Vinte

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📌 12 semanas de gestação. 29 de abril de 2023.

T A T I A N A

— Ele tá morrendo de ciúmes de você. — Gabriel diz assim que sentamos no sofá da sala.

— Oi? — finjo não entender. Mas sim, eu entendi. Raphael nunca agiu dessa maneira comigo. E eu confesso que sequer sei como reagir a tudo isso.

Primeiro, sei lá quanto tempo que não vejo o Gabriel, no mínimo uns 7 anos. Com a Desirée cortando totalmente laços com o camisa 10, eu fiz o mesmo. Ver o Fabinho sempre foi mais fácil, principalmente aqui por São Paulo, ou em Santos quando íamos para a praia.

Tia Lindalva nunca deixou de comentar minhas fotos no Instagram, afinal, éramos sempre nós quatro andando juntos por São Bernardo, ou quando íamos pra Santos na Vila Belmiro assistir o Bi. Lembro como se fosse ontem da briga que era pra Dedê colocar uma camisa do Santos. Mas ela nunca deu o braço a torcer, sempre palmeirense. Mas mesmo assim, o destino brincou com eles, tal qual brincou comigo.

Só que esse tal de destino não foi nem um pouco gentil com os dois. E quando sua melhor amiga sofre algo de grande magnitude com tão pouca idade, só te resta sofrer junto dela, a acolher e ajudá-la a se reerguer. Já quando se trata de Gabriel, depois de tudo, a nossa amizade desandou um pouco. Eu era e sou muito mais amiga de Desirée, mas eu nunca deixei de ouvir ele, até porque, também andávamos juntos.

E agora eu me sinto novamente a amiga entre os dois.

— Ele tá com ciúmes. Muito. — me olha como se fosse óbvio.

Não faz sentido nenhum ele estar com ciúmes. É só um contrato. Só que ao mesmo tempo não tinha visto Raphael tão sério. O modo como ele apertou minha cintura e até mesmo o modo de se portar e falar é totalmente diferente do comum.

— Você também tá. Precisava agir daquela forma com a Dedê? — faço o que todos nós sabemos fazer de melhor. Fujo do assunto.

— Eu sou assim, Tati. — dá ombros.

— Eu sei que não é sempre assim, Bi. — uso do apelido antigo. — Você só acha que é melhor agir assim. Aí ninguém te machuca mais. — dou ombros.

A sinceridade é o meu maior defeito e minha maior qualidade.

Eu acredito muito que o Gabriel trata mal a Dedê ou qualquer outra pessoa que ameace desmascarar essa personalidade arrogante e prepotente por puro medo de ser visto como era na época que tudo aconteceu. Foram as únicas vezes que eu vi ele diferente de tudo isso que ele mesmo criou. Foram as únicas vezes que eu o vi chorar. Chorar de soluçar. Éramos tão jovens.

Gabriel sempre foi protetor e carinhoso com a gente naquele tempo. Tanto ele quanto Fabinho. Mas com a Dedê era diferente. Muito diferente. E ainda é até hoje. Os olhares de raiva também mascaram todo o ressentimento que eles guardam.

— Caralho, ela tava se agarrando com aquele uruguaio! — consigo atingir o alvo. E cá está, possessivo e, quiçá, inseguro.

— E você pode fazer o quê? Vocês não são nada! — as palavras escapolem da minha boca. — É como se eu tivesse vendo aquele mesmo menino do passado.

A expressão que vejo agora é séria, mas não com raiva. É como se ele tivesse lembrando de tudo. Caralho, eu tô grávida, meus hormônios estão gritando. Seguro o choro na garganta porque eu também lembro de tudo.

— É como se sei lá... Eu achava que eu tinha esquecido toda essa história até ela pisar na minha casa. Até eu ver o rosto dela novamente. E desde aí eu não consigo pensar em nada a não ser na porra da culpa que eu carrego dentro de mim, Tatiana. — puxa alguns pelinhos da barba.

Deserve You • Raphael Veiga [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora