Capítulo 01 - Alya Narcisa Malfoy POV

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Observo as rodas do trem correrem sobre os trilhos a toda velocidade, e é inevitável não imaginar como seria repousar o pescoço no metal gélido. A luz dos faróis, a buzina estridente soando ao fundo, alertando sua vinda. Tudo muito distante, quase lúdico, como em um sonho.

Minha cabeça confusa e perturbada arquiteta a cena detalhadamente. Quase posso sentir o cheiro dos gramados escoceses, úmidos pela chuva, e me pergunto se assim, a dor passaria. Se o sono eterno seria minha única escapatória.

As gotas da garoa recente que molharam o vidro da janela - da qual minha testa somente desencostou quando tive que respirar fundo e reunir forças para vestir o uniforme da Sonserina -, tornam tudo mais melancólico.

E assim se inicia meu quinto ano em Hogwarts.

A julgar pelos olhares sobre mim desde o momento em que pisei na plataforma, será um ano difícil. Não ligo para nenhum deles, mas agradeceria se parassem de me olhar como se eu fosse desmoronar, ou simplesmente como uma boa nova fofoca.

Podem falar. Não ligo para os comentários. Não a essa altura. Mas desabar, isso jamais. Na presença de qualquer um que seja. Para ser sincera, nem ao menos sozinha consigo chorar. As lágrimas parecem estar presas. Não saem, e se saírem, juro que arranco os próprios olhos com um garfo.

Temo não conseguir mais para-las se um dia me permitir sentir o luto, a ausência. Então aí sim a ideia do pescoço na linha do trem será uma alternativa ao invés de uma fantasia mórbida.

Lembro-me do verão, onde passei a maior parte do tempo aprendendo algo ou aprimorando minhas habilidades. Passei inúmeras tardes na biblioteca com minha mãe, Narcisa, assistindo suas mãos magras e ágeis, tão similares as minhas, dedilharem as teclas do piano. Vi Draco, meu irmão mais novo, me lançar um olhar preocupado mais vezes que gostaria do outro lado da sala, segurando um de seus livros de poções.

Somente estive sozinha no momento de ir me deitar, mas tentei ocupar todas as horas do meu dia com atividades, quem sabe assim, isso acabaria preenchendo o vazio do meu peito.

Estou sentada em uma cabine, só, esperando o trem esvaziar para assim pegar a carruagem até o castelo. Recusei a me sentar junto de meu irmão e meus amigos, pois tinha que me preparar para esse momento em que eu desceria do trem e não encontraria Cedrico. Ele iria se formar no final do semestre passado, então passei a viagem toda me enganando de que eu não o veria somente por esse motivo, de que ele está bem, feliz e iniciando sua carreira.

Isso, Alya. Se engane, se ilusione. Não é saudável a negação, tenho consciência disso, apesar de não parecer, mas é melhor do que me deixar abater.

Giro meu bracelete ao redor do pulso, um hábito recém adquirido, e acompanho a saída dos alunos, encolhida no canto do banco, rezando para que ninguém note minha presença. Espero até que todos estejam do lado fora.

Após ver que mais ninguém passou pela cabine, tempo o suficiente para me fazer refletir se devo sair ou apenas esperar o trem voltar a Londres, me levanto de uma vez, alisando as vestes pretas, e coloco a cabeça para fora. Olho os dois lados do corredor para garantir que estou sozinha, e por fim, me forço a andar.

Ao longe, avisto o Professor Flitwick ajeitando três estudantes na última carruagem.

— Ah! Senhorita Malfoy. Já estava preocupado. Vamos, vamos. Só falta você. – Diz quando me aproximo.

Não faço questão de responder. Subo na carruagem e me deparo com meus primos, Ashe Rosier e Pegasus Lestrange. Puta merda.

— Prima! – Exclama Peg, ao me ver. – Tá sumida, loirinha.

Rewrite: Quando os planetas se alinham (Livro 01 - RU)Onde histórias criam vida. Descubra agora