Capítulo 41.

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— Achei! — anunciei, em voz alta, depois de finalmente encontrar o folder entre as prateleiras.

A loja de conveniência estava vazia, a não ser por mim, Mei e Samuel. Paramos ali para procurar por um mapa e por alguma coisa que pudéssemos comer, mas a maioria das prateleiras já estava vazia e bagunçada, indicando que o lugar havia sido saqueado anteriormente. De qualquer maneira, pelo menos em uma coisa tivemos sucesso.

Pulei pelo balcão do caixa, evitando a maior parte do vidro quebrado sob as janelas. Mei obedecia ao meu último comando e continuava sentadinha na entrada, para não se machucar. Parei em frente ao expositor central da loja, cuja maior parte dos chocolates já tinha sido levada e empurrei o resto para o chão. Desdobrei o mapa sobre ele enquanto Samuel se aproximava.

Antes que ele pudesse abrir a boca, rondei mais uma vez todas as janelas para me certificar de que não havia ninguém do lado de fora. Já o tinha feito outras vezes, mas qualquer barulho vindo do lado de fora me deixava receosa.

Peguei a pistola do coldre e a destravei, apenas porque me deixava mais tranquila. Não o machado de Leonardo, que usávamos para matar zumbis. A pistola, para matar...

Observei o horizonte bem iluminado pelo sol do meio dia. Estávamos em um posto de beira de estrada e, para qualquer lado que eu olhasse, a maior parte da paisagem era coberta por descampados. Uma plantação de eucaliptos era a única coisa diferente, a mais de um quilômetro de distância. Não havia onde qualquer ameaça se esconder e, se algo se aproximasse, veríamos com muita antecedência.

Um pouco mais aliviada ao constatar que não haviam vivos ou mortos em um raio de quilômetros, guardei a pistola e fui até as geladeiras desligadas para pegar uma garrafa de água, antes de voltar para perto de Samuel.

Seus olhos azuis estavam presos aos meus, sérios.

— Você está tensa — falou, a voz naturalmente baixa. — Muito. Desde que saímos.

Estreitei os olhos para ele. Não fazia nem oito horas que havíamos partido do Hospital e definitivamente a experiência não estava me trazendo muitas coisas positivas. Evitamos usar veículos para sair de Blumenau pelo medo de formar outra horda, então levamos quase duas horas para encontrar um carro funcionando afastado da cidade e retirar gasolina o suficiente dos outros. Já passava do meio dia e nos encontrávamos próximos a Lages, indo em direção ao oeste do estado.

— Ué, faz tempo que não voltávamos assim para as ruas... sem ter uma base e tal. — Dei de ombros, esperando parecer descontraída, e tomei um gole d'água. — Só estou desacostumada.

— Não, você está nervosa — Samuel olhou para a minha mão que segurava a garrafa e percebi que ela tremia. — Desde que saímos daquela casa, depois que seus machucados melhoraram. Você está tensa e extremamente reativa. Não estou te culpando, mas você tem que tomar cuidado para não agir sem pensar. Se achar que não está pronta para seguirmos, podemos...

— Claro que não! — Interrompi, ofendida com aquelas palavras. Como se eu, de todas as pessoas, pudesse não estar "pronta". A expressão de Samuel permaneceu impassível, então me obriguei a abaixar a voz: — É óbvio que estou nervosa, mas isso não muda nada. Você sabe que temos de continuar.

Nos encaramos em silêncio por alguns segundos antes de Samuel desviar o olhar. Mei deixou um grunhido escapar, incomodada com o nosso tom.

— Rebeca, o que eu quero dizer é que não acho que você esteja no melhor estado mental. — Como sempre, sem medo de ser direto. — Na verdade, isso é um fato. Estou fazendo questão de que você esteja ciente, porque você sabe que podemos encontrar ameaças pelo caminho. Dependendo da forma como agirmos, vamos colocar tudo a perder.

Em FúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora