O último descendente

Página 15|Testes (Pt 1)

O som das cigarras junto do tilintar de sinos agitados seria um deleite se não fosse triste e irritante de certa forma, ao menos para Yuno que observava tudo em cima de um galho robusto.

As cenas vistas por ele eram deveras agradáveis, não era o maior fã do verão e agradecia o fato do outono logo aparecer, todavia, ainda sim, conseguia ver beleza no que vinha junto de um calor intenso e muito suor.

No momento não prestava atenção nos tais acontecimentos, se mantinha em um episódio passado, nunca antes visto por ninguém além dele e Asta, afinal estavam sozinhos no local naquele dia.

Ah... Aquele beijo...

Fora tudo tão inocente, desde o motivo até o local onde o selar fora depositado. O grisalho não entendia que aquilo poderia significar muito mais do que imaginava, para ele era apenas um tipo de agradecimento feito através de contato físico. Mesmo assim, mesmo que nada daquilo nunca tenha tido segundas intenções, o moreno lembrava com carinho, era tanto que poderia facilmente se comparar ao número de batidas que o coração dele já havia errado quando sonhava ou pensava na beleza daquele que tanto amava.

Se Nash soubesse, diria que o irmão sem mana agiu como uma garotinha, quando, em verdade, Yuno chegou bem mais perto desta definição do que o outro.

Se pudesse, derramaria algumas lágrimas perante aquela doce memória, mas nem mesmo inconsciente poderia fazer tal coisa, quando prometeu que nunca mais iria chorar estava falando muito mais do que apenas sério, e, também, já havia quebrado a promessa uma vez, não aguentaria se a cola que unia os pedaços deixasse de exercer aquele papel tão importante em um momento de fraqueza.

⎯⎯Yunooooo!!⎯⎯ A voz de Recca soou pelo local, dando um fim a viagem mental do irmão. ⎯⎯Desce daí logo, você tem que ir pra capital daqui a pouco, lembra?!

⎯⎯Já estou indo.⎯⎯ Respondeu, com um tom suave sem qualquer tipo de sentimento envolvido, como sempre, enquanto descia da árvore com um pulo bem executado.

. . ./|\. . .

Mais uma vez Asta se pegou dando mais atenção a aquela mulher estranha que lhe aparecia em sonhos do que para a irmã que contava sobre algo que a ocorreu na capital, talvez sobre roupas ou bebidas ou, o pior de todos para o garoto, homens que a cortejavam pela aparência esbelta, não tolerava aqueles seres maculados que não tinham o mínimo de vergonha na cara, se pudesse mataria cada um.

Contudo, voltando ao principal...

Não sabia nada sobre ela, apenas qual seria, provavelmente, o nome dela, Ayla, e a aparência, mas isso não era muito relevante. Queria saber mais, saber por que se sentia daquela forma por causa daquela mulher, por que ela o empurrou de um penhasco - aliás, também estava começando a achar que tinha algum trauma com penhascos -, resumindo: queria saber tudo e se possível mais um pouco.

Como iria descobrir? Não tinha idéia alguma, achava que se continuasse a ter aqueles sonhos poderia descobrir algo a mais, quem sabe informações que o levariam a encontrar a verdade por si mesmo.

Por enquanto iria esperar, se nada viesse iria atrás.

⎯⎯Ae, pirralho!⎯⎯ O capitão chamou, dando um fim ao falatório da bruxa que parecia surpresa, havia levado um susto pelo aparecimento repentino do mais velho, estava tão concentrada na própria história que nem ouviu os passos pesados do homem, o mesmo valia para Asta. ⎯⎯Se arruma logo que nóis já tamo atrasado.

⎯⎯Pra que?

⎯⎯Pros testes de admissão, desgraça!⎯⎯ Respondeu, sem esconder que estava irritado.

⎯⎯Mas eu não-

⎯⎯Tu vai sim, eu tô mandando!⎯⎯ O grisalho achava impressionante como aquela cara conseguia passar de tranquilo a ameaçador tão rápido e tão sutilmente.