Desde o fim do último ano letivo tenho passado a maioria das minhas noites em claro. Dia após dia eu martelo em minha cabeça todos os acontecimentos dos últimos dois meses e quanto mais eu penso, mais eu tento me convencer inutilmente de que fui jogada em uma realidade paralela na qual toda a minha vida desmoronou de uma hora para a outra.
A única certeza que tenho desde então é que eu posso contar constantemente com esse sentimento controverso de confusão, uma vez que ainda não descobri como seguir em frente. Me sinto até culpada quando penso sobre isso, porque uma parte de mim acredita que eu perderia o que restou da memória de Cedrico caso eu apenas volte a viver normalmente, como se a morte dele fosse apenas mais um evento chato e corriqueiro, como se eu o matasse pela segunda vez.
Levanto porque eu sei vai ser mais uma daquelas noites em que não vou conseguir pregar os olhos. Só tenho conseguido dormir quando meu corpo se entrega à exaustão. Prendo meus cabelos platinados com pontas arroxeadas de qualquer jeito enquanto observo a minha colega de quarto, Pansy Parkinson, adormecida. Invejo, queria muito que eu pudesse fechar os olhos com a mesma serenidade.
Não éramos próximas apesar de dividirmos o mesmo quarto há cinco anos, mas antes de dormir ela ao menos tentou me oferecer o mínimo do apoio para o caso de eu querer conversar. Assim como muitas das pessoas com quem esbarrei em Hogwarts, mas por mais que eu seja grata por isso, o manto de autoproteção em que eu me enrolei me impede de corresponder às expectativas.
Decido andar sem rumo pelo castelo. Eu preciso respirar, estar dentro desse dormitório faz meu coração ficar apertado e o ar me faltar. Eu sei que não devo estar fora da cama às 2:00, mas retornar a esse lugar foi um alívio e ao mesmo tempo mais difícil do que eu pensava. Não digo só pela quantidade de vezes em que menti dizendo que estou bem ou pela briga no jantar entre a Alya e a Bulstrode que, sinceramente, me vi na obrigação de tentar apartar, porque é apenas o que Cedrico faria, mas existir entre essas paredes de pedra dói, tal como doeu todos esses sessenta dias de férias.
Sendo Ric o mais velho, eu nunca havia experimentado vivenciar um dia sequer sem ele. Nós éramos muito próximos e nossa família, apesar de pequena, foi muito unida. Nunca nos faltou amor, carinho e respeito. Meu irmão era um pedaço de mim, meu confidente, meu segundo pai e meu porto seguro. Nenhum problema era grande demais porque os resolvíamos juntos. Conectados, bastava um olhar para entendermos o que se passava na cabeça um do outro. A risada e a alegria eram garantidas com nossas próprias piadas internas e nossos pais queriam arrancar os cabelos quando nos protegíamos nas poucas discussões familiares. "Não sabemos em que momento ensinamos vocês a fazer complô contra nós", eles diziam. Mas era assim: leve, simples e fácil. Sempre foi.
Em Hogwarts não era diferente. Não foi uma questão para ele ou para meus pais eu ter sido selecionada para a Sonserina, diferente do histórico familiar lufano. Ainda assim, dificilmente se via um sem o outro.
Por sermos irmãos, fiquei conhecida por todos. A popularidade que já era alta só cresceu após ele se tornar campeão de Hogwarts. Porra. Só Deus sabe o quanto eu implorei para ele não colocar o nome naquele estúpido cálice. Se ele não tivesse colocado, estaria aqui. Comigo. Se eu tivesse conseguido convencê-lo de que a coragem era para idiotas imprudentes ou ao menos tido êxito em burlar a faixa etária para colocar o meu nome no cálice, quem sabe ele ainda estivesse vivo.
Poderia ter sido eu. Voldemort poderia ter me levado no lugar dele. É uma pena, ele era bom demais e me atrevo a dizer que o mundo não era digno de sua presença.
Depois de sua morte eu perdi o meu chão, a minha família e luto para não perder o que sobrou da minha sanidade. Meus pais, por outro lado, se perderam tanto que me vi sozinha e desamparada, em razão de terem incentivado meu irmão a entrar nesse torneio idiota.
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Rewrite: Quando os planetas se alinham (Livro 01 - RU)
Fantasy[DRACO MALFOY][THEODORE NOTT][VIOLET DIGGORY][ALYA MALFOY] A má notícia é que a vida não é justa. A boa notícia, é que não é justa para ninguém. Quando a realidade parece ser amarga demais para suportar, Draco e Alya Malfoy, Violet Diggory e Theodor...