Apesar de tudo, só consegui me tranquilizar quando nos reencontramos com Samuel, Paulina e o resto do grupo no apartamento onde passávamos as noites.
Eles demoraram quase duas horas a mais para chegar. Descobrimos que, apesar de terem lidado com uma parte menor da horda de zumbis, as trincheiras para as quais os atraíram ficaram mais rasas do que deveriam e mais zumbis conseguiram escapar. Então, descobri que Samuel teve a mesma frieza que eu na hora de garantir para o grupo que podiam dar conta, organizando as duplas para lidar com os mortos e seguir em frente com o plano. Jin estava lá para auxiliá-los e, apesar de seu joelho não permitir que tivesse a agilidade para acompanhá-los, era um atirador bom o suficiente para buscar um ponto mais alto e cobrir as duplas Paulina e Samuel e Yuri e Salomão com um fuzil de precisão.
Com todos os mortos dentro das trincheiras pegando fogo, o pé ferido de Samuel doendo um pouco graças ao esforço e a quase morte de Yuri quando foi separado de Salomão e sobrepujado por quatro criaturas — e salvo por quatro disparos certeiros de seu pai; o segundo grupo finalmente veio ao nosso encontro naquele prédio que nos oferecia visão do hospital. Com toda a comoção que causamos nos últimos dias, o grupo de zumbis obstruindo a frente dele também se dissipou.
Maitê nos recebeu com a janta pronta, uma imitação do prato que Paulina havia cozinhado na outra noite. Não pude deixar de lembrar que comemos toda a carne enlatada que havia, então a única maneira dela ter conseguido mais foi indo aos outros apartamentos, mesmo proibida de fazê-lo. Troquei um olhar de poucos amigos com ela, querendo dizer que entendia tudo, e ela me devolveu um sorriso sem graça. Aquela garota tinha mais sorte do que juízo, ou era realmente habilidosa.
No dia seguinte, pudemos apreciar nosso trabalho ao ver de cima as ruas da cidade. Antes, a frente do hospital estava tomada por uma horda tão densa de zumbis que sequer podíamos ver o asfalto sob seus pés. Seria exagero dizer que era seguro enfrentá-los de frente agora, mas a quantidade exorbitante de zumbis havia diminuído significativamente.
O novo problema era que, apesar de termos conseguido diminuir a horda, os zumbis restantes estavam espalhados incoerentemente pelas ruas, com grupos menores para todos os lados. A desvantagem, em comparação a uma horda, era que podiam vir de qualquer direção e tinham mais potencial para nos cercar. Levaríamos dias, talvez semanas, para dar conta do restante.
Claro, isso se já não tivéssemos um plano para lidar com eles.
Tentar resgatar um zumbi era uma das muitas coisas que jamais me imaginei fazendo durante o apocalipse, mas foi isso mesmo o que eu e Samuel fomos incumbidos de realizar. Claro que só aceitamos aquela missão depois de vestidos com a roupa da tropa de choque.
A primeira dificuldade era que havia sido completamente contraintuitivo. Caminhamos por vários minutos pelas ruas da cidade onde ficava a Base até encontrar a primeira criatura, apenas para eu instintivamente acertar seu crânio com um golpe do machado. Samuel ergueu as mãos para mim, em sinal de confusão, e só então me toquei do deslize. Meu rosto esquentou de vergonha e Samuel riu tanto que foi o suficiente para outros zumbis nos encontrarem.
Matamos todos os que não seriam necessários e deixamos apenas o mais lento. Mesmo que estivéssemos completamente cobertos por roupas que seguravam qualquer mordida, não foi menos tenso ter de nos aproximar o suficiente para amarrar o pescoço dele com uma corda, seus dentes insaciáveis sempre tentando nos alcançar.
Enquanto voltávamos para a base num passo irritantemente lento, puxando o zumbi pela ponta da corda, quis fazer uma piada para aliviar o clima, mas não consegui pensar em nada decente.
Para ser sincera, toda a situação já parecia uma piada, e não ficou melhor quando colocamos o zumbi numa bacia com água (previamente salinizada) e Otávio soltou um fio elétrico conectado ao gerador nela. Praticamente todo o nosso grupo estava reunido para ver o espetáculo, pois a discussão sobre zumbis e eletricidade despertou a curiosidade geral.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em Fúria
TerrorLIVRO 3. Mais uma vez o mundo desmorona diante de seus olhos, mas agora Rebeca é uma pessoa diferente. Com um ataque inesperado, um único inimigo é capaz de trazer fim à paz que construiu atrás dos muros do condomínio e separá-la do seu grupo. Dess...