Cinquenta e Sete

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📌 20 semanas de gestação. 19 de junho de 2023. Lisboa, Portugal.

T A T I A N A

Dom.

Meu sobrinho. Dom.

O choro de Desirée na chamada de vídeo fez meu coração doer. E minha mente voltou novamente ao tempo que éramos adolescentes, quando tudo aconteceu. E principalmente quando ela me disse que se fosse menino, queria que o nome fosse Dom. Repetiamos o nome entre nós duas tantas e tantas vezes e fizemos tantos planos para quando ele estivesse conosco. Mas nunca aconteceu.

Dom. Aquilo que ela sempre teve quando o assunto é cuidar dos que ela ama, principalmente do bebê que ela carregava em seu ventre. Sonhar com ele mostra que ele continua ali, vivo no coração dela, e no meu também. No coração de quem o amou desde que soube que ele existia, que prometeu não sair do lado dos pais dele. E não saiu.

As pessoas nunca morrem enquanto são lembradas. Eu repito isso toda vez que sinto falta daqueles que eu amo. E o meu Dom, o Dom primo do Pietro, sobrinho de Tatiana e Raphael, filho de Desirée e Gabriel, sempre continuará vivo em minha memória. Mesmo que eu não tenha sonhado com ele, consigo plenamente imaginar como ele seria. Ainda mais do modo como Desirée narrou que viu.

Perdê-lo doeu. Dilacerou. Porque eu via minha melhor amiga mal, apática, desacreditada por um sonho que foi acabado sem mal ter começado. Doeu porque eles mereciam esse filho. E hoje dói porque eu, como mãe, não consigo pensar em como deve ser a dor de perder um filho. É como se nada, nada na minha vida fizesse total sentido antes de ter meu filho em meu ventre. E só de pensar em perdê-lo, meu peito arde. Arde como ardeu no dia que Desirée me contou.

— Pode chorar. Tá tudo bem. — Raphael me acolhe assim que Desirée desliga o telefone. Andamos até a cama onde ele me deita com cuidado.

Eu não queria que ela me visse assim. Queria estar forte para ela assim como ela sempre está para mim. Queria mostrar que esse sonho foi bom, foi para mostrar que o filho dela sempre estará ali, dentro do coração dela. A protegendo e a observando, querendo que ela esteja feliz, principalmente agora que ela e Gabriel finalmente parecem se acertar.

— Por que as coisas tinham que acontecer assim, Rapha? — tento falar em meio as lágrimas. — Hoje o Dom poderia estar aqui, com a gente, feliz com a chegada do Pippo. Mas ele não tá. Ele tá lá, no sonho da Dedê, nos pensamentos do Gabriel. Ele deveria estar aqui. — deixo sair tudo que se acumulou ao ouvir Desirée falar.

Hoje é aniversário do Raphael. Conseguimos o dia livre para ele depois que o treino terminou. Eu não deveria ter deixado isso me consumir assim, mas agora, nesse exato momento, eu só consigo pensar nisso. Em como tudo poderia ter sido. E sei que ele não irá se chatear com isso. Tínhamos acabado de chegar no hotel quando Dedê ligou contando do sonho.

— Nada está sob nosso controle, meu amor. — continua me apertando em seus braços. — O Dom não está aqui fisicamente, mas não tenho dúvidas de que ele e o Pippo já conversaram e brincaram muito no céu dos bebês, hum? — mantém a calmaria na voz e eu nem sequer penso em contestar. — E agora nosso filho está aqui, e o priminho dele está olhando tudinho lá de cima. Muito alegre porque não somente a Tia Tati dele está feliz, como também porque a Dedê, a mãe dele, apesar dos dias tristes, está muito feliz com a chegada do primeiro sobrinho.

Nada está sob nosso controle. E talvez se estivesse nenhum de nós estaria aqui hoje. A vida, por mais dolorosa que seja, tem um propósito para cada pessoa que aqui nasce. E nada, nada que fizermos vai nos fazer ter controle. A gente não escolhe quem vai ou quem fica, quem morre ou quem nasce, a gente não escolhe nem mesmo por quem a gente se apaixona.

Deserve You • Raphael Veiga [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora