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Taina.

Victor parou o carro na beira da estrada onde ao lado tinha uma trilha de neve misturado com areia.

A estrada era vazia. Se eu não o conhecesse diria que ele estava me sequestrando facilmente. Eu conheço essa estrada por sorte, é a antiga estrada principal de Ottawa. Foi desativada a dois anos e meio por aí.

ㅡ isso se concretiza como um sequestro? ㅡperguntei brincando. Ele me olhou e soltou um riso.

ㅡ sim. Fica quietinha agora! ㅡdisse simples. Victor estendeu a mão pra mim e eu a segurei.

Fomos caminhando pela trilha em completo silêncio. Se ouvia apenas o barulho dos passaros e certos bichos desconhecidos para minha pessoa. Não sou familiarizada em som de animais cara.

Ele parou no meio da trilha para olhar em volta. Fiz a mesma a coisa e me deparei com uma visão maravilhosa. Havia montanhas altíssimas cobertas com neve. O céu estava clarinho nesse fim de tarde e o sol aparecia bem pouco por conta das nuvens que o cobria. Era a visão do paraíso.

Ele me puxou devagar para continuar andando. Eu deveria perguntar onde estamos indo? Sim, mas quero deixar ele me levar. Que essa vista é a mais linda que eu já vi, isso é inegável.

As montanhas rodeavam a trilha de chão a chão, algumas árvores faziam sombra, eram poucas então não impedia do sol nos alcançar, sem contar que as folhas tinham neves que caiam quando batia um vento de leve.

Eu estou sem sombras de dúvidas, maravilhada. Nasci aqui e é a primeira vez que vejo algo tão lindo e surreal.

ㅡ chegamos! ㅡele disse soltando minha mão.

Olhei para frente e puta merda.

Tinha literalmente uma cachoeira congelada na minha frente e um rio que ainda circulava água.

ㅡ Victor! ㅡdisse impressionadaㅡ como você conhece esse lugar? Caralho!

ㅡ aqui é proibido palavrão! ㅡele estendeu o dedinho mindinho como sinal de juramento. Celamos os dedinhos como promessa de não falar palavrãoㅡ a primeira vez e única que vim aqui, foi com a Ana...a governanta de casa! ㅡele explicou.

ㅡ que lugar lindo, tem perigo de cair dessa... cachoeira?
ㅡperguntei. Eu queria muito ir olhar de perto.

ㅡ não. Quanto a cachoeira congelou a uma década atrás, a neve tomou de conta do rio lá de baixo, então digamos que se você cair, basicamente você está caindo em um punhado de palha, sei la! ㅡfez sinal de desentendido.

ㅡ em um punhado de neve, melhor... ㅡele concordou.

ㅡ e outra coisa, não é fundo! Vem cá. ㅡele pegou minha mão e me levou até a frente na beira da cachoeira.

Realmente não era fundo. E tinha muita neve aonde a água caia.
Provavelmente era uma mini cachoeira criada pela natureza, pelos arredores do Canadá tem um monte dessas, inclusive um desses lugares é ponto turístico.

São mini cachoeiras que caem de rios da cidade. Mas com o frio muitas vezes congela, como aconteceu com essa.

Lembrando que estávamos vendo de cima. Lá em baixo ainda tinha o rio rodeado por pequenas "montanhas" de neve.

ㅡ quer descer? ㅡfiz que sim com a cabeça.

Descemos devagar pela trilha que ainda continuava lá pra baixo.

ㅡ tem dois caminhos. Esse que vem por cima da cachoeira e o que vamos embora, o que vem por baixo. Gostou? ㅡperguntou. Cara a resposta não era óbvia? Esse lugar é maravilhoso.

ㅡ lógico que eu gostei Victor. Obrigado por me trazer aqui!
ㅡele sorriu sem dentes.

Terminamos de descer a trilha e agora olhando para frente. Realmente é uma mini cachoeira. Aonde caia a água da cachoeira tem neve, muita neve e um pouco pro lado ainda passa o rio rodeado de neve nas beiradas, como uma proteção. Por dentro do rio havia pedras e a água era cristalina, dava pra ver o fundo completamente e inclusive tinha neve em baixo da água.

Era a coisa mais linda que já vi. O sol já estava indo embora, nem sei que horas são. Estou sem meu celular, ficou jogado junto com o troféu do Victor no banco de trás do carro dele.

ㅡ me conta, porque você veio aqui com a Ana? ㅡperguntei me agachando para por a mão na água. Gelada que só o caralho.

ㅡ Ana é a única pessoa a me dar atenção naquela casa. E uma vez eu estava sozinho em casa durante a manhã toda eai após o almoço ela disse que queria me levar pra me divertir. Eu aceitei, não aguentava mais ficar em casa. ㅡele olhava para o céu enquanto contava. O que facilitava de o admirar.

ㅡ você não estudava? ㅡperguntei estranhando.

ㅡ até o ensino médio fiz aula particular dentro de casa.
ㅡexplicou. Assenti entendendo e ele continuouㅡ ela me trouxe pra cá. Na época ainda não existia esse rio, só a cachoeira congelada, o rio se formou provavelmente pela natureza, porque se você olhar zero probabilidade de nascer um rio em local como esse.

ㅡ minha mãe costumava dizer que só a natureza tem o poder de criar coisas incertas ou coisas sem chances de acontecer.
ㅡdisse encarando o a água que corria calmamente para frente. Que saudades da minha mãe.

ㅡ sim, a natureza e Deus é inexplicável. Você acredita nEle?
ㅡperguntou.

ㅡ eu perdi minha mãe muito pequena Victor, foi um baque, destilei ódio a tudo ao meu redor. Mas minha mãe era cristã. Eu não sou, costumo dizer que tenho uma relação somente com Deus. ㅡexpliquei. Realmente, não vou a igreja como minha mãe ia. Eu rezo sempre todas as noites, acredito nEle, só não mantenho compromisso de ir a igreja.

ㅡ eu também sou assim. É... quando eu e a Ana viemos aqui, ela me disse uma coisa ao irmos embora que eu até hoje me lembro.
ㅡele disse me ajudando a levantar. Fiquei em sua frente, tinha poucos centímetros de distância para colar nossos corposㅡ que eu só poderia voltar aqui com alguém especial ou se precisasse me sentir bem.

ㅡ e você precisava se sentir bem? ㅡperguntei. Nossos olhos estavam celados. Não tinha nada e nem ninguém para interromper esse momento.

ㅡ me sinto bem e estou com a pessoa especial! ㅡele respondeu. Engoli em seco e senti minhas bochechas queimarem. Eu estava vermelha, puta merda.

Mordi os lábios de nervosismo. Ele se aproximou de mim e me beijou finalmente. Eu não suportava mais esperar.

Suas mãos me puxaram para mais perto de seu corpo. Sentia a ponta do seus dedos acariciarem minha cintura por baixo da minha blusa. Subi as mãos para sua nuca e puxei seus cabelos com leveza. Eu estou no paraíso.

Sua língua passeava pela minha boca como uma exploração. Foi o beijo mais intenso que já tive na vida. Obviamente que existiu outros garotos, mais com o Victor tinha sentimento, verdade e um sabor gostoso de paixão.

Ele era incrível.

Ele trancou o beijo e mordeu meu lábio de leve soltando um riso frouxo. Eu dei um selinho nele e aconcheguei minha cabeça no seu peito. Ele me envolveu em seus braços. Podia ouvir sua respiração suave encostada em seu peito.

Ele estava calmo e me fazia ficar calma.

Ficamos abraçados por um tempinho. Ele acariciava meus cabelos me fazendo sentir confortável. Como sempre.

[...]

𝗔 𝗹𝗼𝘃𝗲 𝗼𝗻 𝗶𝗰𝗲 ㅡ (Tainactor) Onde histórias criam vida. Descubra agora