fez isso, pai?
Senti minha bochecha chamejar quando ele desferira um tapa no meu rosto. Embolei os pés para trás e mergulhei no chão frio da sala de casa, aliciando o meu rosto onde ganhei o tapa. As primeiras lágrimas escorreram do meu rosto, e desconfio que ele deve ter mandado alguém para me vigiar e que me viu adentrando ao quarto com o Leléo, e logo em seguida deve ter dito asneiras ao meu pai juntamente com mentiras. Até posso presumir quem seja: Falcão, padrinho do meu pai.
– Eu não quero você conversando com essa gentalha, Lucas. Muito menos sair como se fosse um deles. – Me repreendeu, aos berros, como se eu tivesse acabado de cometer um crime.
Me ergui do chão sentindo as lágrimas molharem o chão.
– Mas eu vou ser como um deles, sair com eles e até transar com um deles – digo, sarcástico.
O tapa que ele acertara o meu rosto ardeu mais que o anterior. Cambaleei e me recostei na porta.
– Então, pegue suas coisas e vai embora daqui! – Bradou.
Não deixei que o choro preso na garganta saísse, apenas peguei o resto da dignidade que eu tinha, subi as escadas, entrei no meu quarto e arrumei as minhas coisas na mochila e na mala e após desci as escadas cabisbaixo demais para encarar o papai e saí de casa, escutando a porta se bater fortemente atrás de mim; os vizinhos estavam acumulados em frente de casa e todos me olharam com pena. Avistei Falcão vindo em direção de casa e uma repentina raiva me subiu naquele momento. Larguei minhas coisas na calçada e fui até ele sob olhares curiosos dos vizinhos, parando na sua frente.
– Sobrinho! – Abriu os braços com um sorriso no rosto á espera de um abraço.
– Canalha! – Grito, acertando um forte tapa na face dele que doeu até a minha mão. Ele cambaleou e caiu próximo de uma mesa de alumínio em frente de um bar atordoado demais para que levantasse a cabeça e me encarasse. – X-9 morre, sabia? – Dei uma risada alta e fria. – Uma pessoa vai te fazer uma visita à noite que você vai repensar muita coisa na sua vida. Esteja preparado, seu calhorda.
Peguei as minhas coisas e segui andando até onde Leléo mora, e assim que eu cruzei o galpão os seus capangas barraram a minha entrada pondo o fuzil na reta da entrada. Os olhei confuso.
– Quero falar com o Leléo – anunciei para os capangas.
– Ele está ocupado, menor – respondeu um deles com o cabelo pintado de louro, sério demais para poder me encarar.
Ouvi sons de salto alto na escada em caracol no canto do galpão e vi que a minha desgraça iria começar ali, naquele exato momento. A loura de cabelos lisos com um vestido lilás colado no corpo esbelto descia as escadas sorrindo alegremente.
– Não, isso não pode estar acontecendo logo comigo – choramingo.
Quando Leléo me encara, ele toma um susto e vai até a mim um pouco arrependido, porém não quero passar por trouxa.
– Ei, eu posso explicar – falou, tenso.
– Já vi tudo o que eu tinha que ver – bradei.
A loura nos encarava confusa.
– O que está acontecendo aqui? – perguntou ela.
– Não te interessa! – respondo, olhando ela por cima dos ombros de Leléo.
Ela arregala os olhos e vai para o canto quieta.
– Eu...
Eu o interrompi.
– Você não vai falar nada, Leléo. Tudo o que eu queria era ser amado, mas nem isso acontece mais porque fui expulso de casa por ter me entregado a você – sussurro.
Dou as costas chorando e vou embora da comunidade sem nem dizer para ele onde vou. Quero segui a minha vida sem precisar do carinho de ninguém. Irei fazer de mim um novo Lucas!A partir daqui começa uma nova fase, amores. Lucas vai mudar e o livro vai entrar em HIATUS por um tempinho até eu pensar nessa nova fase, sobre o que vai acontecer e tal! Bjs ❤️
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Apaixonado Pelo Dono Do Morro (Romance Gay)
Teen FictionLucas Freitas tinha uma vida perfeita, até a sua família outrora rica falir de vez até pararem na Comunidade da Esperança. Lucas tem uma relação de cão e gato com o dono do morro, que tem uma passagem muito longa pela polícia mas que não esconde o...