Cinquenta e Um

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📌 17 semanas de gestação. 28 de maio de 2023. São Paulo.

T A T I A N A

— Boa tarde, filha. — Márcia entra do meu lado no carro. — Já pedi pro Rubens deixar a Zoe na creche ainda agora. Tá ansiosa? — me olha.

Zoe é a cachorra. E sim, ela vai pra creche.

Eu assinto em resposta à pergunta. Ver meu filho sempre me deixa um pouco ansiosa. Um pouco, talvez muito. 5 meses e ele está ficando cada vez maior.

Raphael viajou para Fortaleza, onde eles vão jogar a partida de volta da Copa do Brasil, e como ele é todo preocupado comigo andando sozinha por aí, fez a mãe dele ir comigo para a ultrassom trimestral.

Confesso que a presença de Márcia me acalma. Ela é calma, paciente, e me passa uma confiança absurda.

— Eu também tô ansiosa. Ainda não ouvi o coração do meu neto. Pietro, não é? Eu sabia que vocês iriam decidir o nome. — continua falando.

Eu sorrio leve. Meu coração fica quentinho ao lembrar do dia que escolhemos o nome. E ao lembrar de como estamos agora. Eu não sei explicar o que temos, mas temos e somos algo. É isso que importa pra mim.

— É. Decidimos do nada. Também só lembrei de você dizendo isso. — sorrio para a mais velha enquanto presto atenção no trânsito.

— E como foi? — parece curiosa.

Foi doloroso no começo relembrar todas aquelas memórias. Foi dilacerante me sentir abandonada como vez ou outra me senti na infância, adolescência e, principalmente, depois do falecimento dos meus avós. Mas, no final, ter carinho e acolhimento nos braços de Raphael me fizeram perceber que eu não vou estar sozinha nunca mais. Não importa onde eu esteja.

— Foi sentimental. — me limito mas percebo que ela está tão animada que merece mais. — Eu achei umas cartas dos meus avós, onde eles falavam sempre "seja firme como pedra", e aquilo chamou atenção do Rapha também. Ele lembrou da Bíblia e pensamos em Pedro, mas parecia comum demais, e daí eu sugeri Pietro. E ele amou! — desato a falar para a felicidade de Márcia.

Ela não contém o sorriso no rosto.

— Poxa, que lindo isso, Tati! Então tem um pouco dos dois na escolha do nome? — pergunta como quem já sabe a resposta.

Um pouco de nós dois, assim como nessa criança que eu carrego no ventre.

— Uhum. — sorrio doce. — E apelidamos de Pippo.

— Pippo. — repete.

Sou pega desprevenida quando ela toca minha barriga.

— Oi, neném da vovó, Pietro, Pippo. Você vai ser tão forte quanto o seu nome. — conversa com a barriga. — Tão forte quanto seus pais.

Engulo seco com a fala dela. Tão forte quanto a gente. É isso que queremos que ele seja.

— E hoje você vai ser a sorte do seu pai na convocação pra seleção, olha que legal! — continua.

Puta que pariu. Hoje sai a convocação de mais uma Data FIFA. Fabinho tinha me avisado pra eu me atentar nisso, mas minha memória de grávida não serve pra quase nada e eu sequer lembrava disso.

Minha ansiedade triplica. Se o Rapha for convocado ele vai ficar tão feliz e automaticamente eu também. Consigo até pensar em como homenageá-lo. Na primeira convocação fazia pouco tempo que eu sabia da gravidez e foi naquele período de transição, então, sequer teve muito significado para mim, mas agora, só de pensar na possibilidade e em como isso é importante para ele, eu peço baixinho para que se concretize.

Deserve You • Raphael Veiga [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora