Capítulo 65.

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Pensei em muitas coisas para as quais "festa" poderia ser um eufemismo. Que, assim como Klaus fez, reuniria seus homens para me torturar em um interrogatório. Ou qualquer destino pior para uma mulher.

Mas não, eles realmente estavam dando uma festa e eu fui levada para lá.

Pelo menos, em consequência da interferência daquela mulher. Eu não sabia exatamente o que Lorenzo pretendia fazer comigo se Louise não tivesse aparecido.

— Pelo amor de Deus, Lorenzo. Ela é só uma menina!

— Cala a boca, Louise.

A garota protestou mais uma vez conforme eu era arrastada pelo braço para dentro da casa e continha um grunhido de dor pela brutalidade do aperto dele. Aquele que se chamava Ian entrou em seguida, depois de cumprir a ordem que recebera para amarrar Mei na varanda. Apesar do coração engasgado na garganta, sabia que gritar seria perda de tempo, assim como implorar por qualquer tipo de misericórdia — ninguém poderia me ouvir e, se nem os gritos de uma suposta aliada o comoviam, não seriam os meus que mudariam algo.

Uma das garotas que estava na sala com uma taça de vinho na mão deixou um grito escapar quando fui empurrada para dentro, atraindo suas amigas que estavam na cozinha.

O que se seguiu foi uma pequena comoção conforme Lorenzo me jogava no chão no centro da sala e o resto deles tentava acalmar as garotas. Alguém baixou a música, mas continuava com copos de bebida nas mãos. Louise era a única que mantinha a calma e, apesar de nunca falar nada, o olhar de repreensão não abandonava Lorenzo.

— Meu Deus, ela tá bem?! — Uma garota que eu não tinha visto até então perguntou. Seus cabelos cacheados estavam presos em um rabo de cavalo e a pele marrom sem qualquer linha de expressão sugeria que tinha a idade próxima à minha.

— E a cachorra? — Dominic perguntou, ignorando-a.

— As duas estão bem. A cachorra tá lá fora e Lorenzo só amarrou a garota. — Ian explicou.

— Cara... eu não acredito. Não era para ninguém saber que a gente tava aqui... — O garoto mais novo não parecia capaz de conter a ansiedade, balbuciando sem parar enquanto passava os dedos pelos cabelos escuros.

Continuei quieta, observando-os. Os que estavam mais próximos a mim eram Lorenzo e Ian, e não aparentavam o mesmo nervosismo com a situação. O resto dos convidados da festa que eu estraguei estavam espalhados pela sala de estar, nos mais variados graus de estresse; Louise tentava acalmar as duas amigas, a ruiva e a morena alta, com uma expressão de tédio para seus choros exagerados; a menina de rabo-de-cavalo conversava com Miguel e, além de serem os mais novos, percebi que também eram um casal; Dominic coçava a cabeça, incomodado e sem tirar os olhos de Lorenzo, como se esperasse por alguma ordem.

Segui seus olhos até o líder do grupo, que estava de cabeça baixa e em silêncio. Como se em resposta a mais um balbuciar nervoso do garoto mais novo, tirou um cigarro do bolso da calça e o levou aos lábios. Ian, que parecia agir como seu braço direito, ofereceu um isqueiro para ele.

— Calem a boca todos vocês — Lorenzo mandou, sem alterar o tom de voz, e foi obedecido. — Miguel, para com essa merda. Não precisa se preocupar, ninguém vai saber de nada disso.

Tranquei a respiração quando ele se aproximou, seus coturnos fazendo um barulho pesado contra o piso de madeira. Chegou quase ao meu lado e se agachou, de maneira que pudesse me olhar nos olhos.

— Podem ficar tranquilos. Tenho certeza que a Rebeca quer ser a nossa amiga — falou, o tom quase entediado enquanto dava dois tapas no meu ombro. — Ela nem está tentando gritar. Você só estava no lugar errado na hora errada, não é mesmo?

Em FúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora