Eu sei que é chato, mas eu fiz algumas modificações no capítulo anterior, e é crucial que o voltem a reler para compreenderem o que se seguirá. Peço imensa desculpa.
Respirei fundo e suspirei pesadamente, deixando a minha respiração intensa e pesada ser ouvida por toda a divisão.
As lágrimas corriam agora pelos meus olhos, numa tentativa inútil de fazer a dor sair do meu peito.
Desviei o meu olhar do espelho à minha frente e abri a torneira, deixando a água correr. Juntei as mãos debaixo da torneira e de seguida levei-as até ao meu rosto, passando a água fria por toda a minha face.
Certifiquei-me que não estava mais ninguém na divisão e fechei a porta, dirigindo-me depois até um dos pequenos cubículos individuais da casa de banho, entrando e trancando-o. Encostei-me à porta e deixei-me escorregar por ela, começando a chorar compulsivamente.
Encontrava-me agora totalmente encolhida, abraçada aos meus joelhos num estado lastimável. As lágrimas corriam compulsivamente pelos meus olhos, e por muito que tentasse pará-las, não conseguia.
Na minha mente ecoavam perguntas e perguntas, mas a resposta era sempre a mesma. Eu mereço tudo isto que me está a acontecer. Eu sei, eu estou-me a destruir aos poucos, mas talvez seja essa a única solução. Eu apenas estou a tentar arranjar uma saída para os meus problemas, e por muito que me queira convencer do contrário, eu sei que o problema aqui sou eu.
Levantei-me apressadamente e limpei as lágrimas com as costas das minhas mãos, ainda que isso fosse inútil, visto que as lágrimas continuavam a escorrer pelos meus olhos como um poço sem fim. Retirei a mochila dos meus ombros e abri o fecho, revirando-a do avesso à procura da minha pequena caixinha. Assim que a encontrei, abri-a cuidadosamente e analisei cada uma das minhas lâminas, procurando a mais afiada.
Ainda me lembro da altura em que as lâminas dos afias serviam apenas para afiar os lápis...
Encostei-me aos azulejos frios da parede da casa de banho e sentei-me no chão. Afastei as pulseiras que cobriam o meu pulso coberto de cicatrizes, marcas de luta contra mim mesma, e encarei o meu pulso pálido e frágil.
As minhas veias pulsantes e salientes quase que me imploravam para que o fizesse, e sem pensar duas vezes, levei a lâmina ao meu pulso e cravei-a num golpe profundo e desesperado, fazendo rapidamente uma linha avermelhada surgir ao de cima da minha pele.
Os cortes nos meus pulsos aumentavam a cada lágrima que caia pelo meu rosto, e o sangue escorria pelo meu braço até cair no chão. O som das gotas de sangue a caírem no pavimento frio ecoavam no vazio da casa de banho, e as lágrimas que corriam pelos meus olhos pareciam não querer parar.
Ninguém consegue imaginar o que é esconder todas estas cicatrizes, todas as lágrimas, todo o sofrimento atrás de um sorriso, um falso sorriso.
Cansa, sabem? Cansa sustentar aquele típico sorriso, como quem diz "eu estou bem!". Custa ter de interpretar o papel do "eu sou forte" dia após dia. Simplesmente cansa.
Quando dei por mim, envolta numa poça de sangue, as minhas mãos tremiam e os meus olhos teimavam em fechar-se.
Os cortes profundos que fizera anteriormente no meu braço pareciam mais abertos que das outras vezes, e o sangue não parava de correr. A possibilidade de ter cortado acidentalmente uma veia logo se apoderou do meu pensamento, e a preocupação rapidamente tomou conta de mim.
Ainda com a minha vista distorcida, levantei-me calmamente do sítio onde estava deitada e tentei achar o trinco da fechadura, mas as lágrimas que corriam pelos meus olhos não me deixavam encontra-la. Começava agora a entrar em pânico. Levei a minha mão até à porta e tentei encontrar o trinco, mas o meu corpo enfraquecido acabou por não aguentar e voltei a cair sobre o chão coberto de sangue.
Nunca antes me vira num estado assim. Os meus músculos estavam enfraquecidos, o meu coração batia sem força e precisão e a minha respiração encontrava-se totalmente descontrolada.
A minha cabeça pendia para baixo, não encontrando força suficiente para se manter inerte neste estado de desespero. O meu corpo tremia e os meus longos cabelos ruivos encontravam-se agora colados ao meu pescoço, devido ao meu suor inconstante. O meu corpo parecia mais pálido que nunca, e sentia os dentes baterem uns contra os outros devido ao frio.
Num momento de desespero, ergo o meu corpo e consigo por fim abrir a porta, mas de nada me valeu todo esse sacrifício, uma vez que me mantinha sem força suficiente para me levantar.
Começava agora a sentir pontadas na minha cabeça. O meu corpo enfraquecido e debilitado tremia e os meus lábios começavam a mudar ligeiramente a sua tonalidade para um arroxeado pálido.
De repente oiço a porta de entrada da casa de banho ser aberta, e rapidamente um grito estridente se faz ouvir.
"Beatrice? Beatrice, estás bem? Estás-me a ouvir?" perguntou uma voz familiar, puxando-me vagarosamente para o lado.
"Ajuda-me" murmurei com as poucas forças que tinha.
OK, eu sei que a música não tem mesmo quase nada a ver com o resto do capítulo, mas esta é a minha música preferida e eu não me contive :*
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Never say never...
RandomÀs vezes, as escolhas erradas levam-nos por caminhos errados, e Beatrice não foi exceção. A sua vida é um verdadeiro jogo sem saída, onde as mentiras são a principal realidade e a verdade é estritamente proibida. [Atenção: Antes de começarem a ler q...