Cap. I

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-Tem certeza de que quer fazer isso?! -Insisti pela milésima vez.
-Nós vamos nos mudar sim querida, e fim de papo! -Repetiu minha mãe empacotando alguns objetos.
-Mas mãe eu amo a Califórnia, não quero sair daqui!!
-Sophia não discuta comigo, além disso nós vamos pra uma cidade que vc já conhece ... Você nasceu lá
-Eu tinha 6 anos!! Não lembro de absolutamente nada... -continuei reclamando.
-Ao invés de você ficar reclamando porque você não vai empacotar suas coisas? Nós vamos amanhã bem cedo!
-Fazer o que não é mesmo?
-Assim que se fala! Ah e quando você terminar, a pia da cozinha tá te esperando, cheia de louça pra lavar ... -disse minha mãe com um sorrisinho, ela se divertia. Ir pra Transilvânia é um caos na minha vida, agora eu tenho que fazer novas amizades, ir para um colégio novo e me adaptar a uma cidade onde é conhecida como "cidade dos vampiros", fala sério.... As vezes penso comigo mesmo, se eu não fosse filha única e fosse a mais velha, quem sabe meus pais deixariam eu ficar, agora, com sou só eu de filha única eles me arrastam para todo lugar que eles querem ir....Washington, Las Vegas, Londres, e por aí vai, não dá tempo de passar as férias com meus amigos porque meus pais ficam empacando querendo sair, mas sair comigo grudada. Fui -revoltada- arrumar minhas coisas para a viagem que eu não queria ir.
No dia seguinte, eu estava terminando de arrumar a mala quando ouvi o som da buzina do carro de meu pai, ele nasceu na Transilvânia e aos 19 anos -depois da morte de meus avós - veio pra Califórnia, conheceu minha mãe e depois de 3 anos se mudaram para a Transilvânia novamente, essas histórias que eu ouço são muito complicadas, meu pai sempre ia embora e voltava para lá, só que dessa vez resolveu me levar junto, ninguém merece.
-Sophia, seu pai está esperando! - disse ela tentando não parecer chatiada por eu não querer voltar pra Romênia.
-Eu já to indo -respondi fechando minha mala e pegando meu celular. Desci as escadas e fui até o carro, meu pai colocou a mala dentro do porta-malas.
-Eu vou trancar a casa. -disse minha mãe.
-Ok -respondi, olhei para meu pai e ele me olhava como se estivesse me analisando.
-Que foi? A roupa não ta apropriada pra ocasião?! -debochei.
-Ocasião? -perguntou ele confuso.
-É, para sua décima volta pra Romênia.
-Tem como você parar de ser irônica pelo menos uma vez na vida?
-Sim, me deixa ficar na Califórnia !! - Insisti mais uma vez.
-Nem pensar, entra no carro!
-Pai!!
-Filha!!
-Aff....
-Sophia, eu sei que você está passando por uma situação em que você se sente solitária, abandonando amigos e indo pra um lugar desconhecido, mas vai chegar uma hora em que tudo vai ficar muito claro na sua vida. -ele falava de um jeito como se eu fosse presenciar a 3º guerra mundial, onde eu teria de escolher entre lutar ou morrer.
-Pai, do que exatamente você ta falando ?!
-Eu...
-Daniel, já entreguei as chaves pros vizinhos para eles entrarem aos novos moradores, podemos ir? -disse minha mãe interrompendo a conversa.
-Podemos, claro. -respondeu meu pai.
Na estrada, o silêncio tomava conta do carro. Não sei se era porque eu estava distraída, mas chegamos rápido demais naquela cidade totalmente diferente da Califórnia.
-Chegamos. -avisou meu pai.
-Eba!! -disse meio que irônica.
-Sabia que eu adoro o seu entusiasmo Sophia? -disse minha mãe.
-Muito obrigada.
-Agora vem me ajudar com as malas! -ela disse.
-Jura?! -perguntei.
-Vem logo, desmancha essa cara....
-Ta bom, já to indo ... -respondi indo até o porta-malas, antes de retirar a bagagem ouvi uma voz masculina atrás de mim dizer...
-Família Campbell?! -me virei para ver de quem se tratava, e "uau", era um garoto com cabelos loiros e olhos cor de mel, ele olhava para meu pai, mas me deu uma olhada assim que virei.
-Somos nós... -respondeu minha mãe.
-Bom saber.... -ele disse.
-Como?! -perguntou minha mãe.
-Ah bom saber que os novos vizinhos chegaram, eu fiquei com a responsabilidade de entregar as chaves a vocês, mas não sabia quando chegariam, que bom que chegaram...-disse o rapaz entregando a chave para meu pai.
-Obrigado.....qual o seu nome? -perguntou meu pai.
-Thomas, prazer -disse ele apertando a mão de meu pai - Bem-vindos a Transilvânia!
-Obrigada, é nosso vizinho?! -perguntei.
-Na verdade não, mas meus primos são, então, acho que você...quer dizer vocês vão me ver muito por aqui. -explicou o garoto.
-Ah sim... -falei.
-Vamos abrir a casa querido?! -disse minha mãe, meu pai concordou e saiu logo atrás.
-Vai estudar no colégio da cidade ? -perguntou Thomas.
-É...não tem como sair da cidade todos os dias pra ir em um colégio. -respondi, ele deu uma risadinha.
-É, tem razão, só queria puxar papo. -ele disse, o jeito que ele dizia fazia eu me sentir culpada.
-Desculpa, eu tenho uma certa mania de ser grossa sem perceber... -Expliquei, acho que estava vermelha e de certa forma constrangida.
-Não tem problema, então a gente se vê amanhã no colégio ?!
-Tudo bem... -respondi.
Eu não estava nem um pouco afim de ir ao colégio, acordei as 6 da manhã e foi quase impossível levantar da cama, mas levantei e fui tomar café da manhã.
-Bom dia! -disse minha mãe.
-Bom dia pra quem ?! -respondi pegando uma maçã da fruteira.
-Ei, olha o respeito! -ela chamou minha atenção.
-Foi mal...
-Vamos? -perguntou.
-Eu tenho outra opção?!
-Pior que não, vamos?
-Vamos lá... -respondi dando uma mordida na maçã. -E o meu pai?
-Seu pai tinha uma reunião, ele acordou mais cedo e foi. -ela explicou.
-Mais cedo que 6 da manhã? Impossível...
-Tem gente que não é preguiçosa igual certas pessoas....
-Foi indireta? -perguntei.
-Não foi direta mesmo... -ela não conseguiu segurar o riso, e eu ri logo após ela, minha mãe era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia, ela me conhecia melhor que ninguém, ela era carinhosa e companheira, amava seu jeito doce e positivo de levar as coisas na vida, seus cabelos pretos cacheados brilhavam ao sol e seu sorriso tornava tudo mais bonito. Depois de 7 minutos chegamos na bendita escola, minha mãe sorriu e segurou minha mão.
-Não importa aonde estamos ou para onde vamos o importante é que estaremos sempre juntas, quando não estivermos juntas fisicamente, estaremos conectadas por aqui.... -disse ela colocando a mão sobre o peito esquerdo. -Quando você precisar de mim e eu não esta por perto ouça seu coração, ele sempre dirá o certo a fazer....
-Credo mãe, do jeito como você fala é como se....Ah deixa pra lá. -disse pegando minha mochila e fechando a porta de seu carro meio prata esverdeado.
-Sophia!! -ela gritou, coloquei o rosto no vidro do carro.
-Eu te amo! -disse ela.
-Eu também. -Respondi, me virei e olhei para baixo, percebi que meu cadarço estava desamarrado, me abaixei para amarrar, quando levantei quase cai pra trás.
-Te assustei? -Perguntou Thomas.
-Um pouco... -Respondi.
-Não foi minha intenção !
-Sem problema, mas e ai... Quando começa a primeira aula?
-Daqui uns minutos, vamos? -ele se ofereceu para me acompanhar até a sala de aula. -Mas e ai o que você gosta de ler? -perguntou curioso.
-Como você sabe que eu gosto de ler ?
-Você tem cara de que gostado ler
-Ah, e tem cara pra isso agora? -perguntei e ele riu.
-Então não vai responder ?
-Bom....eu não tenho uma resposta formada pra te dar, mas eu gosto de romance, ficção...
-Que tipo de ficção? -perguntou.
-Tipo criaturas mitológicas, bruxas, vampiros...
-E você nunca pensou na possibilidade dessas coisas existirem? Pra você isso fica só na ficção ? -perguntou.
-Por que eu deveria acreditar?!
-Chegamos na sala!!! As damas primeiro ...
-Grata! -entramos e eu sentei no canto, não gostava de chamar muita atenção, logo depois entrou o professor e começou a dar aula, passando um texto no quadro, depois de 15 minutos alguém bateu na porta.
-Professor, me desculpe pelo atraso, posso entrar? -perguntou um garoto, não me dei ao trabalho de levantar o rosto, mas os comentários e suspiros das meninas ao lado me deixaram com uma ponta de curiosidade, me atrevi a olhar e percebi que ele fazia o mesmo.
-Você.... -ele falou em voz alta, e alguns dos estudantes daquela sala olharam para mim.
-Sr.Parker poderia se sentar por favor? -disse o professor fazendo o garoto dos olhos verdes tirar seu foco de mim e sentar-se na cadeira, olhei para Thomas que estava atrás de mim, depois pude perceber que no momento os dois se encaravam.
-Thomas, tudo bem? -perguntei.
-Tudo ótimo! Ele não tira os olhos de você isso é um mal sinal!
-O que?! -perguntei confusa -Do que você está falando?!
-Nada....
As três primeiras aulas tinham passado e todos foram para o refeitório. Uma menina chamada Hayley perguntou se eu queria sentar com elas e eu aceitei. Ao sentar na mesa uma menina extremamente alegre dos cabelos loiros cacheados me olhava com um sorriso de orelha a orelha.
-Olá, meu nome é Catherine Williams, e o seu? -Perguntou a menina feliz.
-Sophia Campbell....
-Prazer seja bem vinda, espero que goste daqui e que se divirta muito.
-Realmente ela deve ter se divertido muito hoje na aula de geometria -disse uma menina dos cabelos ruivos sentada ao lado de Catherine
-Como? -perguntei, surpresa com a cara de pau da menina.
-Fica na sua Morgana -Hayley me defendeu.
-Fala sério, como se ela não tivesse gostado da atenção que ela recebeu do Vincent
-Vincent? Mas quem é esse ? -perguntei.
-O cara do olhos verdes! -explicou Morgana.
-Eu nem conheço ele! -me defendi.
-É, mas ele parece te conhecer muito bem.... -provocou ela.
-Mô, limpa aqui no canto da sua boca, o veneno ta escorrendo -brincou Cath.
-Era pra ser engraçado? -disse Morgana.
-Não, não era não ....
-Morgana! -chamou uma voz atrás de mim.
-Safira, oi!
-Vem sentar comigo, vem! -disse uma menina dos cabelos pretos e olhos da cor de jabuticaba, ela me encarou como se me analisasse, mas ao mesmo tempo soubesse muita coisa sobre mim, Morgana foi com ela para uma mesa um pouco distante dali.
-De gente estranha o mundo ta cheio. -falei, Cath e Hayley riram. Depois do intervalo, assisti mais três aulas, fiquei muito amiga das meninas, menos de Safira é claro, ela não ia com a minha cara de jeito nenhum. Na saída fui barrada, Morgana e Safira me pararam.
-Queria conversar ! -disse Morgana.
-Hm....vcs são duas, conversem entre si! -eu disse, e elas se colocaram na minha frente.
-Conversar com você! -insistiu ela.
-Ai eu já não sei se posso te ajudar....
-É sério!
-E eu to brincando por acaso?!
-Preciso de um favor !! -ela falava.
-Pedi pra sua fiel escudeira ai.... -provoquei.
-Eu também queria me desculpar com você! -ela continuava.
-Jura?! -disse com um tom de deboche.
-Juro!!
-Aliás, eu não posso fazer o favor, porque ela torceu o pé e eu tenho que ficar aqui caso ela caia! -disse Safira do nada.
-Se ela cai, ela levanta, beijo!!! -tentei sair e fui impedida mais uma vez. -Tá chato isso....
-Concordo!! Eu só quero que você busque um rímel pra mim que eu deixei lá no banheiro! -insistia Morgana.
-Sério que essa enrolação toda aqui é pra isso? Amanhã aparece no achados e perdidos!
-Não saio daqui sem meu rímel! -ela disse.
-Se for pra vocês me deixarem em paz.... -falei e fui até o banheiro, chegando lá olhei a pia do banheiro e nada, sozinha, falei comigo mesma.
-Não tem rímel nenhum aqui....loucas!
-É claro que não tem! -disse Morgana fechando a porta do banheiro, me deixando trancada.
-Me tira daqui sua doida!!
-Tenha uma boa ida para o inferno Sosô-comemorava Safira, só não sei como me trancar no banheiro me deixava....morta!
-Que cheiro é esse?! -perguntei a mim mesma,olhei para trás e vi uma fumaça, o banheiro estava pegando fogo. -Me tira daqui!!! -Eu estava ficando tonta, não conseguia raciocinar, meus olhos fechavam lentamente, estava mais difícil respirar, eu estava a ponto de parar de respirar totalmente, então pude ouvi alguém arrombando a porta, minha visão estava embaçada, até que....apaguei.
Acordei, já respirando melhor, mas meu olhar ainda estava embaçado, pisquei mais algumas vezes e pude ver minha mãe, meu pai e....Vincent? Ele estava do meu lado, me observando, olhei para a porta e pude ver o médico chamar meus pais.
-O que aconteceu?! -perguntei com a voz meio rouca.
-Eu estava saindo da sala e percebi uma coisa diferente no banheiro feminino, eu cheguei perto e a porta tava trancada.....eu arrombei, e vc estava desmaiada, eu te tirei dali e liguei pra uma ambulância.
-E o colégio?
-Acho que a gente vai ficar sem aula por uns dias...
-Obrigada! -disse pegando em sua mão.
-Por nada...eu, eu sempre esperei por esse momento!
-Mas que momento?! -perguntei confusa.
-O momento em que eu pudesse te tocar...
-Você diz como se você tivesse vivido pra isso.... -disse com uma risadinha.
-E se for?
-Mas não é, você me conheceu há pouco tempo e....
-Você me conheceu há pouco tempo! Eu te conheço há um bom e longo tempo.... -disse Vincent.
-De onde? -perguntei mais confusa ainda.
-Dos meus sonhos, você está presente em todos eles.

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