Chapter 22

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Evelyn P.O.V.

Lágrimas ameaçavam brotar dos meus olhos, e a minha vista ligeiramente turva estava focada na imagem inerte à minha frente. Incontida no desespero da exasperação, levanto-me apressadamente e olho ao meu redor. A casa de banho estava completamente vazia, visto que as aulas ainda estavam a decorrer, e um silêncio agoniante pairava no ar.

Dirijo-me aceleradamente até à entrada, e com cuidado, espreito pela porta entreaberta, observando o corredor vazio à minha frente.

Olho mais uma vez para trás, deixando escapar um suspiro profundo e pesado, e saio apressadamente da divisão, fechando a porta à saída.

Movo-me apressadamente até à ala hospitalar e entro disparada. A enfermeira olha-me preocupada, visto que a minha respiração irregular estava muito acelerada, e na minha camisola branca encontravam-se alguns vestígios de sangue. O meu olhar caí na pequena caixa de primeiros socorros por cima da maca, e volto a observar a figura de bata branca à minha frente.

"A menina está bem?" inquire a enfermeira com um olhar desconfiado.

"Sim." respondo apressadamente. "É que uma colega minha escorregou enquanto tentava subir aquele muro lá atrás do pavilhão de biologia, e fez um corte na perna. Será que eu podia levar o estojo de primeiros socorros para tratar da ferida?"

"Não há necessidade. Eu posso ir lá consigo." afirma a senhora.

"Deixe estar, a sério. Pode aparecer aqui alguém e eu não quero roubar-lhe tempo."

"Sendo assim tem aqui o estojo de primeiros socorros, mas depois terá de mo vir devolver."

"Claro, obrigada." agradeci.

Sigo até à maca que esteva no fundo da divisão e pego calmamente na caixa de primeiros socorros, sorrindo forçadamente. Continuo o meu caminho até à saída, e assim que me encontro a uma distância considerável da ala hospitalar, desato a correr até à casa de banho.

Abro a porta e fecho-a numa milésima de segundo, encostando-me apressadamente e escorregando por ela. O meu coração parecia que ia saltar com a velocidade alucinante do meu batimento cardíaco, e a minha respiração estava de tal maneira acelerada que era possível ouvi-la ecoar por entre aquelas quatro paredes.

Já mais calma, levanto-me do chão imundo e cheio de bactérias e tranco a porta, rodando o trinco de segurança. A minha mão vai ao encontro do me rabo, sacudindo a poeira e sujidade acumulada no chão, e movimento-a freneticamente de um lado para o outro.

Dirijo-me até aos lavatórios e abro a torneira, lavando as mãos e a cara com a água gélida por ela corria.

Olho novamente para trás, e deixando escapar um suspiro profundo e pesado, ajoelho-me ao lado de Beatrice. Abro a caixa de primeiros socorros, começando a limpar cuidadosamente as suas feridas e a pressioná-las com as gases e ligaduras, tentando estancar o sangue que por elas corriam. Digamos que ter uma mãe que seja enfermeira e nos esteja constantemente a ensinar coisas sobre o seu trabalho sempre dá jeito de vez em quando.

Quando finalmente termino o curativo, enrolo mais uma camada de ligaduras em torno dos seus pulsos para prevenção, e arrumo tudo aquilo que tinha utilizado.

Vou até ao lavatório e volto a lavar as minhas mãos, que agora se encontravam completamente ensanguentadas. Com o toque da água na minha pele, ia-se formando no fundo da bacia uma mistura ensanguentada que escorria pelo ralo do lavatório, deixando no entanto um rasto vermelho à sua passagem.

"Evelyn?!" uma voz rouca murmurou.

Virei-me para trás assustada e vi a imagem de Beatrice mover-se do sítio onde estava, tentando colocar-se de pé. Porém, assim que o tentou fazer, as suas pernas cederam e perderam a força, e ela voltou a cair no chão.

Apressei-me a ajoelhar-me a seu lado e verificar se ela não se tinha magoado.

"Sentes-te bem?" inquiri.

"Sim, não te preocupes." ela respondeu.

"Tens a certeza?" perguntei de novo.

"Sim, apenas... o que aconteceu?"

Suspirei profundamente e sentei-me a seu lado, começando a explicar-lhe o sucedido.

"Porque o fizeste?" perguntei, assim que terminei de lhe contar aquilo que tinha acontecido.

"Evelyn..."

"Por favor, eu não quero mentiras."

O seu olhar desvia-se até ao canto da divisão. A sua boca é aberta, mas nenhuma palavra é emitida. Uma lágrima corre pelo seu olho e oiço uma fungadela vir da figura pálida à minha frente. Já estava a começar a ficar preocupada.

"Eu conto-te tudo, mas será que o podemos fazer noutro sítio?"

"Claro." respondi. "Anda, vamos para minha casa. A minha mãe está a trabalhar e os meus irmãos ainda estão nas aulas."

"Okay, sendo assim vamos lá." ela disse.

Coloquei um braço em torno da sua cintura, ajudando-a a levantar-se. Pego nas nossas malas e destranco a porta da casa de banho. Depois de verificarmos se estava tudo limpo, vamos andando calmamente pelo corredor, parando na ala hospitalar pelo caminho para devolver a caixa de primeiros socorros.

Assim que chegamos ao portão, saímos da escola e dirigimo-nos até ao parque de estacionamento, onde se encontrava estacionado o meu carro já um pouco antigo.

Ainda demoramos um pouco a encontra-lo, visto que esquecida como sou, já nem sabia onde o tinha deixado, mas lá acabamos por o encontrar finalmente no fundo do estacionamento, mesmo ao lado de um descapotável vermelho. Provavelmente, e tendo em conta o estado do carro, devia pertencer a algum professor da escola. Não tinha um único risco, e em cima do banco da frente estavam uns óculos de sol escuros.


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