Capítulo XIV

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Tweek P.O.V

Muitas coisas mudaram da noite passada para esta manhã, a confiança que tinha em meus pais se dissipou, as mensagens de Craig ficaram sem respostas, Sprite não brincou com sua rodinha de madrugada, Kenny e Butters não foram para suas casas. 

Minha mãe saiu de casa para ir ao mercado quando o sol raiou, assim como meu pai que agia normalmente como se  o que haviam me contado noite passada não fora nada demais. Por mais que eu ainda tivesse muitas perguntas, que inclusive não eram respondidas pela internet por mais que eu ficasse a madrugada pesquisando, tudo parecia ser irreal. 

Logo para mim, que vivia no mundo da lua, imaginando centenas de hipóteses fantasiosas por segundo, minha história parecia ser irreal até mesmo para um residente de South Park. Se eles podiam agir normalmente, então eu também poderia. 

Coloquei meu casaco, peguei minha mochila e subi na bicicleta indo para escola com os garotos, não importavam o quanto eles dissessem que eu parecia estar em uma espécie de choque, queria me distrair o suficiente para não entrar em colapso.

Imagine que você cresceu pensando ser alguém e no final descobre ser mais novo, ter outra família, estar na mira de uma conspiração. Imagine saber que pessoas morreram por sua causa, pelo simples fato de te conhecer, eu já enlouqueci por muito menos antes. 

A carta de minha mãe biológica estava dentro da mochila, não me atrevi a ler, não tive a coragem necessária para abrir um simples envelope branco amassada. 

Muitas muralhas foram erguidas ao meu redor, muralhas que me distanciavam de muitas pessoas, dentre elas estava Craig que me observava nos portões da escola. A esta altura ele já sabia a verdade, não duvido que Kenny tenha contado ao nosso grupo, da mesma forma que não duvido que a língua solta de Cartman irá espalhar esse boato por toda escola. Isso se ele já não o fez. 

Evitei meus amigos e entrei na sala de aula onde Clyde me esperava como em todas as terças-feiras desde que o segundo ano começou, apesar de odiar as aulas de história devo confessar que eram as menos insuportáveis. 

- Vai continuar fingindo que eu não existo? - Comentou me chamando a atenção. - Tweek, se é pelo que aconteceu ontem na base, esta tudo bem! A gente sabe que você foi pego de surpresa, nós também fomos quando o o Craig explicou tudo. 

- Desculpa cara, e-eu só não sei como t-tocar nesse assunto. - Ele me olhou por cima da ombro. 

- Craig não devia ter fuxicado seu passado, pode ficar irritado se quiser. 

- Não é sobre isso q-que tô falando. - Digo vendo ele arquear a sobrancelha. - Kenny n-não te contou? 

- Contou o que? - Questionou em resposta. 

O McCormick tenha ficado em silêncio pela primeira vez desde que o conheci. Clyde e Tolkien sempre foram meus melhores amigos, talvez eu devesse contar sobre o que descobri, poderia pedir ajuda dos meus amigos e tentar fazer as pazes com eles. 

Pensei durante todo o primeiro período se devia realmente contar ao grupo sobre o que meus pais me disseram, não sei se ainda posso chama-los de pais. Tudo que fiz desde o dia que me salvaram daquele hospital foi faze-los se mudar constantemente, nunca fincar suas raízes em nenhuma cidade, não ter empregos fixos, estabilidade. 

Tudo que me lembro é de como todos se adaptaram a mim, aos meus problemas, o que eu fiz em troca? Nada, apenas fugi quando tive medo. Me escondia, esperava que as pessoas tomassem por mim a decisão da qual eu não era capaz de tomar. 

- Clyde, pode pedir para o nosso grupo se reunir nos fundos da escola depois das aulas? - Pedi. 

- Claro. - Pegou o celular mandando um torpedo. 

Amor com Falhas (CREEK)Onde histórias criam vida. Descubra agora