Inconveniente

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Jenna

Eu e Emma não nos vimos no final de semana. Cheguei a pensar em aparecer, talvez sair com ela, conversar um pouco. No entanto, achei melhor dar um tempo. As coisas entre nós ainda estavam se acertando e tudo tinha sido intenso demais. Seria bom para nós duas dar uma analisada em tudo. E eu gostava de fazer isso, principalmente quando algo me perturbava. E Emma tinha me perturbado. Desde o início eu soube que ela não era para mim, que era diferente de tudo que havia sonhado e esperado em uma mulher. Era agressiva sexualmente, dominadora, dona de si. E tudo que eu desejava era uma mulher doce, companheira e submissa. De preferência romântica como eu, com sonhos parecidos. E no entanto, era Emma que agora ocupava todos os meus pensamentos. Em que momento isso aconteceu eu não sabia. Passei os últimos tempos sem me envolver emocionalmente com ninguém, ainda muito ligada em Chloe. Era só sexo com as outras mulheres. E quando Emma surgiu, com aquele ar de atrevida e mandona, apenas me diverti. Quando ia passar na minha cabeça que uma atração tão forte poderia nascer daí?Fiquei perturbada por ter me deixado dominar, mesmo que de maneira mais leve. Assim como pelo fato de ter me deixado dominá-la. Era algo que nenhum de nós duas queria, abrir mão do nosso domínio, e no entanto nós duas fizemos isso. De comum acordo e ligadas pela forte atração física, deixamos ambas nossos preceitos de lado. E o mais interessante, não foi um sacrifício. Foi delicioso. Eu queria repetir, mas algo me travou naquele final de semana. Talvez tudo que eu quisesse era de um pouco de tempo para recuperar o controle dos meus sentimentos e pensamentos. Por que tinha certeza que não havia sido só sexo. Enquanto estávamos lá, nuas no sofá, nos acariciando e conversando, percebi que gostava muito dela. E não pararia até ver onde aquela relação ia dar. Eu não sabia quase nada sobre Emma, mas tinha percebido seu olhar mais de uma vez. Não queria se entregar em nenhuma relação e era desconfiada. E me perguntei o que tinha dado em mim para só me interessar por mulheres complicadas nos últimos tempos. Chloe daquele jeito, enrolada com Noah e grávida. E agora Emma, que parecia um osso duro de roer. Na segunda-feira cheguei de manhã à agência, estranhamente animada com o fato de vê-la. Cumprimentei Susan e entrei em minha sala, deixando o blazer no encosto da cadeira, pensando em mais tarde dar um pulo na sala de Emma. Ou ela viria até a minha, agradecer pelo buquê robusto de rosas vermelhas que eu tinha mandado enviar em seu apartamento no sábado pela manhã. Um pequeno sinal de como a noite tinha sido para mim. Abri meus e-mails, comecei a trabalhar compenetrada em minha mesa, quando a porta se abriu. Eu esperava que fosse ela ou Susan, não a mulher pequena e delicada que entrou com elegância e fechou a porta atrás de si. Não movi um músculo. Até que falei friamente, contendo a custo minha raiva:

- O que está fazendo aqui?

- Uma visitinha. Vim ver o meu marido. – Grace sorriu e entrou um pouco mais. – E não podia ir embora sem dar um tchau a minha enteada.

- Se é por falta de adeus, pode ir. Não quero você em minha sala.

Parou a alguns passos da minha mesa. Olhou para baixo, fazendo biquinho.

- Só queria ver você, Jenna.

- Já viu. Saia. Meu tom duro a fez estremecer. Ergueu o olhar, com as faces coradas. Era a imagem de uma mulher excitada e nem disfarçou. Murmurou:

- É assim que fala com elas na cama? Mandando? Sendo bruta?

Eu a observei, minha raiva se juntando ao asco, enquanto analisava friamente o que fazer naquela situação delicada. Grace só podia ser louca. Há dois anos vinha se mostrando a esposa perfeita para meu pai e eles estavam completamente apaixonados. E agora, como se tivesse surtado, começava a dar em cima de mim descaradamente. O que ela queria? Ser minha submissa? Saber que tinha pai e filha ao mesmo tempo? Encarei-a com nojo. Talvez fosse naturalmente falsa e não estivesse mais aguentando usar a máscara de boa moça. Uma hora tinha que cair. E resolveu jogar no chão com tudo. O que eu não entendi era por que comigo. Grace se arriscava, já que eu poderia mesmo contar para meu pai. Mesmo ele não acreditando, talvez ficasse desconfiado ou a investigasse. Chegava a ser burrice da parte dela. Franzi o cenho e larguei caneta na mesa, me recostando na cadeira, analisando-a detidamente. Continuava corada, olhos fixos e esperançosos em mim. Percebi que tinha que saber em qual terreno estava pisando.

Submissão - JEMMAOnde histórias criam vida. Descubra agora