Chapter 2

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Uma luz intensa parece penetrar os meus olhos. Não sei o que é, mas a sua intensidade incomoda-me e abro lentamente um olho de cada vez.

Olho ao meu redor e vejo a fonte da luz. É apenas uma janela cujos estouros se encontram abertos.

Volto a olhar ao meu redor, e só então reparo que não estou morta como tanto desejava. Encontro-me num sítio com paredes brancas e um cadeirão branco no fundo da divisão.

Tento erguer o meu corpo para me levantar e sair dali, mas uma pontada na minha cabeça impede-me o fazer. Levo as mãos ao local da dor por impulso e inclino a cabeça para o lado, e só então reparo na máquina cardíaca que se encontrava ligada a mim. Estaria eu num hospital?

Olho para o meu corpo e vejo-me vestida com uma daquelas batas brancas horríveis com uma frecha na parte de trás.

As minhas suspeitas estavam confirmadas... eu estava mesmo num hospital.


Assim que a dor passa, levanto-me da maca e tiro as agulhas e o tubo que estavam espetados nos meus braços. No entanto, assim que o faço, a máquina começa a fazer imediatamente um barulho ensurdecedor, denunciando assim a minha tentativa de fuga do hospital.

Segundos depois, entram a correr apressadamente no quarto duas enfermeiras e um médico, que ao me verem acordada e levantada, param de correr e sorriem.

"Bom dia Beatrice. Vejo que finalmente acordou." disse o médico, recompondo-se e estendendo-me a sua mão para um passou-bem.

"Posso ir embora?" pergunto friamente, sem querer saber do que ele me dissera.

"Por enquanto ainda não Beatrice. Terá de ficar aqui mais uns dias para observação, e só então poderá ir embora." ele respondeu-me, encolhendo o seu braço para si e colocando ambas as mãos nos bolsos da bata.

"Está bem. Sendo assim posso comer?" perguntei, já com a barriga a fazer aquele pequeno roncar comum para me avisar que estava na hora de comer. O médico e as enfermeiras deram uma leve gargalhada com a minha pergunta, e logo em seguida uma das enfermeiras garantiu-me que me traria a comida dentro de pouco tempo.

Ambas as enfermeiras dispersaram e apenas o médico ficou no quarto. Eu voltei-me a deitar na cama de hospital e o médico voltou a colocar-me as agulhas e o tubo nos braços.

"Há quanto tempo estou aqui?" perguntei serenamente.

"Há quase dois meses, em coma. A menina não deveria ter saltado daquele prédio." e prontos, lá tinha de vir o sermão...

"Aich, sermão agora é que não." reclamei. "Eu lá tive as minhas razões pra fazer o que fiz."

"E que razões tão fortes foram essas para tentar acabar com a sua vida?" ele perguntou retoricamente, mas eu troquei-lhe as voltas e resolvi responder-lhe. Eu sou daquelas pirralhas ambulantes que têm sempre uma resposta para tudo na ponta da língua.

"Eu detesto a minha vida."

"E isso é razão suficiente?" ele perguntou.

"Sim é. Você por acaso sabe qual é a sensação de ser sempre excluído a todo o momento?" o médico permaneceu calado e eu continuei. "Bem me parecia, o senhor não sabe o que isso é, mas posso garantir-lhe que é simplesmente horrível. A sensação de não termos amigos é péssima. Mas ainda pior que isso... a sensação de ninguém querer saber de nós é simplesmente desanimadora. Se eu acabasse com a minha vida tudo seria diferente. Se eu o fizesse, talvez eu fosse finalmente feliz."

"Porque diz isso Beatrice?"

"Se o senhor tivesse uma vida como a minha, iria compreender-me." respondi. "Eu tenho apenas uma amiga que gosta de mim tal e qual como sou. Sofro de bullying na escola e o meu pai está preso. A minha mãe morreu quando eu era pequena e vivo com a minha prima, que pouco mais velha é que eu, e que teve de abdicar do resto dos seus estudos para nos sustentar às duas. Como se isso não bastasse, ainda tive de ser ingénua o suficiente para acreditar que alguém poderia realmente gostar de mim, e seguir por maus caminhos pelo amor que tinha por ele. À conta disso destrui a minha vida. Tenho cadastro na polícia por uma coisa que não fiz, e ele persegue-me para todo o lado com medo que eu me desbronque à polícia."

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