Capítulo VIII

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Era a sua terceira sessão de terapia, Akemi estava esperando a médica voltar de uma emergência apenas para finalizar aquele entediante encontro. Ao seu lado, o homem loiro esperava a sua vez sem abandonar aquele ar de superioridade.


— Escuta— Akemi o chamou, parecia que sua formalidade havia ido para o espaço com aquele homem de aparência traiçoeiramente bela— Sua família é rica?


— Qual é a da pergunta?


— Eu notei que as enfermeiras são sempre cordeais... Até demais— Observando as pernas ainda tão cheia de curativos, ponderou— Mas você continua com um quarto compartilhado... Então... Ou você é de uma família importante, mas insiste em não querer mudar de quarto, ou sua carinha bonita faz as enfermeiras ignorarem seu tom sarcástico.


— É minha cara que é bonita— Ele repetiu em deboche.


 ♠ — ♠


Uma estudante de psicologia empurrava a cadeira de rodas, a mando de sua supervisora que estava "ocupada demais coagindo um dos seus pacientes mais difíceis" a cumprir sua promessa anterior.


— Doutora?— A mais nova falou parando de exercer força contra a cadeira, a porta aberta mostrava a visão de Chishiya junto da psiquiatra do hospital— Estou com a paciente Akemi. Quer que eu vá na frente.


— AH! Boa tarde Akemi, perdão não ter passado no seu quarto para te buscar a nossa primeira reunião, mas estou tendo de lidar com uma bela dor de cabeça aqui— A dançarina pode notar em meio a toda falação o corpo do loiro se mexer um pouco, apenas para poder observar a mulher presa a cadeira de rodas.


— Não sabe cumprir com as próprias promessas? Você é sujo, Chishiya— Zombou a de olhos opostos fazendo as demais mulheres presentes no quarto quase gritarem em espanto. Akemi chegou a tentar se levantar, mas em meio ao desespero, a estudante de psicologia a puxou de volta para a cadeira— EI! Cuidado, sou delicada!


— Disse a mulher que sequer consegue obedecer a uma simples recomendação médica.


— São feitas para serem quebradas— Rebateu— Diferente de promessas. Gato estúpido!


O apelido saiu de maneira espontânea, sequer havia parado para pensar antes de deixar que deslizasse de seus lábios. Mas agora, entre o choque, vergonha e pensamentos, até que aquele apelido combinava com o loiro.


Era uma pena que trazia algum sentimento tão amargo, mesmo sem saber o porquê...


 ♠ — ♠


Quando chegaram ao local que ocorreria a sessão em grupo, Akemi notou a quantidade de pessoas destruídas que o meteoro deixou para trás. Muitos tinham ferimentos graves, alguns sem um membro e outros era claro o olhar perturbador da perda.


Respirando de maneira pesada, fez as mãos deslizarem até as rodas da cadeira a fazendo percorrer sozinha o que faltava até seu lugar reservado. Suas mãos estavam inquietas, os olhos iam de uma pessoa até outra enquanto ar era obrigado a ser engolido.


Havia um homem com boa parte de seu corpo carbonizado sentado não muito longe de Akemi, seus olhos intensos fizeram seus órgãos vibrarem e jamais seria de uma forma boa. Cravando as unhas no tecido de seu pijama hospitalar, tentou não abaixar o olhar, mas continuar vagando lentamente entre os demais.


Akemi reconheceu Arisu e foi nítido o quanto aquilo a animou, balançando as mãos para mostrar sua presença, recebeu um sorriso que a fez corar.


— Então você gosta dos tipos inocentes— Zombou Chishiya ao seu lado, tão entediado quanto estaria caso estivesse preso em seu quarto. Ah, mas uma de suas diversões naquele hospital estava sentada ao seu lado— Mas ele parece estar gostando já de outro alguém.


Akemi fingiu ignorar o comentário masculino, mas seus olhos foram até a figura feminina sentada ao lado de Arisu. Ela havia machucado a perna assim como Akemi, mas precisava apenas de uma muleta para locomover.


— Cale a boca— Mandou emitindo um ruido de desgosto.


— Vejo que a maioria está aqui— A psiquiatra falou puxando uma cadeira para se sentar— Sejam todos bem-vindos a nossa primeira reunião em grupo. Temos como objetivo o tratamento e apoio em grupo para lidar com todas as nossas perdas devido ao acidente.


— Precisa de ajuda— Uma voz feminina questionou quando de maneira desajeitada, Akemi tentou se locomover usando a cadeira. A dançarina estava tentando pegar um copo de água sem precisar ser um estorvo... Ao menos era isso que ela tinha em mente.


— Eu... Acho que vou aceitar— Ela não queria aceitar, mas lutando contra o orgulho, olhou a figura alta e bela reservar um copo para entregar a ela. A dançarina observou em silêncio a jovem de dreadlocks sorrir enquanto entregava o copo quase transbordando.


— Meu nome é Kuina— A mais alta começou, um carisma surreal que fez a tão arrisca raposa praticamente relaxar— E o seu?


— Akemi... Meu nome é Akemi.


— Eu vi que você veio junto do Chishiya. Você o conhece também?


— Ahn... Não muito, trocamos uma ou duas palavras, só foi coincidência. Por quê?


— Eu fiquei surpresa, desde o dia que acordei nunca vi ele falando com mais ninguém além das enfermeiras e médicos— Kuina pareceu sorrir enquanto bebericava do próprio copo.


— Você não conversa com ele? Já que sabe até o nome.


— Ah sim, mas isso é por eu ser sempre enxerida. 

Raposa Negra, Gato Branco | Chishiya ShuntaroOnde histórias criam vida. Descubra agora