P.O.V. Beatrice
"Esteja à vontade!" disse amavelmente a psicóloga, fechando a porta do consultório atrás de si com um largo e branco sorriso no rosto.
Olho ao meu redor, observando o pequeno consultório em que me encontrava, e de seguida avanço até uma cadeira velha e desusada em frente à secretária e sento-me nela. Apoio as minhas costas no encosto almofadado da cadeira, e curvando ligeiramente a minha coluna, ponho-me numa posição confortável.
O meu olhar faz uma pequena vistoria ao consultório, observando-o atentamente e examinando cada canto. Posso garantir que em toda a minha vida, nunca tinha visto um espaço de trabalho tão limpo e organizado!
As estantes que cobriam por completo as paredes, estavam repletas de obras académicas de aspeto genérico, em volumes de capa dura com cores neutras e letras prateadas. Os suportes suspensos na parede estavam atestados de livros dos mais diversos tipos, como sagas vampiresas ou coleções românticas, talvez para passar o tempo. As cómodas de escritório cinzentas encostadas à parede estavam todas organizadas alfabeticamente, com todos os processos escolares de todos os alunos da escola. A secretária estava atestada de papelada, e por trás dela, encontrava-se uma cadeira giratória de couro em tons de preto.
No geral, todo o consultório era em tons joviais. As paredes eram de um tom branco pálido. As cortinas finas e meio transparentes eram azuis-turquesa, tal e qual como o tapete grande e felpudo que ocupava grande parte do consultório. As estantes e a secretária eram de madeira. E o enorme candeeiro negro pendurado no tecto condizia lindamente com as cadeiras dos pacientes, também negras e acolchoadas.
"O meu nome é Constance Foster, e eu sou a psicóloga aqui do liceu." apresentou-se a senhora, tirando-me dos meus pensamentos. "Como deve calcular, eu estive a dar uma vista de olhos pelo seu processo depois do seu primo ter vindo falar comigo esta manhã, e devo dizer que ao longo de toda a minha carreira profissional como psicóloga, nunca me tinha passado pelas mãos um processo tão elaborado e complicado quanto o seu." ela confessou.
"E?!" inquiri rudemente, já sem paciência.
"E como deve calcular, eu acho que não estou à altura para a ajudar. Por essa mesma razão, queria transferir o seu caso para um colega meu. Ele também é psicólogo aqui na escola, e julgo que estará numa posição mais apta para falar mais abertamente consigo em relação ao seu problema. Ele costuma regularmente vir cá dar palestras à escola, e além disso é ainda professor de psicologia avançada e trabalha também como psicólogo particular com os alunos com casos mais... especiais, como o seu."
"E isso é suposto significar o quê?"
"Isto significa, que com muita pena minha, irei transferir o seu caso para o meu colega. Sendo assim, ele passará a ser o seu psicólogo."
"E quem disse que eu queria ter um psicólogo?" questionei friamente.
"Ninguém, mas tanto quanto sei, a menina está a tentar recomeçar do zero. Talvez a ajuda de um profissional possa ser uma grande benesse para si!"
Bufei em desagrado e revirei os olhos.
Quando entrei nesta sala, pensava que o suposto era vir para aqui desabafar para me sentir melhor, mas afinal de contas não falei sobre os meus problemas e ainda tive de ficar aqui a ouvir todo este fala-barato todo!
"Pense nisso." pediu Miss Foster.
"Ok!" respondi, levantando-me da cadeira e saindo do consultório.
Fiz o caminho de volta até ao corredor. Assim que finalmente o alcancei, baixei o meu olhar até ao chão e pus as mãos nos bolsos, começando a caminhar sem destino.
Será que devo realmente aceitar e começar a ter consultas com um psicólogo?
Quer dizer... eu sei que seria um grande benefício para mim, mas talvez eu consiga resolver isto sozinha.
Eu sei que consigo fazê-lo sozinha.
Eu sei que sou capaz.
Eu sou forte o suficiente para aguentar com este tormento, já estive em situações piores que esta.
Eu não preciso de ajuda.
"Porra!" reclamo.
Ia tão distraída na minha que fui contra um corpo que apareceu do nada à minha frente, e acabei a cair de cú, só mesmo 'pra variar.
"Estás bem?" pergunta apressadamente uma voz masculina num tom preocupado.
Olho para cima, observando o emplastro que me tinha feito cair que nem uma otária no meio do chão, e rapidamente me arrependo de todos os nomes e insultos que lhe tinha chamado mentalmente.
Ele era simplesmente lindo.
O seu cabelo era de um tom meio aloirado, e os seus olhos eram simplesmente únicos, com uma cor que diferenciava um pouco entre o verde e o azul.
O rapaz envergava umas skinny jeans pretas e uma camisola branca de manga à cava, que dava uma visão única e perfeita para as tatuagens que tinha espalhadas pelo seu corpo.
"Desculpa." ele pediu. "A sério, peço imensa desculpa. Vinha distraído a mexer no telemóvel e choquei contra ti sem querer."
"Não há problema. Em parte a culpa também foi minha. Vinha distraída nos meus pensamentos e nem dei conta de estar alguém à minha frente." disse, amenizando um pouco a situação.
Apoio as mãos no chão imundo e impulsiono nelas o peso do meu corpo, levantando-me a custo do chão frio e massajando ao de leve a minha nádega dorida.
"Mais uma vez lamento imenso pelo que aconteceu." ele volta a desculpar-se. "Eu sou o Josh Devine, e esta beldade à minha frente?" ele apresenta-se, atirando-se a mim.
Olho-o com desprezo de cima a baixo, erguendo as sobrancelhas de uma forma desprezível.
De repente a minha opinião em relação a ele tinha mudado drasticamente.
"Esta 'beldade' à tua frente, é a rapariga que te vai dar um murro nos cornos se lhe voltares a dirigir a palavra." aviso, fazendo aspas com os dedos.
"Difícil, gosto disso."
Viro-lhe costas imediatamente e continuo a andar pelos corredores, ignorando-o a chamar-me lá ao fundo.
Pego no horário que se encontrava dentro da minha mochila, onde acabo por procurar a aula em que teria em seguida. Ao que parece será Matemática A, por isso desejem-me boa sorte. Eu sempre odeiei matemática, e acreditem em mim ou não, Matemática A é horrível e extremamente difícil. Oxalá essa disciplina não existisse.
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Never say never...
RandomÀs vezes, as escolhas erradas levam-nos por caminhos errados, e Beatrice não foi exceção. A sua vida é um verdadeiro jogo sem saída, onde as mentiras são a principal realidade e a verdade é estritamente proibida. [Atenção: Antes de começarem a ler q...