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Victor.

Eu não consegui o que eu queria. Eu simplesmente faço parte de algo que eu acho a maior babaquice. Caralho, como isso é ridiculo e estupido. Eu preciso urgentemente sair do teto do meu pai, não suporto mais ele fazendo eu me submeter a certos tipos de coisa, principalmente patinar no gelinho, foi o fim da picada pra mim.

E essa Taina? Que acha que é alguém, me enfrentando? O dobro do tamanho dela, e acha que tem direito. Mimadinha.

Me sentei na arquibancada do estádio pra respirar um pouco e pensar no que posso fazer pro meu pai desistir dessa ideia sem nexo.

Falando em insuportável, lá está ela. Saindo do vestiário feminino a caminho da pista. A roupa era tão apertada que definia seu corpo perfeitamente, seus cabelos pretos estavam em um rabo de cavalo e a franja caia sobre sua testa e a deixava com um ar de; metida. Nunca que eu ia dizer que ela estava bonita, porque não estava, só esse jeito de me enfrentar já decaiu toda sua beleza.

ㅡ espero que isso aqui funcione pra você Victor, ou se não, exército. ㅡmeu pai sussurrou friamente no meu ouvido. Ele deu dois tapinhas no meu ombro e saiu com a minha mãe para fora só Estádio.

Respirei fundo pra não transparecer o ódio que eu estava. Olhei novamente para a pista e a Taina estava parada me olhando com um sorriso de canto debochado nos lábios. Eu continuei a encarando só pra ver até onde ela iria e, ela continuou. Percebi que ela gosta de me desafiar, brincando com coisa séria. Feio, feio.

Ela deixou o joguinho de encarada de lado e voltou a focar no seu treino. Agradeço aos céus.

Todo mundo nesse local não fazia absolutamente nada. Tirando algumas pessoas na pista de patinação se divertindo, ou garotas na arquibancada comentando sobre a vida de alguém inocente e... me encarando. A única que estava realmente treinando era a esquisita da Taina. Pelo visto, alguém é focada.

Eu não sei ao certo, mais já ouvi falar nela. Nas olimpíadas que aconteceu a uns anos atrás, ela estava participando. Ela ficou em segundo lugar, com uma apresentação solo que ela fez. Eu assisti, foi até legalzinha, mas ela bem que pode melhorar. Eu sou crítico demais.

Tinha ao menos vinte minutos que ela tentava fazer um salto e caia sempre no chão. É um salto que pula e gira no ar. Estava me irritando já, como alguém não consegue fazer isso? Parece tão... fácil.

Me levantei da arquibancada e fui descendo até a pista. Parei na portinha que entrava e a encarei. Ela caiu no chão novamente e bufava de raiva. Soltei um riso sincero. Desculpa, não resisti.

ㅡ se não fosse tão medrosa, conseguia! ㅡfalei sério trazendo seu olhar a minha pessoa.

ㅡ está tentando me irritar mais do que já estou? ㅡela perguntou. Talvez sim, talvez não.

ㅡ você é medrosa, por isso não faz o salto. ㅡa provoquei.

ㅡ se está tentando me tirar do sério, pare. É uma tentativa falha!
ㅡela disse se levantando do chão.

ㅡ será? ㅡa encarei fixamenteㅡ medrosa!

Ela tirou os olhos de mim e voltou ao ponto onde ela começava a se preparar para o salto. Ela me olhou e eu disse baixo somente para ela ler meus lábios; "medrosa" e um riso de canto. Ela parou de me olhar e começou a patinar na força do ódio, ao chegar no momento do salto... ela caiu como uma manga podre no chão.

ㅡ eu disse, medrosa! ㅡfalei novamente.

ㅡ eu sou a medrosa e você o dependente do papai! ㅡela disse me olhando e se levantou do chão.

ㅡ se você parar de ter medo, você consegue fazer o salto Taina. O medo corrói a gente por dentro! ㅡdisse serio a encarando. Ela me olhou confusa, talvez por não entender o motivo de eu estar ajudando, já que eu acho tudo isso uma babaquice e realmente acho. Mais já estava me estressando essa esquisita quase quebrar o gelo da pista caindo toda hora.

ㅡ porque está me dizendo isso? ㅡela patinou até mim parando na minha frente.

ㅡ você faz isso a quantos anos? ㅡperguntei.

ㅡ tentar o salto ou patinar?

ㅡ os dois!

ㅡ patinar desde os 10 anos, mais profissionalmente com 15 anos, e o salto... bem é um avanço para a apresentação desse ano mesmo! ㅡela saiu da pista e se sentou na arquibancada. Me sentei ao seu lado, um pouco afastado óbvio.

ㅡ você não faz o salto, porque está com medo. ㅡbati na tecla do medo novamente e ela me olhou com raiva.

ㅡ medo do que exatamente, Victor? Já que se acha tão superior, me explique. ㅡela falou enquanto tirava os patins e me olhava.

ㅡ de errar essa droga de salto. Estou mentindo? ㅡperguntei e a olhei. Ela desviou o olhar de mim tirando seus patins do pés.

ㅡ você não sabe o que diz, esse salto é difícil demais. ㅡsuspirou.

ㅡ pode até ser, mais você quer ele na sua apresentação? ㅡela assentiuㅡ então pare de ter medo, se cair do chão não passa.

ㅡ parece um coach falando, fez aulas sobre isso? ㅡperguntou rindo leve.

ㅡ se não quiser que eu desista de te ajudar, não me irrita garota.
ㅡrevirei os olhos.

ㅡ estressadinho você, não? ㅡela pegou os patins em mãosㅡ infelizmente não posso mais tentar por hoje.

ㅡ como assim? a pista tá vazia, você é cega? ㅡperguntei seco e ela me olhou seria.

ㅡ hoje é quarta, os meninos do hóquei vem treinar daqui a pouco. ㅡela disse respirando fundo e aparentemente tentava ignorar o fato de eu a chamar de cega.

ㅡ como assim os meninos do Hóquei? ㅡperguntei me recordando que; dois amigos meus fazem parte do time e um deles é capitão.

ㅡ eles treinam nessa pista, é a maior que tem aqui no Canadá e eles precisam de um lugar maior. ㅡela falou se levantando.

ㅡ você conhece algum deles Taina? ㅡperguntei aflito, mais disfarçando obviamente.

ㅡ não, porque? você é fã deles? pede autógrafo bobo... eles chegaram bem ali. ㅡolhei para trás de mim. No estádio tinha outra entrada no contrário da principal. Puta merda, são eles.

Coloquei o capuz da minha blusa e sai correndo para o corredor onde ficava as...salas? É, salas, eu só não sei do que, entrei em uma delas e fechei a porta. Merda, merda.

𝗔 𝗹𝗼𝘃𝗲 𝗼𝗻 𝗶𝗰𝗲 ㅡ (Tainactor) Onde histórias criam vida. Descubra agora