Fragmentos Da Verdade (Sally Face)

48.Três de Nós

Thalia

Eu não faço ideia de que horas são, sei que é madrugada, estou com frio e com fome, sentada em uma cadeira desconfortável na delegacia de Nockfell, pois meu namorado cometeu um assassinato em massa.

Eu não consigo processar todas as informações e acontecimentos, eu sinto vontade de vomitar toda vez que penso nisso outra vez, me sinto enjoada. Ainda não chorei, é como se eu não tivesse forças nem pra isso, ou melhor, estou em tanto choque que mal consigo chorar, apenas me mantenho em silencio, atônita. Posso ver Ashley no meu campo de visão, talvez esteja tentando falar comigo, mas eu não estou realmente ouvindo.

Acho que ela desistiu de tentar falar comigo, não escuto mais nada, nem a voz abafada dela.

Minha visão apenas se enfoca no corredor onde estavam interrogando Sal, ele estava la a mais de algumas horas. Nenhuma noticia.

Eu quero ver o Sally, não o Sal Fisher que acaba de cometer um crime hediondo, eu quero o Sally, o meu Sally, aquele que eu conheço tão bem, aquele a quem meu coração pertence.

Eu quero acordar desse pesadelo com os doces beijinhos dele, quero que me abrace e diga que tudo esta bem, que todos estão bem, e que foi apenas mais um de meus pesadelos horríveis. Quero acordar na casa da árvore, de volta a adolescência onde meus problemas eram menores e a vida era menos sofrida.

Quero acordar e ver Larry bem, saudável e vivendo com seu sorriso de dentes separados que me alegrava tanto, todo dia.

Meu estomago se embrulha outra vez.

Isso não é um pesadelo, e a realidade tangível ao meu redor apenas prova a minha lucidez.

Eu quero vomitar meus intestinos e gritar até não ter mais voz.

Enquanto estou na espera tortuosa, a única coisa que consigo realmente prestar atenção é a minha respiração, que já deixou de se automática.

E então, sinto que meus anos de espera cessaram quando vi a porta de corredor se abrindo. De lá saíram os dois policiais de mais cedo, e o próprio Sal, algemado e contido pelos homens armados.

Me levantei imediatamente, mas ao notar meu movimento um dos policiais guiou Sal para outro corredor com mais dois policiais em volta, como se Sal fosse alguém de alto risco.

A única coisa que pude ver antes de eles o levarem para longe, foram seus olhos azuis por de traz da mascara, que me encararam por pouquíssimo tempo antes de virarem bruscamente e evitarem meu rosto.

Isso doeu.

Sal foi levado por três policiais sem protestar. O policial que ficou veio em nossa direção. Ashley se levantou confusa.

-Vocês vieram por Sal Fish -O policial começou mas foi interrompido por Ashley.

-Sal Fisher, isso- Ashley confirmou

-...Certo... Fisher está nesse instante sendo encaminhado para o presídio de Nockfell, onde será mantido preso até o dia do seu julgamento- O oficial explicou com seu rosto franzido em uma cara de arrogância.

-O que?!- Eu e Ashley exclamamos juntas

-Sal Fisher foi praticamente pego em flagrante senhoras, e será encaminhado para o presídio. Ele se manteve em silêncio e não colaborou durante - Ele disse como se estivesse explicando a situação para crianças de cinco anos- Durante esse tempo até então indeterminado, Sal Fisher terá visitas de um psicólogo forense para ser avaliado psicologicamente.

-Eu quero vê-lo!- Falei alterando meu tom

-Isso está fora de cogitação- O policial disse, rígido -Ele ja está a caminho do presídio, não há nada que podemos fazer a esse ponto.