Alicera ♔

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Eu ainda não queria aceitar ter que voltar pra rocinha.

Alicera- Mais tia, podemos agir como se nada tivesse acontecendo, e podemos muito bem ir embora pra outro estado. Eu estava vendo, eu posso fazer residência em outro estado. Não tem problema nenhum, posso resolver de longe essa documentação.

_ Minha filha, o que você não entendeu? Não sabemos nada a respeito desse indivíduo, não sabemos nada o que se passa na cabeça dele. O que ele está fazendo, ele está nos enganando um ano alicera, um ano. Debaixo dos nossos narizes, entrou na nossa casa, comeu da nossa comida. Participou dos melhores momentos da nossas vidas. Ele sabe tudo. Não podemos arriscar desse louco ter alguém nos vigiando e não deixar sairmos do país, do estado.

Alicera - mais você não acha, que se ele tivesse nos vigiando teria agido quando o falcão estava aqui?

_ Alicera, Claide tem razão. Esse cara roubou um ano de nossas vidas, nos iludindo todos. Não vamos arriscar. Você sabe que eu sou a pessoa mais prejudicada na história em relação a voltar pro morro. Poderia simplesmente virar as costas pra vocês agora, voltar pra Brasília, e fingir que nada aconteceu. Afinal, não tenho nada a perder. Mais eu vou ficar, vou te ajudar em tudo tudo. Por enquanto, vamos da o braço a torcer, e vamos voltar.

Eu encaro meu rosto abatido, cheio de orelhas, parecendo um panda. Já havia chorado tanto, que nem lágrimas eu tinha mais. Agora não era só eu que iria voltar a aquele lugar, mais uma outra pessoa me preocupa, levar minha filha para aquele lugar. Eu sonhei, batalhei tanto pra voltar pra lá. E aceitar que um filho da puta desgraçado estragasse minha vida.
Eu estava perdida, não podia ir atrás dos meu direito, como uma denuncia, porquê afinal iriam me taxar como mulher de traficante, e também não sei se tem envolvimento de demais policiais.
Porquê meu Deus, porque eu tenho que sofrer assim? Não mereço ser feliz?

{...}

Falcão fez nossa escolta, o mesmo disse que fazia questão de nos deixar na Rocinha, e ter certeza que estaríamos bem instaladas.
Desde de cedo que o "Maurício" me mandava mensagem, me ligou, e eu apenas o ignorei, e me limitei a dizer. Não estou bem, assim que o mau estar passar lhe ligo. Ele todo falso, nojento falando que me ama, ai que ódio desse escroto nojento.

....

Assim que subimos as ruas da Rocinha, alguns curiosos encaravam a evoque preta com vidros fumê. Povo encarava mesmo sem disfarçar, bando de Zé povinho.
Porra, tava praticamente quase tudo igual, não mudou quase nada. Que saudades que eu tava daqui, não vou mentir. A rua me aproximava mais ainda da minha antiga casa, e sem me ver já tô chorando novamente. Lembranças maravilhosas me invadem a mente, e lembro da minha mãe.

Alínea estava com um sorriso maior que o do coringa, não parava de falar. Aurora encarava tudo curiosa. Ela ficava alternando entre olhar as coisas, ou limpar minhas lágrimas e abraçar meu pescoço.

Ele para o carro e por sorte não tem praticamente ninguém na rua. Aproveito e desço indo praticamente correndo com a aurora nos braços. Óbvio que todos iriam saber que eu voltei, mais por enquanto eu quero que ninguém saiba.
Minha casinha está igual, parece que foi muito bem cuidada, só as plantinhas que não estavam como antes, haviam bem poucas por aqui.

Uso a chave que eu sempre deixava dentro do vaso e abro as portas. Os móveis estavam todos cobertos com alguns lençóis brancos, o local estava limpo, não tinha nada de poeira.

_ Vou indo lá resolver umas coisas com o pessoal. Qualquer coisa, só me passar um rádio Claide.

O tal falcão fala saindo de casa nos deixando sozinhas.

_ Alí, posso ver meu quarto?

Alínea pergunta toda empolgada.

Alicera- Claro que sim maninha.

Ela corre enquanto grito pra ela ter cuidado, para não esbarrar nas coisas. Ela segue puxando aurora com ela!

_ Eu não acreditei quando me falaram que uma certa moça desbocada havia voltado.

Ouço a voz de melissa que entrou sem pedir permissão mesmo. Ela abre um sorriso e os braços me estendendo. Eu caminho a passos largos e me abraço a ela!

_ Que saudades dessas maravilhosas.

Ela fala olhando pra mim, e indo até Claide.

_ Onde está alínea?

_ Tiaaa

Alínea corre gritando e se jogando em cima da melissa. E logo atrás vem minha patinha correndo. Ela para no meio da sala e encara a alínea nos braços da melissa.

_ Quem é essa moça linda?

Melissa pergunta colocando alínea de lado e segurando na cintura. Aurora vem até mim se agarrando a minhas pernas.

_ não acredito, você casou, ela é sua?

Balanço a cabeça confirmando e pegando Aurora do chão e enquanto ela enfia o rosto no meu pescoço. Não vou dizer ainda de quem ela é filha, ninguém precisa saber. Ainda mais que aurora é tão pequena, as vezes nem parece ter quase quatro anos. Apesar de ser gordinha, é uma anã.

...

_ Eu simplesmente estou morta morta, cara se eu levantar daqui pra ir ali na porta, capaz de eu morrer de tão cansada.

Luana fala fazendo drama. Havíamos dado uma geral aqui em casa. Melissa quem manteve a casa em organização, agradeci demais, ela não quis nada em troca.
Tiramos os lençóis, coloquei na máquina e já pus uns que tinha no guarda roupa, estavam com cheiro de roupa guardada a muito tempo. Organizei o quarto da mamãe pra mim e a aurora, Tia Claide já avisou que vai ficar na casa dela. Que vem me ajudar, ajudar em que se vou ser como uma prisioneira por aqui. Meu Deus, e meu trabalho, não posso perder minha residência. Luana e alínea ficariam no outro quarto, que era meu. Alínea não desgruda de Luana por nada desse mundo.

_ Eu tô com fome mana!

Alínea fala fazendo biquinho.

_ Mamãe, quelo Mêr.

Aurora fala que quer comer também, agora Deu bem aí. Não tem nada nos armários, preciso fazer compras aqui pra casa.

Alicera- Mana, as crianças querem comer, o que eu faço?

_ Vamos lá na dona Luzia, comer aquela comida caseira gostosa dela. E sem falar que é duas ruas daqui, a gente vai rapidinho. Depois vamos no mercado.

Alicera - Não sei mana. Não queria sair na rua por enquanto. Quero evitar contato.

_ Vamos comer cerejinha.

_ Vamos logo cara, você não vai viver o tempo que ficar aqui enfurnada não. Da a volta por cima garota. Eu em.

Alínea se emburra logo... Me dou por vencida e sigo pra trocar de roupa, já que as bonitinhas tinham banhado.

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora