Redenção

Alicera ♔

Estava vivendo uma dupla mudança. Interna e externa. Sem saber exatamente como era respirar nessa fase frágil, em nenhuma das duas lá estava eu, mergulhada e abraçada em um novo mundo. Hoje, três meses depois, passei a aceitar melhor o momento delicado em que vivemos. Na vida sempre temos que ver o copo meio cheio, né?! Para ser sincera, abraçar o minha pequena facilita ver o copo bem cheio.

É desafiador viver o puerpério? Ou seria melhor chamá-lo de Powerperio? Quem é essa nova Alicera? É um misto de emoções, Sinto que é um momento de muito (re)conhecimento. Será que parir é (re)nascer?

Está sendo fácil? Não. Acordar todas as madrugadas por alguém que não cansa de te sugar, que você não passa de uma vaca leiteira pra ela. Que sua vida é simplesmente, totalmente dedicado a essa pessoa. É eu chegar no Banheiro sentar na privada e ouvir o esguelar da pessoa.
Sem falar que fico tão cansada as vezes que acabo esquecendo que tenho duas crianças que dependem de mim. Alínea tá um ciúme e um grude só, não quer que tia Claide nem Luana ajude em nada, sempre tá me pedindo as coisas. No início do meu resguardo foi difícil ela entender, apesar da idade dela. Mais assim mesmo tento todos os dias fazer com que ela entenda.
Não sei o que seria de mim, sem minha tia e sem minha prima.

Aproveitei que a pequena dormiu e corri pro banheiro e fui tomar um banho e lavar meus cabelos... Sai do banheiro renovada, vesti uma roupa levinha e dei uma conferida na bebê e sai do quarto indo em procura das outras pessoas dessa casa.

Alicera- Preciso de sol, ver gente nova, e ficar umas três horas seguidas sem ouvir um ruído se quer de choro de bebê.

Falo assim que ponho os pés na cozinha e tia Claide estava fazendo algo no fogão e Luana lavando uma louça.

_ Eu já disse, deixa ela comigo e vai sair um pouco. Olha esses olhos, parece um panda, cabelos cheio de friz, pontas duplas, unhas amareladas. Meu pai, nem quando eu fui mãe eu fiquei tão acabada.

Tia Claide resolve me dá aquele UP pra animar.

Alicera- Muito obrigado tia, a Sra. Não sabe o quanto me deixou lá em cima.

_ Conte comigo sempre.

Me sirvo de uma bela xícara de café com leite, faço dois mistos e me sento de frente pra tv, ligo e passava um noticiário a respeito de um assalto a banco aqui no rio. Novidades nenhuma, sempre tem esse tipo de coisas acontecendo. Assim que vou trocar de canal, para pôr na Netflix, vejo eles divulgando as fotos dos presos durante o assalto. Assim que vejo a foto dele ali, eu acabo deixando a xícara cair e fazer maior sujeira no carpete.

Alicera- Tia, Luana, corram aqui.

Grito sem me tocar que qualquer barulho acorda a Aurora. Aumento o volume da TV.

_ Hoje por volta das três da manhã foi efetuado a prisão de um dos maiores traficantes do país. Diego Costa Souza, vulgo DC. Comandante do tráfico na Rocinha, líder da equipe que praticou um dos maiores assaltos a banco no estado. O mesmo foi autuado em flagrante quando tentava despistar a polícia que estava prestes a realizar a prisão de um de seus comparsas.
O mesmo foi preso e levado ao distrito polícia sobre forte proteção policial. Segundo informações o mesmo tem várias passagens pela a polícia entre elas Art 121, Art 157 e
Art 33. Aguardando mais informações sobre a prisão do mesmo.

Desligo a tv simplesmente sentindo minhas pernas tremendo.

_ Caralho, eu não acredito que o Diego tem sido tão burro a ponto de ser pego. Cara nunca que ele sai de lá de dentro, acabar apodrecendo, ou morto lá dentro.

Tia Claide fala como se fosse íntima o suficientes do mesmo. Quer dizer, eles tinham uma certa amizade, se é que pode dizer assim. Mais nada que eu não saiba.
Luana não esboça nenhuma reação, a mesma simplesmente fica quieta olhando pra tv.
Ouço um choro manhoso vindo do quarto, me levanto e sigo em direção ao choro.

Encaro a pequenina mamar, os olhos vidrados aos meus, me faziam lembrar dele. Olhos verdes, intenso, personalidade forte.
Apesar de tudo que nos aconteceu por conta do meu tio, a punição ridícula dele, não sei algo dentro de mim ficou mexido pelo o que acabo de saber. E quando dou por mim sinto uma lágrima rolar em meu rosto.
Limpo e balanço a cabeça de leve tirando tais pensamento da mente.

Alicera- Aí filha, queria tanto poder te dá uma família perfeita, um pai que te defendesse, que fosse seu herói, não seu bandido. Desculpa filha, falhei em te dá o seu primeiro príncipe encantado.

Acabo chorando baixinho por me sentir tão péssima mãe, e não ter escolhido alguém melhor pra ser o pai da minha filha.

{...}

A semana passou voando como as outras tem passado. Não soube mais nada a respeito do outro, tentei ver os jornais, mais não falavam praticamente mais nada a respeito, só vagas coisas comparações algo do tipo mais nada focado a ele.
Tia Claide tem saído com frequência, recebendo algumas ligações. Não dei muita importância, ela tem a vida dela. Estava ansiosa para voltar a trabalhar, as meninas da loja, a Rachel tem sido tão gentis comigo, que eu me surpreendi. Mais Aurora ainda é muito pequenininha, não tenho como voltar agora.

A faculdade tenho acompanhado como dá, os professores tem sido uns amores, zury e Arthur também tem sido uns anjos na minha vida para que eu não perca nada.
Pretendo voltar até mês que vem pra faculdade, mais que nunca preciso terminar e me formar. Tenho uma filha e uma irmã que dependem de mim, não posso viver o resto da vida sendo empregada, me limitando a um salário que podem me por na rua a qualquer momento. Preciso de instabilidade, segurança para meu futuro e das minhas pequenas.