Capítulo 16 - Alya Narcisa Malfoy POV

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E eu, burra pensando que me reaproximar de Violet seria uma ideia a se ponderar, mas não seria nada bom para o que estou fazendo. Ou tentando.

Sei que fui dura na escolha de palavras. Doeu tanto em mim quanto sei que doeu nela – ainda mais quando ele foi mencionado. Joguei baixo, porém ela também tentou atingir meu ponto mais vulnerável. Quase me deixei ser atingida por suas facas afiadas. Mais um golpe e não sei se poderia desviar.

Por meia fração de segundo um pensamento intruso, a vozinha chata no fundo da minha cabeça, a que tento sufocar, calar, dizia que era o certo. Que devia libertar a prisioneira tristeza, contudo, graças aos céus – uma luz enviada de Salazar – me lembrei de onde vim, quem sou e o que aprendi em situações como esta, quando seu inimigo está prestes a puxar seu tapete com você e sua dignidade juntos. Vesti minha máscara como se fosse simples e fácil, e me fui. "A indiferença é sempre sua melhor carta", como diz meus pais.

A apenas alguns dias atrás jurei que estava bem, melhorando, meu plano enfim estava dando certo, mas ela tinha que estragar. Não quero escrever coisa alguma, não quero nem estar lá, quanto mais participar disso. Gostaria de me manter em total ignorância sobre o assunto.

Me perguntava se Violet me odiava por tê-la ignorado e se ela odiava. Agora, talvez, tenha feito por merecer tamanho desprezo. Dói pensar que a amizade verdadeira que construímos aos trancos e barrancos - admito - esteja se transformando nisso, em apenas memórias de um passado bonito, e rancor e mágoa no presente sombrio.

É uma guerra, percebi. Estou em uma violenta guerra. O adversário intitulado de "Luto", ordena: não quero reféns, matem todos!

Corro almejando a tão sonhada liberdade, fugindo de suas garras que já raspam em minha pele. Posso sentir seu hálito quente em minha nuca. O fedor do sangue de suas vítimas sai da boca imunda, ondulando até meu nariz. Um passo em falso e sou a próxima. Mas minhas pernas já estão cansadas, não sei até quanto mais posso correr.

Diversas vezes me pergunto se seria tão ruim desistir e logo descubro que sim, é muito pior.

Analiso as palavras que coloquei para fora no pergaminho. A escrita é outra forma que encontrei para me ajudar a visualizar melhor meus sentimentos. Não sou boa em sentir demais, uma hora pode transbordar e é melhor que seja para o papel.

Essa mania de escrever às vezes me atrapalha, me dispersa das aulas, do mundo. Reprimo o quanto posso, mas é mais forte do que eu.

Leio e releio, tentando compreender melhor meu coração. Decifrar seus códigos é uma tarefa árdua até mesmo para mim, sua dona. Lembro de alguém que tinha todas as chaves, as tomou para si e fez morada aqui dentro. Com a delicadeza que só ele tem.

Largo a pena à mesa e começo a puxar meus dedos, a velha mania que não me abandona. Para ser exata, o mal hábito consiste em repuxar e beliscar a pele. Dói, às vezes machuco de verdade. Ficam roxos e em dias muito ruins, mordo até sangrar.

Vivo com eles enfaixados, com curativos no nós dos dedos. Quando comecei a namorar Cedrico, a mania se tornou menos frequente e mais branda de forma natural. Com sua ausência, ela ressurgiu.

Franzo o cenho ao ver a vermelhidão, sei que logo ficará arroxeada. Aperto e solto diversas vezes, observando o sangue se acumular e se expandir repetidamente, hipnotizada.

Poderia muito bem curar os machucados sem problemas, mas confesso que gosto de sentir a dor ao tocar os instrumentos na aula de música, ao pegar na pena para escrever ou só de segurar os talheres no jantar. Me lembra de manter a postura. Um lembrete tóxico e masoquista.

Rewrite: Quando os planetas se alinham (Livro 01 - RU)Onde histórias criam vida. Descubra agora