Capítulo 33.

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Voltamos em carros separados para Base. Eu, Leonardo e Maitê ficamos juntos (mesmo garantindo que eu estava bem, ela não quis sair do meu lado) enquanto Jin e Maurício foram em outro veículo. Apesar de agradecer por estar com pessoas que me traziam conforto, mesmo assim não trocamos nenhuma palavra durante o percurso. Leonardo não tirou os olhos da estrada, Maitê estava no banco de trás ouvindo música e eu fingi dormir pelo caminho inteiro.

Apesar de querer falar com Leonardo, sequer sabia o que dizer a ele. Também era impossível ler sua expressão, apesar de que nas poucas vezes em que nossos olhos se cruzaram, a preocupação era evidente.

Era impossível não pensar que, se fosse Guilherme quem estivesse ali, àquela altura já estaríamos gritando um com o outro. Leonardo sabia controlar melhor os próprios sentimentos do que nós dois.

Talvez por isso o soco tenha sido tão inesperado.

Por um segundo, temi pela vida dele. Jin estava armado e bastaria um impulso para tirar a pistola do coldre e apertar o gatilho, e por tudo o que eu já ouvira sobre ele, acreditava que nunca tinha sido desafiado daquela maneira.

Com a respiração presa na garganta, observei, paralisada, o olhar fulminante que eles trocaram antes de Leonardo dar-lhe as costas e ir em direção à rua. Lentamente, Jin endireitou a coluna e limpou com o polegar o corte recém aberto em seu lábio. Então, olhou para mim e vi em sua expressão que ele sabia o quão longe tinha ido.

Nenhum dos dois trocou qualquer palavra até a hora que decidimos partir, mas pelo menos também não trocaram tiros. Talvez nem Jin fosse louco o bastante para matar alguém tão importante para o grupo quanto Leonardo, mas eu também sabia que aquela agressão só passaria em branco por causa da circunstância.

Chegamos à Base pouco depois da outra dupla, a tempo de ver Hanna correndo até o pátio para receber o pai com um abraço, perguntando o que havia acontecido com seu rosto. Ele garantiu à filha que estava bem e que havia sido apenas uma queda, mas pediu licença para ir ao seu "escritório" descansar.

Leonardo murmurou algo sobre ver se Paulina precisava de ajuda e também se afastou. Senti um vazio imenso pesar em meu coração, preferindo mais uma vez que ele fosse do tipo que preferia resolver as diferenças gritando... pelo menos assim eu saberia o que se passava na sua cabeça.

Mas outra coisa igualmente importante roubou minha atenção quando vi Mei correndo em minha direção, balançando o rabo de um lado para o outro. Alguns passos atrás, Samuel se aproximava com as mãos nos bolsos.

— Oi, meu amor. — Abaixei para recebê-la com um abraço, tentando inútilmente afastar seu focinho da minha cara e diminuir o número de lambidas. Apertei Mei o máximo que pude, como se assim pudesse fazer a tensão e o medo que me acompanharam nos últimos dias se dissiparem um pouco.

— Oi, Rebeca. — Samuel cumprimentou, ao se aproximar. Sua expressão estava séria. — Me desculpa por Leonardo. Ele me pressionou, percebeu que havia algo errado e eu...

— Não se preocupe com isso. — Garanti a ele. Depois de afagar Mei mais um pouco, levantei-me para poder conversar, mas talvez o tivesse feito rápido demais, por uma tontura me assolou. Meu amigo deu um passo à frente e amparou meu peso. — Ah... obrigada.

— Você... está bem? E Maitê? O que houve com seu rosto? — perguntou. — Vocês conseguiram...

Lutei contra as imagens intrusivas que aquela pergunta trazia à minha mente. Ainda era profundamente atordoante não lembrar de nada além de flashbacks que cada vez pareciam arrancar um pedaço novo da minha sanidade.

— Sim. Conseguimos. — Então virei para trás e percebi que Maitê permanecia junto a mim, como uma sombra. — Ela me ajudou, quando voltei.

Sentindo um novo peso no coração, percebi como a expressão de Maria Tereza ainda estava assustada. Quando falei da ajuda, um sorrisinho discreto apareceu, mas logo voltou a me olhar da mesma maneira preocupada.

Em FúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora