Arrependimento.

201 20 1
                                    

Boa tarde, queridos leitores!!

Segue mais um capítulo fresquinho rs.


Emma

Fui para casa como uma sonâmbula. Devia estar satisfeita, pois consegui o que eu queria. Afastar Jenna da minha vida. Extirpar o risco de me entregar a ela mais do que já tinha feito e sofrer. Agora eu estava livre para ser eu mesma e para ter minha vida de volta, sem aquela loucura que Jenna me fez mergulhar desde que a conheci. Devia estar feliz. Mas quando entrei em meu apartamento, sentia a angústia me corroer e uma dor horrível me dilacerar por dentro, principalmente ao lembrar o olhar dela para mim. Um olhar que nunca vi nela, de raiva e nojo, de alguém com asco do outro. De mim. Caí sentada no sofá, sentindo-me gelada, fora de mim. O desprezo de Jenna parecia grudado em minha pele. Eu vi sua decepção, eu podia ter parado. Mas continuei, fiz questão de ir até o fim, de fingir que eu queria e desejava aquilo, quando em nenhum momento eu quis. Quando em todo tempo só pensei em jogar tudo para o alto e me jogar aos pés dela, dizendo o quanto a amava.

- Não ... – Sacudi a cabeça, embargada pelo medo. Passei a vida sozinha, fechada em mim mesma, sempre me virando sozinha. Cansei de esperar ser amada e precisei ser estuprada para entender que o amor nunca me valeria de nada, só me enfraqueceria.

E desde que conheci Jenna, vivi na corda bamba, ameaçada, com medo. Ela podia me ter nas mãos. Podia me esmagar se quisesse. Não me amava, nunca me disse nada nesse sentido. Não me deixava segura, pelo contrário, tirava meu chão, derrubava minhas defesas e tudo em que passei a vida acreditando. Pelo que eu sabia, não tinha escondido de ninguém que amava Chloe, mas a mim nunca disse nada. Porque só queria sexo e se divertir um pouco, até me submeter. Quando isso ocorresse, perderia o interesse. E o que seria de mim? Meu Deus, o que seria de mim? Respirei fundo, tentando me controlar, mas arrasada. Apenas me defendi, antes de sair machucada mais uma vez. Eu agi, ou perderia até aquela capacidade. Estava desesperada, fora do meu eixo, sem poder pensar direito. Eu, que sempre fui dona de mim mesma, agora pertencia a Jenna. E isso eu nunca poderia permitir. Era a maior forma de submissão. Dar a uma pessoa tanto amor e o direito de magoar. Sim, precisava apenas me acalmar. Aos poucos, eu aceitaria o fato de estarmos agora separadas. Chegaria o dia em que a veria e não sentiria mais nada. Só não podia me desesperar nem ligar para aquela dor dentro de mim, muito menos para o fato de ter machucado Jenna. Foi um mal necessário. A única maneira de fazê-la desistir sem tentar, de arrancá-la de vez da minha vida. Solucei e não acreditei quando percebi que estava chorando. Lembrei de seus olhos ... Meu Deus, seus olhos de anjo, que me atraíram desde o início, me olhando com ira e desprezo. Gritando FIM! Impressos para sempre na minha mente, como se fossem marcados a ferro e fogo. Arquejei e mais lágrimas escorreram e então todas as emoções represadas aquele tempo todo extravasaram e chorei copiosamente, fora de mim, despreparada para enfrentar a mim mesma e o que eu fizera. Deitei-me no sofá e me encolhi, tão desnorteada e arrasada que não encontrava mais razões em meus atos, só desespero, enquanto o choro me deixava doente, como se só então tomasse consciência de tudo, de como tinha sido feliz com Jenna, de que não precisava ter me precipitado e estragado tudo daquele jeito. Por que simplesmente não aproveitei e deixei as coisas acontecerem? Eu poderia estar agora em seus braços, beijando-a, amando-a e não ali, sofrendo como uma condenada. Por culpa minha. Esfreguei o rosto, tentando me conter, me controlar, mas meu peito parecia se rasgar. Nunca havia me sentido assim. Porque nunca antes amei daquele jeito e senti tanto medo. Quis me proteger e de que tinha adiantado, se tudo o que eu queria agora era estar com Jenna? Como pude ser tão cega e tão burra, desistir tão fácil sem tentar? Chorei e me lamentei até não aguentar mais e ficar lá, encolhida, cheia de dor de cabeça, aquela roupa apertada e decotada me incomodando. Levantei e comecei a tirar tudo, desde os sapatos até o vestido, meia calça e calcinha, ficando nua, mas ainda assim me sentindo suja. Não sei como me arrastei para a cama, mas desabei lá, com frio, puxando o edredom sobre meu corpo. Toda força e arrogância que me impulsionavam na vida estavam no chão. Depois de tantos anos sendo autossuficiente, lutando por meu lugar ao sol, conquistando tudo que eu tinha, eu me sentia de novo uma garotinha indefesa e abandonada naquela favela, onde uma parte do que fui ainda continuava, minha inocência e sonhos perdidos, minha realidade dura forjando-me para a vida. Eu era aquilo. Mas embaixo de tudo, o que sobrava de mim era mágoa, dor, medo. Era uma defesa sempre erguida, derrubada pela primeira vez por Jenna. Agora eu queria voltar a ser aquela mulher forte e não conseguia mais. Eu estava literalmente perdida e sozinha. Fechei os olhos, precisando desesperadamente de um conforto e de um alívio, mas o sono não vinha. Nem o conforto ou o alívio. Só culpa e dor. E a certeza de que fiz a maior burrada da minha vida. Pensei em ligar para Jenna no sábado e no domingo, mas não tive coragem. Não foi nem por orgulho, pois a dor era tanta que passaria por cima dele. Foi por medo de rejeição, lembrando sempre de seu olhar com raiva e asco. Tinha certeza de que me desprezaria. E assim resolvi esperar a segunda-feira, quando teríamos que nos encontrar no trabalho. Então eu poderia tentar sondar como ela estava, saber se ainda haveria alguma chance de me redimir. Mal dormi naquela noite. Para disfarçar como estava abatida, me maquiei com cuidado pela manhã e pus um vestido branco justo até os joelhos com corte reto e mangas pretas. Calcei um dos três sapatos que tinha me dado de presente de Natal, o vermelho e lacinho. E fui para agência, nervosa, com dor no estômago

Submissão - JEMMAOnde histórias criam vida. Descubra agora