Capítulo V

209 41 19
                                    


O cheiro era horrendo, entre uma mistura sufocante de fuligem, terra e algo que Akemi conhecia muito bem... Sangue.


Seu corpo doía por completo, ela não sentia conseguir mover os músculos enquanto aos poucos entrava em uma crise de pânico. Os sons altos de gritos e sirenes pareciam como o inferno em sua mente enquanto seus olhos vagos observavam a distância alguns corpos esmagados pelos escombros.


— Ela voltou — Alguém anunciou quando Akemi encarou todo o inferno de maneira distante — Fique acordada! Ei!


Então, seus olhos se abriram de maneira brusca enquanto seu corpo se levantava. Suor deslizava por seu corpo grudando sua roupa hospitalar, os batimentos contados no monitor pareciam desenfreados enquanto Akemi parecia aos poucos relaxar de seu pesadelo.


Mas aquilo não foi um pesadelo... Era sua lembrança de minutos depois do desastre, alguns poucos flash de memórias do resgate e a tormenta que aquela Shibuya se tornou diante da queda do meteoro e o tremor gerado por ele. Akemi era como outros vários sobreviventes, uma pessoa traumatizada que se perguntava o motivo de ter sobrevivido.


Mas quando ela olhava para o céu noturno a procura de respostas, um vazio em seu interior somente se mostrava mais presente como se disesse que aquele ato muitas vezes foi realizado na presença de mais alguém... Era nostálgico.


♠ — ♠


O exame seria uma ressonância, foi o que a enfermeira chefe disse enquanto empurrava a cadeira de rodas de uma maneira não muito animada. O doutor estava ao seu lado de maneira ranzinza dizendo sobre não acreditar que uma psiquiatra estava o obrigando a fazer aquele tipo de exame.


Mas Akemi pouco se importava em absorver tudo aquilo, pelo contrário, as vozes apenas passavam por uma orelha a outra sem atingir a mulher. Seja por não se importar, ou pela sua mente estar focada demais em seu irmão, tudo aquilo parecia banal e mundano. Um desperdício...


Quando chegou a sala deitou na esteira e ficou observando o teto branco do consultório com olhos tão vagos e cansados, seus músculos estavam firmes e ela pode escutar a enfermeira dizendo o quanto estava feliz que "Akemi acordou meio sem vida aquela manhã".


— Vou ligar o aparelho — Informaram sem dar muita importância para a dançarina que apenas confirmou.


A esteira começou a se mexer e seu corpo foi puxado para dentro da cabine. O som era irritante, o lugar tão apertado e o branco profundo junto de uma estranha luz fez seu corpo começar a se contorcer e Akemi gritou.


Não por uma dor convencional, Akemi gritava por socorro enquanto algo na sua mente implorava que ela fugisse dali. Aquele som parecia entorpecer seus sentidos e não a deixava pensar direito enquanto ela praticamente batia contra as paredes do equipamento que foi desligado as pressas.


Não deu tempo de sequer os enfermeiros ou médicos entrarem no lugar para acudir a jovem mulher, ela saiu tão rápido da esteira e correu institivamente para a parede deixando suas costas protegidas. Sua mão foi até sua perna tocando a bandagem, mas estava errado, era como se algo tivesse de estar ali...

Raposa Negra, Gato Branco | Chishiya ShuntaroOnde histórias criam vida. Descubra agora