34. Abra os Olhos

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Thalia, 1995

   Vesti meu pijama após um banho relaxante na água quente ao fim de um ótimo dia. Eu e Sally resolvemos tirar um dia só nosso, para conversar e namorar como bem merecíamos depois de ficar se enfiando em cada pista de possíveis mistérios de Nockfell com Todd e Larry.
  Penteei rapidamente meus cabelos pretos, agora mais longos começando a alcançar meus ombros, devido ao tempo que os deixei crescer e não os cortei, isso indica que eu estava bem, finalmente bem. Minha vida estava estável, tenho o melhor namorado de todos, amigos incríveis e nada de muito absurdo está acontecendo para nos tirar a paz.

  Mas isso era bom? Talvez algo se esconde nessa calmaria densa e serena. Faz tanto tempo que não tenho uma visão, será que eu já vi tudo que eu tinha para ver? Os fantasmas já me mostraram tudo e agora estão me esperando juntar as peças?
  Tantas coisas que eu vi ainda me tiram o sono e fazem meu cérebro formigar de curiosidade. Muitas pontas soltas foram deixadas no caminho até aqui, todas elas iniciadas pelas visões que não me davam resposta alguma.
  Como a criança usada no ritual para se comunicar com outro mundo, Anne a irmã falecida de Megan, e a carta recebida por Stacy escrita por um autor ou autora anônimo. Isso mexe com a minha mente e me corrói de dentro para fora, tenho certeza de que essas coisas são importantes, mas não consigo interliga-las, são como peças soltas nesse quebra cabeça.

  Além do mais, meus poderes também possuem uma fonte misteriosa, não sei de onde vem ou porque eu os tenho, mas fazem parte de mim. A única pessoa que possivelmente tinha a resposta ou sabia algo sobre o assunto, era Rosenberg, mas ela desapareceu sem deixar rastros.

-Lia?- Pulei de susto ao ser arrancada de minhas especulações pelo meu pai, que estava me encarando da porta.

-Oi?

-Ta tudo bem? Você esta parada encarando seu reflexo a um bom tempo- Ele brincou

-Eu só to pensando...o de sempre- Respondi e ele veio ate mim

-Aconteceu algo hoje?

-Não não, eu só estou pensativa, nada de mais

-Pensativa, hm?- Ele murmurou- Você se parece muito comigo, sabia?

-É, eu acho que sim- Soltei uma risada fraca, enquanto meu pai permaneceu serio, agora ele parecia hipnotizado pelo nosso reflexo no espelho, parecia que olhava para algo através dele.

-Somos parecidos tanto no pensamento quanto na aparência, olha só...- Ele disse e eu brinquei fazendo uma careta de reprovação- Você cresceu tanto Thalia...

Permaneci calada, apenas ouvindo.

-Mas no fundo, ainda é minha menina, e tem muitas coisas que eu quero que saiba- Ele posicionou suas mão em meus ombros carinhosamente- Thalia, você tem um futuro brilhante, sabia?

-Brilhante? Será? -Questionei e senti suas digitais pressionarem levemente minha pele, acho que ele nem sequer notou o gesto.

-Ah sim, confia em mim filha- Ele sorriu com luz em seus olhos- Sempre, sempre, sempre confie em mim, eu quero o seu bem.

-Semper confido te

-Agora, vai dormir, já- Ele deu um sorriso e soltou meus ombros-Ja passou da hora de dormir

-Eu tenho dezenove anos!

-Isso não é desculpa, boa noite- Por fim, desligou a luz e fechou a porta.

  Esperei alguns minutos até ter a certeza de que meu pai estava mergulhado em seu sono profundo, para que assim eu tivesse a liberdade de colocar meu mais novo plano em pratica.
  Acendi a luz novamente, e comecei a andar pelo meu quarto, pensando em como executar o que tinha em mente.

Fragmentos Da Verdade (Sally Face)Onde histórias criam vida. Descubra agora